ONU expõe protecionismo a que agricultores são submetidos

Estudos elaborados pelo Fundo Comum de Produtos de Base (CFC, sigla em inglês para Common Fund for Commodities) mostram que os produtores agrícolas recebem no máximo 10% dos preços finais dos seus produtos.

Segundo a entidade, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), eles competem com os produtores de países industrializados, que contam com subsídios de seus governos. “São impostas tarifas pesadas e barreiras sanitárias para as importações, com evidente protecionismo”, diz o presidente do CFC, embaixador Ali Mchumo.



Desde segunda (7) até sexta-feira (11), representantes de mais de 100 países participam do encontro promovido pelo fundo para discutir temas como a valorização do lucro no mercado internacional, o desenvolvimento de condições técnicas e a maior concessão de crédito a produtores agrícolas dos países pobres.



De acordo com o economista do CFC Hardi Vieira, a maioria dos países que produzem commodities (café, amendoim, arroz, milhor, por exemplo) vende mais de 50% desses produtos ao exterior. Em alguns locais, esse índice pode chegar a 80%. Dos 114 países em desenvolvimento, acrescenta Vieira, 95 têm nas commodities a base de sua economia.



Queda constante
Na avaliação do embaixador Mchumo, os lucros com o aumento das exportações deveriam “ajudar os países em desenvolvimento a saírem da pobreza”. Ele pondera que isso não acontece porque, de certo modo, os lucros não são direcionados a esses países. “Quando chegam no exterior, esses produtos básicos são transformados de maneira mais sofisticada, embalados de forma mais atraente e recebem uma marca comercial. Enquanto isso, o lucro dos produtores em todo o mundo tem decaído substancialmente ano após ano”.



Em relação aos subsídios agrícolas, Vieira diz que países industrializados chegam a investir até US$ 1 bilhão em favor dos produtores locais. “Isso distorce o mercado internacional e impede a ascenção das commodities dos países mais pobres”.



O economista defende que o assunto deve ser discutido, principalmente, na Organização Mundial do Comércio (OMC). “As pessoas nem querem falar nisso, mas temos que romper essa barreira de silêncio, porque para produtores agrícolas europeus é muito conveniente conviver com os mecanismos protecionistas de seus países”, observou, acrescentando que a maioria dos prejudicados está na África, na região do Oceano Pacífico e do Caribe.