Após cinco reuniões com Lula, Tuma já fala em deixar DEM (ex-PFL)

O senador Romeu Tuma (DEM-SP) reuniu-se ontem (23) –pela quinta-vez, segundo ele– com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Incomodado com a falta de espaço dentro do próprio partido, saiu do encontro disposto a aderir à base governi

O senador Romeu Tuma (DEM-SP) afirmou ontem (23), após encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que “toda vez que o presidente me convidar, eu aceito com muito prazer, porque temos uma amizade respeitosa desde 1979, quando passamos momentos difíceis da História contemporânea”.


 


Tuma refere-se ao período em que era diretor-geral do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) –órgão de repressão da ditadura, onde forma mortos e torturados dezenas de militantes de esquerda. Em 1979, Lula ficou preso por 31 dias no Dops ao liderar greves dos metalúrgicos na região do ABC paulista. “O presidente tem simpatia por mim pelo tratamento que recebeu quando ficou preso no Dops”, afirmou Romeu Tuma, que mais tarde chegou à diretoria-geral da Polícia Federal, durante o governo do ex-presidente José Sarney (1985-1990).


 


Tuma foi o terceiro senador da oposição com quem Lula se reuniu nos últimos dias, depois de Tasso Jereissati (PSDB-CE) e de Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA). E informou que a conversa não teve um tom político, mas sim um tom de reencontro: “Não há ódio, não há constrangimento em alguém pertencer a um partido da oposição com respeito e alguém que é seu amigo há muitos anos, que hoje está em outra posição e é presidente de todos os brasileiros”.


 


Saída pelo centro


 


O senador anunciou que pretende deixar seu atual partido, o DEM (ex-PFL) e explicou que está incomodado com a falta de espaço dentro da legenda e reclamou da influência do governador José Serra (PSDB). “Eu não sou líder de nada. Em São Paulo, estou relegado ao segundo plano do partido, o Kassab não dá a menor pelota para mim e é muito submisso ao Serra”, afirmou o senador. “Estou estudando trocar de partido e já tenho proposta do PTB e do PMDB”, acrescentou.


 


A proposta mais abrangente é do PTB, que ofereceu a disputa pela prefeitura em 2008 e a cadeira do Senado em 2010. O presidente do diretório estadual do PMDB, Orestes Quércia, disse que concorda com a prefeitura, mas afirma ser complicado garantir a vaga no Senado, segundo Tuma.


 


Tuma acusou o DEM de São Paulo de prejudicar a eleição de seu filho, Robson Tuma, que concorreu à Câmara. ” Meu filho foi derrotado em São Paulo por falta de apoio do partido”, acusou.


 


O senador declarou que, mesmo que permaneça na oposição, não agirá de forma odiosa. “Oposição odiosa eu não vou participar”, afirmou.


 


De acordo com Tuma, ele teria conversado inclusive com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a possiblidade de se filiar ao PSDB. “O FHC disse que assinava minha ficha, mas afirmou que tem muito cacique tucano em São Paulo.”


 


O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), afirmou que o partido tem “carinho e admiração” por Tuma, mas espera que o senador compreenda que Lula só o chamou para conversar porque precisa de seu apoio na votação da emenda constitucional da CPMF. 


 


“Conversa com o Lula não serve para nada, só para tomar cafezinho. Ele quer agradar o senador por causa da CPMF. Depois, ele volta a tratar os senadores como nos últimos quatro anos. O senador sabe como o presidente Lula trabalha: ele não honra os compromisso feitos”, afirmou.


 


Maia disse que conversou com Tuma no final de semana, que ele fez considerações a respeito do partido, mas não no tom adotado depois da conversa com Lula. Para o presidente do DEM, não é bom para Tuma, nem para o partido, que ele fale mal de Kassab.


 


CPI


 


Indagado se a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo foi tema discutido no encontro, Romeu Tuma respondeu que não e afirmou que o ideal, na avaliação dele, era que o Congresso instalasse uma CPI Mista para investigar os problemas no sistema aéreo brasileiro.


 


Segundo ele, um possível colegiado na Câmara e outro no Senado, investigando o mesmo assunto, poderia atrapalhar e confundir o procedimentos dos trabalhos.


 


“Se o Tribunal de Contas da União enviar documentos, para quem remeterá? Quando for chamar uma testemunha, quem vai chamar, a Câmara ou o Senado? Eu tinha proposto a instalação de uma CPI mista”.


 


Antes de deixar o gabinete do presidente, o senador contou à imprensa que deixou uma dica com Lula, a quem disse: “Presidente, não se deixe levar pelos governadores, que vivem implorando o seu apoio para botar um biombo da responsabilidade constitucional que eles têm com a segurança pública”.


 


Da redação,
com agências