Reforma política é ''a mãe de todas as reformas'', avalia Renildo.

O líder do PCdoB, deputado Renildo Calheiros (PE), destaca que a reforma política é vista como ''a mãe de todas as reformas''. E ele tem demonstrado uma preocupação de ''pai'' com o assunto. Na última sexta-feira (4), ocupou o espaço do grande expedien

Na tarde do mesmo dia, dispensou quase duas horas de entrevista exclusiva ao Vermelho para novamente falar sobre o assunto. Ele elenca cerca de 25 itens dentro da reforma política que serão assuntos de discussão e polêmica durante a votação da matéria na Casa. Mas seleciona o financiamento público de campanha como um dos temas mais importantes.



''Se nós tivermos o financiamento público de campanha combinado com a lista preordenada, nós estaremos fazendo uma grande revolução no sistema eleitoral e já a curto e médio prazo, o nosso sistema político e eleitoral vai estar muito melhor'', garante Calheiros.



Ganhando força



Ao longo dos anos – de 2003 para cá, quando o assunto tomou corpo – alguns temas avançaram. Ele se recorda de que quando começou a discutir o financiamento público de campanha, ''nós éramos minoria na Casa, hoje a defesa do financiamento público reúne mais de 70% do apoio do Congresso Nacional. A tese foi, ao longo do ano, ganhando muita força''.



Renildo enfatiza que ''estamos trabalhando para não reproduzir os mesmos vícios do sistema eleitoral atual – alto grau de corrupção, eleições muitos caras e forte influência do poder econômico -, que torna o processo de representação política mais deficiente e menos democrático''.



O líder do PCdoB repete, a cada discussão, que ''a reforma é toda polêmica. Nenhum partido tem posição consensual sobre a reforma toda''. Portanto, para ele, ''se for aguardar consenso ela nunca vai existir. Tem que construir sólida maioria para garantir a aprovação no plenário para as questões consideradas fundamentais''.



Ele defende o projeto que recebeu o nome do deputado Ronaldo Caiado por que foi ele o relator da proposta analisada, discutida e debatida exaustivamente ao longo dos anos de 2003 e 2004. É esse o projeto que será reapresentado, ainda este mês, logo que for destrancada a pauta da Câmara dos Deputados.



Renildo explica que ''o projeto tem uma espinha dorsal e parte da idéia de uma reforma radical, mas sem viés autoritário'', diz, acrescentando que ''sempre se falava em medidas restritivas – cláusulas de barreiras, proibição disso e daquilo, este projeto procura abordar questões mais profundas partindo de uma visão democrática''. Ele admite que a matéria ainda exige ajustes, mas ''no geral, o projeto faz abordagem boa do que pretendemos mudar'', afirmou.



Aspectos negativos



Para defender o financiamento público de campanha, Renildo parte de uma avaliação do sistema atual – de financiamento privado. Segundo ele, isso traz vários problemas. E enumera quatro deles.



''O financiamento privado é a janela por onde a corrupção penetra na administração pública'', diz, destacando que ''manter o financiamento privado é estar sempre com a janela aberta''.



O financiamento privado impede que a campanha seja democrática – uns disputam com muito dinheiro e outros com pouco dinheiro. Para Renildo, ''só quem tem fortes ligações com o empresariado tem facilidade de obter recursos ou quem tem recursos próprios e coloca seus recursos na campanha, disputando o mesmo eleitor e o mesmo voto, criando um desequilíbrio, que não resguarda igualdade, o que impede de considerar essa eleição democrática'', avalia.



Para o deputado comunista, existe ainda outro fator considerado negativo no financiamento privado. ''O forte financiamento do setor privado corre o risco de misturar interesse público e privado'', diz, alertando que ''o melhor é preservar esses interesses bem separados''.



Outro aspecto destacado pelo parlamentar é que as campanhas são caras – tudo é caro, TV e rádio, material gráfico, logística, comitê, gente, carro e combustível, tudo é caro. ''E, na eleição do salve-se quem puder, o candidato tem que fazer de tudo para garimpar votos – todos se esforçam para ter todos os tipos de instrumentos – o que puxa os gastos para cima'', afirma Renildo.



Democrático, barato e transparente



O financiamento público, segundo Renildo, reúne diversas vantagens, que representam o oposto do que existe no sistema atual. Vai tornar a disputa mais próxima uma da outra, por que todos disporão da mesma quantidade de recursos; vai conter gastos; e facilitar a fiscalização da campanha, por que será conhecido de todos quanto os candidatos vão dispor para fazer a campanha.



''A sociedade, o Ministério Público e até o concorrente vai saber o quanto você pode gastar'', diz Renildo, lembrando ainda que ''a prestação de contas tem que ser feita durante o processo de campanha, não depois da campanha; com isso, vai ser possível perceber se tem caixa dois ou não''.



Para Renildo, que analisa positivamente a receptividade do tema junto aos congressistas, ''quem defende financiamento privado é quem não quer conter gastos com campanha e nem transparência e não quer separar o público do privado; ou quem, em geral, dispõe de uma fortuna para botar na eleição ou está ligado a grupos que financiam campanha''.



De Brasília
Márcia Xavier