Pablo Milanés vê como algo natural pensar em Cuba sem Fidel

Com mais de 40 anos de carreira, o cantor e compositor cubano Pablo Milanés, autor de canções como Yolanda, afirmou em entrevista ao jornal Página 12, da Argentina, que é natural que existam especulações sobre o futuro da Ilha. Para ele,

Milanés é um defensor incondicional da Revolução Cubana. Ele está na Argentina para uma série de shows em cidades como Buenos Aires e Córdoba e, na entrevista, além de falar sobre aspectos políticos de seu país, também deixou claro que não gosta da idéia de viver de seus antigos sucessos. “Tenho a necessidade de renovar constantemente meu repertório”, disse.



Confira abaixo trechos da entrevista:



Após 40 anos de carreira, que sonhos você ainda conserva?
Sigo animado a sempre fazer coisas novas, coisas que me surpreendam e que não me façam dormir nos louros já conquistados. Quero poder seguir cantando minhas canções, mas principalmente aquelas que sigo fazendo atualmente. Não posso pensar que tudo está feito. Para mim ainda, por sorte, cada disco meu é uma surpresa que dói em mim mesmo.



Nos últimos tempos, a música cubana que mais fez sucesso no mercado mundial é o bolero, feito por nomes como Bebo Valdés, Diego El Cigala e o disco Lágrimas Negras. Que lhe parece esses trabalhos? Crê que representa a música de seu país?
Claro, como não? Creio que qualquer trabalho que se faça resgatando o bolero cubano serve para dignificá-lo e o ressuscita. Isso tem um grande valor para mim. Nos anos 80 eu iniciei um solitário movimento de resgate da música popular tradicional, cantei com músicos como Compay Segundo, fiz todos esses boleros que depois vieram a ser novamente gravados. Mas não tive meios de dar continuidade a esse trabalho. No entanto, me sinto um pioneiro e me alegro cada vez que escuto que se faz algo novo com a música tradicional cubana.



Como Cuba vive hoje com o afastamento de Fidel? Como se percebe nas ruas o ânimo das pessoas?
É algo muito normal, algo que todos assumimos como foi possível. Quando Fidel ficou doente, é claro que houve grande ansiedade, intriga e temores. E, de algum modo, foi o que me levou a escrever uma nota a Fidel. Creio que de alguma maneira essa carta expressava o que sentia muita gente em Cuba: aquele era um momento que pedia nossa unidade para salvaguardar a dignidade cubana ante uma provocação, porque inevitavelmente surgiram manifestações contra nós nos EUA. Mas logo fomos nos tranqüilizando e comprovamos que Fidel estava bem.



E o problema da sucessão de Fidel é algo presente? É algo que se discute?
Evidentemente é um tema, pois Raúl tem 75 anos e Fidel tem 80. Claro que haverá sucessores, mas ainda não sabemos por onde irá essa história. Eu não sei, realmente não posso dizer quem o sucederá. Mas, lamentavelmente, a enfermidade de Fidel não serviu para lançar uma discussão pública sobre sua sucessão. E esse é um tema que cedo ou tarde teremos que assumi.