Acampados há 3 meses aguardam a Justiça sobre Terreno da UNE

A UNE e a Ubes completaram em maio mais de três meses de acampamento armado no terreno da Praia do Flamengo, número 132, no Rio de Janeiro. O espaço, “ao lado do Boteco da Praia”, como muitos cariocas identificam o local, tornou-se referência entre os mor

Neste mês, diversas atividades fazem parte do cardápio, incluindo teatro, música, circo, cinema, poesia, samba e “caldinho de feijão”. Isso mesmo. Aos domingo o cavaquinho chora, a roda se abre, e o pandeiro come solto, tudo acompanhado do tradicional prato da culinária boêmia.


 


A movimentação cultural que por lá acontece é realizada pelo Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA), o projeto cultural da UNE, com apoio da União Estadual dos Estudantes (UEE-RJ), Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas (Ames-RJ) e DCE da UFRJ.


 


O lugar, mesmo precário em sua estrutura, também já funciona como sede das entidades estudantis. Recentemente, o CUCA realizou no terreno o seu 7º Seminário Nacional. Em abril, a UNE levou para lá o show do músico Carlos Lyra, encerrando o seu 55º Congresso Nacional de Entidades Gerais (Coneg). Já a UBES fez questão de iniciar dali a sua jornada pelo Brasil com o lançamento da “Caravana em defesa do Passe Estudantil”.


 


Enquanto a justiça não bate o martelo em relação à posse do terreno, que estava invadido por um estacionamento clandestino, artistas, personalidades políticas e intelectuais continuam enviando mensagens de apoio à histórica resistência dos estudantes. Diariamente, o acampamento recebe visitas de alunos universitários e do ensino médio.


 


“As dificuldades são superadas com a boa convivência entre todos e a certeza de que estamos aqui, resistindo, porque temos a certeza de que esta retomada tem significado especial para o movimento estudantil. É uma forma que temos de continuar a luta daqueles que tombaram no embate contra a ditadura e pensar nas gerações futuras. Aqui, enterramos de vez o regime militar. Aqui, consolidamos de vez o nome da UNE na construção da democracia no país”, diz o Coordenador-geral do CUCA, Tiago Alves, que está acampado desde o primeiro dia.


 


Programação valoriza cultura popular


 


Ao longo de todo este tempo, o local já ganhou a simpatia dos moradores cariocas, que decretaram de vez a volta para a casa da UNE e da UBES. Um bom exemplo foi o ótimo público presente às apresentações da peça “Os Saltimbancos” (foto), produzida e apresentada pelos estudantes acampados. Toda a programação, que é gratuita, segundo os organizadores, tem objetivo de “valorizar a cultura popular, reafirmando a identidade brasileira”.


 


O cinema marca presença todas as terças-feiras, com o CUCA Cine promovendo exibições gratuitas de clássicos nacionais e internacionais. A cada mês é escolhido um tema. Em maio, o “Trabalho” está em destaque na tela, com “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin; Jaguar, de Jean Rouch; Eles não usam Black Tie, de Leon Hirzsman; e Fitzcarraldo, de Werner Herzog.


 


Neste mês, haverá ainda quatro oficinas, em dias e horários alternados: Jogos teatrais (segunda e quarta, 19h), Expressão corporal e Malabares (quinta, 17h), Oficina de arte (segunda e quinta, 7h) e uma introdução à linguagem audiovisual, com o núcleo de cinema do CUCA (terça, quinta e sábado, 17h).


 


A poesia, assim como os filmes, tem espaço cativo dentro da programação. As noites das quintas-feiras, às 20h, são reservadas para o sarau, que a cada dia abordará um tema diferente.


 


Encontro CUCA-Rio


 


Na última segunda-feira de maio, dia 28, o CUCA-Rio convida todos os universitários para um encontro aberto, às 14h. A idéia é reunir os jovens artistas ou quem se interesse em colaborar com as atividades do terreno.


 


Segundo o Coordenador do núcleo carioca, Felipe Reddó, a idéia é apresentar o projeto do Circuito aos estudantes e fazer um chamativo para uma maior participação. “Queremos que novas pessoas se integrem ao CUCA. Esse encontro servirá para explicarmos as nossas idéias de constituição da rede estudantil e fazer o convite para quem quiser participar”, disse.


 


Reddó explica que a programação tem atraído cada vez mais pessoas ao terreno. “Com isso, acabamos divulgamos o nosso projeto e assim vamos fortalecendo o nosso diálogo com a comunidade”, comemora.


 


História


 


No terreno da Praia do Flamengo funcionou a sede da UNE de 1942 até 1º de abril de 1964, quando os militares invadiram o local e tocaram fogo em tudo. Foi lá que Vianinha, Ferreira Gullar, Cacá Diegues, junto de outros artistas e intelectuais, fundaram o CPC da UNE, referência para o movimento estudantil. Depois, em 1980, o prédio foi demolido e mais tarde o terreno invadido por um estacionamento clandestino.


 


Após longo impasse judicial, que continua sem uma decisão, os estudantes decidiram ocupar a área no dia 1º de fevereiro de 2007. Uma caminhada pelas ruas do Rio, após a 5ª Bienal de Cultura, marcou a derrubada do portão e o início do acampamento. Já visitaram o local diversas autoridades políticas, como os ministros Tarso Genro (Justiça) e Orlando Silva (Esportes); e personalidades artísticas como Vera Holtz, Carlos Lyra, Paulo Betti e Marcelo Yuka. O escritor Arthur Poerner, autor do clásicco livro “Poder Jovem”, a bíblia do movimento estudantil, acompanhado do cineasta Vladmir Carvalho, também levou a sua mensagem de apoio aos estudantes.


 


Serviço:


 


Ocupação Cultural da Praia do Flamengo, 132 – RJ
Teatro, música, circo, cinema, poesia, samba
Entrada Franca


 


Email: [email protected]
Site: www.une.org.br/acampamento
Fone: 21 2205.5306