Adolescentes negras ficam mães cada vez mais cedo

Pesquisas mostram aumento de gravidez na adolescência entre jovens negras. Aos 19 anos, Mailane Lima Barbosa segura o segundo filho, Victor. Ela mora na Estrutural, bairro com a maior população negra do DF, em termos proporcionais 
Brasília – O P

No bairro do Distrito Federal com a maior população negra em termos proporcionais (66% dos moradores), as tendências já são realidade. Segundo a médica responsável pelo único posto de saúde da Estrutural, Vânia Lúcia da Silva Mattos, de todos os registros de adolescentes grávidas entre 10 e 18 anos feitos pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, 30% residem por lá.


 


Em um barracão de madeirite, os profissionais de saúde desdobram-se para orientar estas meninas durante o pré-natal. “Nós fazemos todos os exames, inclusive o de aids”, conta a médica. Para orientar as adolescentes a prevenirem-se de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez, noções básicas de higiene e várias campanhas como de vacinações e exames de DST's, por exemplo, Vânia Lúcia recebe a ajuda das duas rádios comunitárias locais.


 


“Eles (profissionais do rádio) nos dão uma importante ajuda neste aspecto. Eu dou sempre entrevistas lá e as rádios veiculam durante todo o tempo orientações às meninas. Esta é a melhor comunidade para se trabalhar a questão da saúde pública.”


 


Moradora da Estrutural, Mailane Lima Barbosa, 19 anos, tem dois filhos, Taíse e Vítor. A menina divide um barraco de madeirite com o companheiro Fábio Júnior Fernandes de Freitas, 23 anos, que trabalha num lixão próximo. A renda mensal deles é de R$ 700 o que, segundo ela, “dá para passar bem”. Ela cursa o segundo ano do ensino médio e sonha em ser bióloga. Hoje, trabalha como frentista para ajudar a família. “Eu já tenho meus filho e isso está bom para mim”, diz Mailane, que sente saudades de sair com as amiga para as festas.


 


Jaqueline Alves Ribeiro, 17 anos, ainda não é mãe, mas conhece muitas amigas que abandonaram os estudos por causa da maternidade precoce. Foi ela quem levou a reportagem da Agência Brasil até a casa da Mailane. Ela frequenta há sete anos o grupo de escoteiros do bairro e a catequese da igreja católica local. No terceiro ano do ensino médio, seu sonho é formar-se em biologia “para ajudar a estudar melhor os problemas do aquecimento global do planeta”.


 


” A gente prepara um material e sai de casa em casa fazendo a divulgações de ações que cada um pode tomar para ajudar a não poluir o ambiente onde vivem, entregamos folhetos para que cada um faça a sua parte e melhore a situação do mundo e da Estrutural que é lugar onde vivemos. Aqui tem muito lixo, o pessoal queima muito cobre a lata velha o que deixa uma fumaça imensa e polui o organismo da gente”, conta Jaqueline.


 


Trabalhando há dois meses como estagiária na Associação Viver, que desenvolve uma série de ações sociais junto a comunidade, Jaqueline tem uma renda mensal de R$ 250. O salário deste mês já está comprometido: comprou em várias parcelas um forno microondas para sua mãe. Ela não levará o presente, entretanto, à festa da igreja já preparada para as mães. “Vou deixar para entregar em casa mesmo, porque se eu entregar na igreja, que é um pouquinho longe, quem sabe ela fica sem no meio do caminho”, disse Jaqueline, com um sorriso entre a timidez e a banalização da violência local.