Prefeitos de 46 metrópoles decididos a agir contra o aquecimento

Os prefeitos de 46 metrópoles do mundo se dizem decididos a agir contra o aquecimento. Reunidos numa cúpula em Nova York, eles trocaram idéias e compartilharam projetos que visam a reduzir as emanações de gases geradores do efeito-estufa.

 


No final de uma cúpula de quatro dias realizada em Nova York, os prefeitos das grandes cidades do mundo, que garantem estar na linha de frente na luta contra o aquecimento climático, publicaram uma nota, divulgada nesta quinta-feira, 17 de maio. Nesta, eles conclamam os dirigentes dos países industrializados do G8 a “se comprometerem a atuar em função de um objetivo de estabilização em longo prazo das concentrações de gases de efeito-estufa”.



Cientes de que as cidades estão na origem de 80% das emissões de gases geradores do efeito-estufa, os representantes de 46 metrópoles, reunidas no quadro de um grupo chamado C40, prometeram agir sem esperar pelas iniciativas dos seus governos, que não raro têm se mostrado pusilânimes em relação a essas questões.



“O seu comportamento é vergonhoso, mas nós não podemos ficar de braços cruzados”, declarou o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que era o anfitrião da cúpula e que recentemente manifestou a sua intenção de transformar a “Big Apple” numa “Green Apple”, para transformá-la na cidade a mais “verde” do país.



O plano de Bloomberg prevê a redução, antes de 2030, de 30% das emissões de gases geradores do efeito-estufa (produzidos na sua maior parte pelo consumo de energia dos prédios para fins de calefação), além do plantio de um milhão de árvores em dez anos e da instauração de um pedágio para os veículos que quiserem aceder ao centro da cidade – uma medida sem precedente nos Estados Unidos.



A conferência dos prefeitos dos Estados Unidos, que foi realizada em margem do C40, aplaudiu a iniciativa de Michael Bloomberg e anunciou que 500 cidades americanas já haviam se comprometido a reduzir as suas emissões de CO2 para níveis inferiores àqueles que foram registrados em 1990, dentro do mesmo espírito que norteou o protocolo de Kyoto, ao qual Washington não quis subscrever.



Para os prefeitos das grandes metrópoles, esta era uma oportunidade para compartilhar idéias. O de Addis Abeba (Etiópia) se disse encantado por poder aprender a utilizar a energia solar. Por sua vez, o seu homólogo de Curitiba (Brasil) contou as vantagens de um sistema de ônibus que apresenta, a um custo menor, as vantagens do metrô, por ser dotado de vias exclusivas e funcionar com paradas rápidas e freqüências elevadas e constantes.



O objetivo da cúpula também foi de tranqüilizar os participantes em relação ao possível desgaste político que certas medidas poderiam causar. Ken Livingstone, o prefeito de Londres e presidente do C40, se ofereceu para responder à seguinte pergunta: “Como lutar contra os engarrafamentos e, ainda assim, ser reeleito?”, lembrando que quando ele quis implantar um pedágio no centro da cidade, a imprensa se mostrou “hostil numa proporção de 98%” e previu as piores conseqüências políticas. Uma vez instaurada a medida, em 2003, os engarrafamentos foram reduzidos de 30% e as opiniões favoráveis a seu respeito aumentaram em 12 pontos.



Várias grandes companhias também participaram dos debates. “Ninguém pode acusar Rupert Murdoch de ser um ecologista”, brincou Michael Bloomberg, referindo-se ao muito conservador patrão de um império da comunicação avaliado em US$ 62 bilhões (cerca de R$ 120 bilhões), que se comprometeu recentemente a reduzir para zero as emissões de gases de efeito-estufa geradas pelo seu grupo antes de 2010. Esta decisão “é simplesmente excelente para os negócios”, estima Bloomberg, “sobretudo, porque ela diminui as despesas e os encargos com energia”.



No final deste encontro, a conselheira para assuntos ambientais do prefeito de Paris, Reine Sultan, confessou se “sentir transportada por esta sinergia entre as cidades”. Ela promete debruçar-se sobre um programa “intrigante” implantado em Bancoc (Tailândia), que se destina a coletar os óleos domésticos e a reciclá-los para transformá-los em combustível a ser utilizado pelos veículos municipais.



Antes da próxima reunião do C40, que será realizada em Seul (Coréia do Sul) dentro de menos de dois anos, grupos de trabalho se reunirão para estudar métodos de redução de emissões de CO2 nos aeroportos, a importância da poluição que emana dos navios, assim como a luta contra os engarrafamentos.



Bill Clinton apresenta um projeto de US$ 5 bilhões



Associada aos grupos de trabalho do C40, a fundação do antigo presidente americano Bill Clinton apresentou, na quarta-feira, 16 de maio, um projeto dotado de um orçamento de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 14,9 bilhões) destinado a ajudar as grandes cidades a lutarem contra as emissões de gases geradores do efeito-estufa.



Em função das grandes quantidades de energia que eles consomem, os edifícios estão na origem de 50% a 70% das emissões desses gases nas grandes cidades. Os empréstimos, que seriam concedidos em regime de parceria com cinco bancos e quatro grupos energéticos, permitiriam, numa primeira etapa, isolar melhor os prédios municipais de 16 grandes cidades pilotos e equipá-los com sistemas (calefação, iluminação, climatização) que consomem pouca energia.



Essas renovações deveriam permitir uma redução substancial dos montantes das faturas energéticas dos edifícios selecionados, de 20% e 50%. Em compensação, essas economias fariam com que as prefeituras dessas cidades possam reembolsar os empréstimos consentidos e os seus juros.



Fonte: Le Monde
Tradução: Jean-Yves de Neufville / UOL Mídia Global