Exposição mostra a beleza negra como forma de conscientização e luta contra o preconceito
São 30 quadros, três poemas e muitas Marias. A exposição “Mulheres Negras de Nossa Senhora do Rosário”, organizada pelo gabinete do vereador Paulo Augusto dos Santos, ‘Paulão’ (PCdoB), não por coincidên
Publicado 24/05/2007 15:09 | Editado 04/03/2020 16:52
“O momento não poderia ser mais oportuno”, afirmou Paulão. Quando se comemora a abolição da escravatura, queremos mostrar para a sociedade a capacidade criativa da negritude, sua resistência e sua beleza, ajudando a romper com o tabu que nasce do preconceito e da vergonha que temos de nos assumir como negros ou afro descendentes”, constatou.
O vereador lembra que é preciso trabalhar, cotidianamente, a questão racial para se chegar a patamares de igualdade e que uma exposição de arte é uma forma sutil de despertar a consciência.
Origens
A exposição é assinada pelo artista plástico e especialista em cultura africana, Marcial Ávila. Ele nasceu em Diamantina (MG), às portas do Vale do Jequitinhonha, e trouxe da região a inspiração para sua obra.
A maior parte do seu trabalho é dedicada a figuras humanas negras. Ele contou que cresceu em Diamantina vendo a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário organizando as festas e as procissões. “Aqueles enfeites e as roupas coloridas, eram, para mim, um universo mágico, bonito, que chamava a atenção pela beleza e riqueza dos detalhes e das cores. Hoje uso essas lembranças, essa estética para despertar a consciência e resgatar uma identidade sufocada pelo preconceito,” argumentou Ávila.
t
A exposição é formada por quatro coleções: “Origens”, na qual o artista apresenta as mulheres negras livres, na África, como uma mãe Massai carregando o filho; “As Negras do Rosário”, uma referência à tradição e à cultura; “A Irmandade”, composta por quadros retratando anjinhos negros, todos com nomes de virtudes como fraternidade, igualdade, fé e harmonia; e as “Santas Marias”.
Ávila lembrou que nas escolas as crianças se surpreendem ao visitarem a exposição e perguntam: “Nossa, existem anjos negros e santas negras?”. Aliás, para o artista, os quadros mais marcantes do seu trabalho são os que retratam as santas marias como, por exemplo, a do Rosário, das Dores e do Amparo.
Santas
Em seu trabalho, as santas, segundo Ávila, pretendem ser um alerta contra a violação dos direitos das mulheres brasileiras, “tão desrespeitadas em sua dignidade, marginalizadas no sertão deste País, ou mesmo as que vivem debaixo dos viadutos das grandes cidades, sem condições de criar os filhos”.
Diz o ditado popular que “uma imagem vale mais que mil palavras”, mas no caso da exposição em homenagem às mulheres negras, três poemas escritos pelo artista ajudam a valorizar ainda mais a sua proposta. Eles defendem a igualdade racial, resgatam a força de uma cultura e combatem o preconceito e a violência contra as mulheres, agredidas pela condição social e pela cor da pele.