Metalúrgicos de Caxias querem 12% de reajuste

A luta continua: agora é o dissídio! Este foi o sentido da assembléia geral da categoria, realizada no sábado (12 ), que definiu a pauta de reivindicações da campanha salarial 2007. O índice ficou definido em 12% e, além dele, prioridade para a ampliação

“Neste ano vamos fazer uma campanha pela valorização do trabalho,” enfatizou o presidente Assis Melo. Segundo ele, para além da luta pela reposição salarial e aumento real, a categoria deverá lutar por questões como a redução da jornada, que será tratada como prioridade neste dissídio. Outros pontos também devem ser muito valorizados como a garantia de melhores condições de trabalho, transporte e creche. “Para conquistarmos isso tudo, ou em parte, será necessário muita mobilização e organização da categoria”, reforçou o presidente.


 


Melo destacou que a campanha de dissídio deve trabalhar com a idéia de continuidade da mobilização, pois os metalúrgicos demonstraram exemplo de unidade e dignidade nos protestos contra a Emenda 3. “A mobilização feita no início do mês de abril mostra que se a categoria tiver unidade e disposição para lutar, podemos ir muito além do que imaginamos”.


 


Para o presidente da Federação dos Metalúrgicos no RS, Milton Viário, presente na assembléia, a mobilização da categoria deverá fazer a diferença neste momento. “Nós metalúrgicos, já mostramos que mobilizados podemos mudar o rumo das coisas. E vocês aqui em Caxias do Sul serão os responsáveis por lutar junto com o sindicato para que este dissídio se transforme em uma grande jornada de luta pela valorização do trabalho e, principalmente, dos trabalhadores”, resumiu o sindicalista.


 


Este foi o primeiro de uma seqüência de encontros com a categoria para definir as ações de negociação e mobilização no dissídio. Nos próximos dias o sindicato deverá apresentar à patronal a pauta aprovada na assembléia.


 


Lucros em alta


 


Os balanços que as empresas caxienses têm apresentado, bem como as aquisições que têm feito para ampliação de patrimônio, revelam que o setor vai muito bem neste ano. Muitas chegaram a anunciar mais investimentos em automação e outras medidas para acompanhar a demanda elevada de produção. Outro exemplo de como vai o setor :  as montadoras de automóveis anunciaram ano histórico e registraram o melhor trimestre em vendas da história, projetando vendas de 2,21 milhões de veículos neste ano, ou seja, um crescimento de 14,5% em relação a 2006. A produção também será a maior dos últimos 50 anos no setor de autoveículos, que inclui, além de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Os dados são da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea).


 


Já no setor de pesados (caminhões, máquinas agrícolas) a demora é de 90 dias para entrega de encomendas, devido a demanda aquecida pelo crescimento do agronegócio.


 


Principais reivindicações dos metalúrgicos


Reajuste salarial de 12%
Redução da jornada de trabalho, sem redução de salários
Insalubridade
Liberdade de organização sindical – através de eleições de delegados sindicais conforme a CLT
Diminuição da rotatividade e elevação do piso da categoria para R$ 1 mil
Padronização do desconto de transporte em 3% do piso categoria
Auxílio creche
Unificação da data-base para 1º setembro


 



Por que a redução da jornada?


A luta pela redução da jornada de trabalho é bandeira histórica dos trabalhadores em todo o mundo. Em meados do século XIX, os trabalhadores chegavam a cumprir 18 horas diárias e somente sua mobilização garantiu que estas jornadas se reduzissem. Um dos marcos desta luta é também a origem da comemoração do Dia do Trabalhador em 1º de maio: manifestações, nos Estados Unidos, em 1886, que pleiteavam a redução da jornada de 16 para 8 horas terminaram com seis trabalhadores mortos, oito presos e cinco deles condenados posteriormente à forca. Quatro anos depois, o Congresso Norte Americano determinou a redução da jornada para 8 horas diárias.


 


Veja alguns dados: 


 


No Brasil, a primeira grande greve pela redução da jornada ocorreu em 1907:
conseguindo que jornadas de 12 a 15 horas diárias fossem reduzidas para 10 e até mesmo 8 horas.


 


A luta continuou e em 1934, a Constituição determinou a jornada de 8 horas diárias e 48 horas semanais, mas com a possibilidade de serem feitas duas horas extras diárias.


 


Meio século depois, na Constituição de 1988, a jornada foi reduzida para 44 horas semanais. As horas extras continuam permitidas e conseguiram evitar a geração de muitos postos de trabalho.


 


Se reduzirmos a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais é possível gerar quase 2 milhões de postos de trabalho (Dados elaborados pela CUT).


 


A redução da jornada, nestes moldes, implicaria uma redução de 9,09% no tempo de trabalho total. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2000, a participação dos salários no custo das indústrias era de 22%, o que significa que a redução na jornada proposta representaria um aumento no custo total de 1,99%. Considerando que a redução da jornada possibilita também que os trabalhadores sejam mais produtivos, o aumento dos custos pode, em pouco tempo, ser absorvido.


 



Mais qualidade de vida para o trabalhador e sua família e combate ao desemprego


 


Seja no final do século XIX, ao longo do século XX ou agora, a questão da redução da jornada de trabalho esta associada principalmente às melhores condições de vida dos trabalhadores que teriam mais tempo para se dedicar à família, para estudar ou para o lazer. Além disso, atualmente esta reivindicação relaciona-se diretamente com o combate ao desemprego.


 


Para Melo, a possibilidade de abertura de 2 milhões de postos de trabalho no mercado formal  “embora não resolva toda a necessidade de geração de empregos num país do porte do Brasil, é um argumento bastante considerável, inclusive porque, uma conseqüência natural da redução da jornada é o aumento da produtividade no trabalho”. E acrescenta “a redução da jornada não se resume a um instrumento de combate ao desemprego, mas contém a perspectiva de melhoria da qualidade de vida da classe trabalhadora. Portanto, é importante que a redução da jornada de trabalho integre-se a um conjunto de medidas que contemple a elevação do poder de compra dos salários e a melhor distribuição da renda e da riqueza do país: a valorização do trabalho”, cocluiu.


 


De Caxias do Sul
Clomar Porto
Com informações Diva Rodrigues