Construtora “ignora” investigação em Sergipe

Em matéria divulgada na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, novas relevações são feitas sobre as causa da Operação Navalha, promovida pela PF na última quinta-feira, em Sergipe.

O TCU (Tribunal de Contas da União) identificou, em agosto de 2005, indícios de superfaturamento e outras irregularidades no contrato entre a construtora Gautama e a Deso (Companhia de Saneamento de Sergipe) e chegou a recomendar que a estatal não fizesse mais nenhum pagamento com recursos federais à empresa.



Os problemas detectados pelo TCU foram na construção da segunda etapa da segunda fase da adutora do São Francisco, responsável por abastecer a região metropolitana de Aracaju.



Como ainda não haviam sido aplicados recursos federais na obra naquele ano, só estaduais, o TCU repassou as denúncias ao TCE (Tribunal de Contas do Estado) e ao Ministério Público, mas as investigações não tiveram conseqüências, segundo a Folha apurou. Tanto que, pouco depois, o restante do dinheiro federal que faltava para a obra foi liberado,R$ 6,8 milhões.



A primeira fase da obra foi feita em 1980. A segunda começou em 2001, com a vitória da Gautama na licitação. Foram investidos, nessa fase, cerca de R$ 190 milhões.



Sob acusação de fraudar essa obra, foram presos, na última quinta-feira, durante a Operação Navalha, o empresário João Alves Neto, filho do ex-governador João Alves Filho (DEM-SE) e da senadora Maria do Carmo (DEM-SE); o conselheiro do TCE Flávio Conceição de Oliveira Neto, que era chefe da Casa Civil no governo de João Alves Filho (2003-2006); Ricardo Magalhães, funcionário do escritório da Gautama em Aracaju; e o ex-deputado federal José Ivan Paixão (PPS).



O TCU considerou que houve superfaturamento na compra de tubos para a obra, pois a Gautama acrescentou, no preço, bonificações bem acima do que estaria acertado. O mesmo problema havia sido apontado em um relatório anterior do TCU, de 2003.



Também concluiu que houve irregularidades em dois aditivos feitos no contrato da Deso com a empresa: no primeiro, foi feita uma tomada de preços com pesquisa a uma só fonte,
impossibilitando um referencial de concorrência para chegar ao melhor preço.



No segundo, feito quando faltava só 2% da obra para ser concluída, a Deso incluiu novas tarefas a serem feitas, que constariam de uma próxima etapa do projeto, e que demandariam nova licitação e novo convênio com o governo federal para a liberação de recursos.



Com o último aditivo, a intenção seria dispensar novo processo licitatório para a execução das tarefas que já estavam programadas para a nova etapa, o que causaria acréscimo nos valores na obra também.



Segundo as investigações da PF, tanto João Alves Neto como Ivan Paixão atuaram para liberar os R$ 6,8 milhões de recursos federais para o término da obra, mesmo com os indícios de irregularidades apontados pelo TCU, e receberam dinheiro da Gautama por isso. O advogado deles, Emanuel Cacho, negou que eles estejam envolvidos em fraude.



O trecho da adutora feito pela Gautama foi inaugurado em abril de 2006 pelo então governador João Alves Filho. A obra toda prevê mais etapas, que ainda terão de ser licitadas.



A reportagem procurou ontem tanto a procuradora geral de Justiça, Maria Cristina Foz Mendonça, como dois conselheiros do TCE, o presidente do tribunal Carlos Pinna de Assis e Heráclito Rollemberg, mas nenhum deles foi encontrado. A reportagem também deixou recado para o assessor de João Alves Filho, na tentativa de falar com o ex-governador ou com a senadora, mas não houve resposta.