Sindicalista admite falha de controlador em acidente da Gol

Nesta terça-feira (22), a CPI dos Aeroportos da Câmara ouviu o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, que admitiu que mais de 90% dos controladores de vôo desempenham outra atividade para complementar seus

O presidente do sindicato (foto) apontou, além dos problemas financeiros, a ausência de estímulos para a carreira e a descrença no sistema de controle aéreo como duas das razões para os controladores buscarem outras atividades.



O outro depoimento do dia, foi na direção contrária, o presidente da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo, sargento Wellington Rodrigues, afirmou que a categoria vem sofrendo pressões desde o acidente com o avião da Gol, em setembro do ano passado, que provocou a morte de 154 pessoas. Ele reclamou que os controladores estão sendo acusados injustamente por diversos problemas de natureza técnica.



Segundo Wellington Rodrigues, antes do acidente, os controladores já haviam alertado as autoridades sobre diversos problemas e citou a chamada ''Carta de Brasília'', de 2005, em que eles reivindicaram treinamento operacional, aperfeiçoamento em curso de língua estrangeira e curso de formação de supervisores, entre outras medidas.



Ele afirmou ainda que o sistema de controle aéreo brasileiro possui falhas estruturais que criam áreas de superposição de responsabilidade, em que o sistema que enxerga não é o sistema que controla os vôos. Uma dessas áreas fica nas proximidades de Palmas (TO), especificamente o radar de São Félix do Araguaia.



Operação padrão



Wellington Rodrigues disse ainda que os controladores não fizeram operação padrão, apenas limitaram o acompanhamento de vôos, conforme o que determina a legislação. Ele lembrou que o acidente provocou forte comoção entre os controladores e sobrecarregou os profissionais que assumiram os trabalhos depois que os dez controladores que estavam envolvidos no acidente foram afastados.



O sargento também defendeu a desmilitarização do controle de tráfego aéreo. Ele pediu que os militares se atenham à defesa aérea brasileira, deixando o controle de vôo civil nas mãos de civis, como ocorre em todos os países desenvolvidos.



CPI do Senado



No Senado Federal onde o plano de trabalho da Comissão foi aprovado hoje, devem ser ouvidos 35 depoentes.



O plano de trabalho sugere quatro focos principais de investigação. O primeiro é o Ministério da Defesa e, no âmbito desse órgão, o Conselho de Aviação Civil (Conac) e o Departamento de Política de Aviação Civil.



O segundo foco de investigações será o Comando da Aeronáutica (Comaer), especialmente o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea); o Sistema de Controle de Espaço Aéreo (Sisceab) e os quatro Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle do Trafego Aéreo (Cindacta), localizados em Brasília, Curitiba, Recife e Manaus.


Também serão investigadas, de acordo com o plano aprovado pela CPI, a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).



Na lista dos 35 nomes de pessoas que devem ser ouvidas pelo relator, estão o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Juniti Saito; o diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Sérgio Zuanazzi; o ex-presidente da Infraero deputado Carlos Wilson; o ex-diretor da Infraero José Bernardo Loyo e o superintendente da Infraero do Paraná, Antonio Felipe Barcelos Silva.



A CPI está ainda requisitando cópias dos ''relatórios de perigo'', documentos apresentados pelos controladores de vôo nos últimos três anos; cópias dos relatórios de incidentes de tráfego aéreo; além do relatório da Federação Internacional de Associação dos Controladores de Vôo sobre o Cindacta 1, entre outros documentos.



De Brasília
Gustavo Souza