O desastre palestino: os estragos de um boicote criminoso

O boicote criminoso imposto ao povo palestino pelos Estados Unidos e Europa, bloqueio destinado a afogar esse povo e a dobrá-lo às exigências de Israel, dura há mais de um ano. Por Silvia Cattori, para o site Rebelión.

A vida dos habitantes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza já era espantosamente ruim antes do bloqueio. Mas o estrangulamento econômico, indigno e desumano, fez a vida ali ficar ainda pior.


 


Assim, Estados democráticos que pretendem defender a liberdade e os direitos humanos privaram um povo de todos os meios de subsistência, que há muito estavam afetados por muitos anos de privatização sob a ocupação. Isso é um crime. É inadmissível, deve acabar.


 


Os resultados, nessa região, são implacáveis, aterradores.


 


Esse bloqueio destruiu toda a sociedade, agravou uma situação que era de extrema gravidade. É uma catástrofe humana programada.


 


Por meio desse boicote, tão injusto como ilegal, o mundo reduziu deliberadamente ao estado de escravidão milhões de palestinos, pela única razão de eles terem eleito as autoridades que consideravam as mais aptas a servir a seus interesses.


 


Agora, por vezes, se durante a escravidão os escravizados podiam até escapar de seus verdugos, os palestinos, que vivem encerrados pela ocupação militar em uma imensa prisão, não podem ir a parte alguma.


 


E assim, hoje em dia, há centenas de milhares de crianças que estão desnutridas. Há mães no limite de seus recursos, obrigadas hoje a entregarem-se à prostituição para alimentar seus filhos. Há pais que, depois de vender tudo que possuiam, são atirados à loucura e ao desespero, humilhados por não poderem oferecer uma vida decente a suas famílias, feridos em sua dignidade humana.


 


Não é raro observar homens desocupados, vagando pelas ruas com o olhar perdido e falando sozinhos.


 


“Que pai, que mãe, pode suportar ver seus filhos definharem sem recursos? Para nossa sociedade isso é terrível. Fomos empurrados para os extremos. A prostituição não é algo normal em Gaza. As pessoas vêem isso como uma grande ofensa, como uma grande humilhação. É uma ferida terrível para uma sociedade como a nossa, na qual a mulher está protegida e na qual a prostituição era inexistente, afirma uma palestina não identificada.


 


Nosso coração fica destroçado ao saber que o bloqueio econômico do mundo Ocidental deu o empurrão final para que algumas dessas mães orgulhosas, resistentes, fossem parar na degradação. Essas mulheres tiveram de renunciar à única coisa que lhes restou, a dignidade, para salvar a única coisa que importava a elas, a sobrevivência dos filhos.


 


Diante dessa imensa tragédia, onde está o movimento de solidariedade que deveria defender os palestinos vítimas da opressão israelense? Onde está a sua voz?


 


Para esses movimentos que, desgraçadamente apoiaram os acordos de Oslo e para os quais na Palestina se aproveitaram amplamente dele, em destrimento de seu povo, não seria, enfim, o momento de aprender a cruel lição dos fatos?


 


Por que os responsáveis de muitas associações, que se apresentam como defensoras dos palestinos, como defensores da Justiça, não convocam um boicote em massa contra Israel? Porque, pelo contrário, se dedicam a neutralizar a voz de quem, há já muito pede que o Estado de apartheid de Israel seja tratado como foi — com êxito — a África do Sul?


 


Por que não patrocinam uma vasta campanha com o objetivo de pressionar os governos ocidentais para que terminem com o imoral boicote financeiro e político aos membros do Hamas, eleitos democraticamente, boicote que sanciona igualmente todos os palestinos?


 


A resposta a essas perguntas não seria que a voz de muitas associações de solidariedade está sob a influência das orientações de um “campo da paz” isralenese, mais preocupado em preservar os interesses de Israel que de defender os direitos dos palestinos?


 


Fonte: Rebelión