Movimento gay protesta contra homofobia de Bento XVI

O Grupo Gay da Bahia (GGB) vai fazer um protesto nesta quarta-feira (9), às 16h30, em frente à Catedral de Salvador, na Bahia. O grupo vai distribuir e queimar documentos da igreja que criticam os homossexuais, além de imagens do papa Bento XVI, que chega

Cerqueira anuncia que o protesto não será apenas contra a discriminação de gays e lésbicas por parte da Igreja Católica, mas também contra outras regras, reiteradas pelo atual papa, como a condenação do divórcio, do uso de da camisinha e da pílula anticoncepcional. “É uma crítica à postura e a favor da liberdade”, afirma Cerqueira.



Em frente à Catedral, Igreja torturava gays



A Catedral de Salvador foi escolhida  como local do protesto porque, segundo o grupo, foi palco de torturas e assassinatos de homossexuais julgados e condenados pela Igreja, como “hereges”, durante o período colonial. Para o GGP, as declarações recentes do papa contra os homossexuais trazem esta herança. “Seus argumentos causam um enorme constrangimento. Existem muitos católicos que têm filhos homossexuais, e homossexuais que são católicos”, diz o presidente da entidade, Marcelo Cerqueira.



Ele ressalta que será um manifesto pacífico e que o grupo não é contra os católicos, mas contra o papel “conservador” representado pelo papa, “que semeia a discórdia e é culpado por muitos infectados pelo vírus HIV e por muita gravidez indesejada”, acusa.



Assassinatos com requintes



Marcelo Cerqueira destaca que a postura da igreja “aumenta o ódio e a homofobia”. Segundo ele, a cada dois dias, um homossexual é assinado no Brasil, muitas vezes, “com requintes de crueldade, muitas facadas ou tiros”. O GGB denuncia que ocorrem no país mais de cem homicídios de homossexuais por ano.  A contagem é feita por meio de clippings sobre matérias que saem na imprensa. O país não possui registros oficiais sobre as mortes. Por isso, o presidente acredita que possa haver um número bem maior. “Só os casos mais chocantes acabam aparecendo nos jornais.”



Para o GGB, não importa se o protesto terá ou não a adesão de muitas pessoas. “Que sejam dez ou quinze, o importante é a abertura do diálogo que queremos fazer”, explica Marcelo Cerqueira. Esta não é a primeira vez que o GGB vai protestar contra a homofobia do Vaticano. Nas duas visitas do antecessor João Paulo II, o grupo também se mobilizou e foi às ruas protestar.



No site da organização na internet, encontra-se o documento “O que todo cristão deve saber sobre homossexualidade”, que traz dez pontos com citações bíblicas e dados históricos que mostram, segundo o GGP, que a homossexualidade é tão antiga quanto os registros históricos. Segundo o texto, por exemplo, no antigo Oriente, a homossexualidade foi “muito” praticada. Entre os Hititas, povo vizinho e inimigo de Israel, havia mesmo uma lei autorizando o casamento entre homens 1.400 anos antes de Cristo”.



Fundado em 1980, o Grupo Gay da Bahia proclama ser a mais antiga associação de defesa dos direitos humanos dos homossexuais no Brasil. Desde 1988, o GGP é membro da Comissão Nacional de aids do ministério da Saúde e, desde 1995, faz parte da Comissão Internacional de Direitos Humanos de Gays e Lésbicas.



Recife malhou papa como Judas



Em Pernambuco os protestos já tiveram início. Na última segunda-feira, no bairro da Boa Vista em Recife, cerca de 200 pessoas participaram de uma “malhação de Judas” atrasada, que o Movimento Leões do Norte faz todos os anos na época da Semana Santa.



No lugar de Judas, estava um boneco em tamanho natural de Bento XVI. Em outros anos, o grupo foi contra outras personalidades, como Severino Cavalcanti, então presidente da Câmara.



Na próximna sexta-feira (11), a capital pernambucana será palco de outro protesto, em frente à Basílica do Carmo, às 12 horas. Além dos Leões do Norte, também participarão o Fórum LGBT de Pernambuco, Católicas pelo Direito de Decidir e Associação das Profissionais do Sexo de Pernambuco.



Não há no entanto a expectativa de um grande comparecimento.  Weligton Medeiros, coordenador do Fórum LGBT de Pernambuco, lamenta que “os movimentos sociais estão muito retraídos, calados, ninguém está se pronunciando a respeito de nada. Eles têm medo da Igreja”, critica.



Para os ativistas desses movimentos, os comentários do papa acabam instigando a violência contra homossexuais, lésbicas e travestis. Uma pesquisa divulgada em abril mostrou que 70% das pessoas desses grupos relataram ter sido vítimas de discriminação e que 59% já sofreram agressões.



Vigília em SP, desenho no RS



Em São Paulo, haverá uma “vigília” com velas na praça da República, no centro, na quarta-feira, às 19h, para lembrar “os nossos mortos pela homofobia”, disse Beto de Jesus, da Ilga (International Lesbian and Gay Association).



“Sobre a quantidade de crimes contra homossexuais, costumo dizer que a Igreja tem um pouco desse sangue nas mãos, porque alimenta a homofobia”, disse Beto.



Em Porto Alegre, a ONG Somos criou um desenho, do artista visual Sandro Ka, que pede a Nossa Senhora Aparecida o fim da homofobia. A Somos está disponibilizando a arte em seu site para grupos independentes usarem. O site informa que as atividades que marcam a vinda do papa ao Brasil ocorrerão “conforme deliberação da ABGLT, visando ampliar a defesa do Estado laico”.



“Muitas pessoas vão colocar em camisetas e usá-las nas missas de domingo em suas cidades”, disse Alexandre Boer, coordenador do Somos, sobre a bem-humorada criação de Ka. A ONG também irá distribuir na cidade 10 mil santinhos com o desenho da santa a partir de domingo.



Em Belo Horizonte, o grupo Cellos irá distribuir 5 mil camisinhas e uma carta que denuncia a homofobia da igreja, no dia 13, na praça Sete, no centro da cidade.



Da redação, com agências