''Bomba'' da Veja contra Renan é recebida com cautela

A revista Veja antecipou em um dia a sua edição deste fim de semana, com a acusação de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teve contas pessoais pagas por Cláudio Gontijo, lobista da empreiteira Mendes Júnior. Em Brasília, esvaz

Simon disse que é preciso tomar cuidado em relação às denúncias feitas pela Veja e lembrou que, no passado, a mesma revista acusou o então presidente da Câmara e atual deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) de rregularidades que depois não foram confirmadas. A própria revista dos Civita, sabedora das suspeitas que a circundam, menciona o episódio em sua edição-bomba, a título de ''vacina''.



Senadores preocupados com desgaste



Peemedebista histórico, Simon defendeu que o partido só se manifeste depois de ouvir Renan Calheiros sobre as denúncias publicadas. Simon informou que vai pedir uma reunião da bancada do partido, no Senado, e também do conselho político do PMDB, para que Renan preste esclarecimentos.



Para Simon, o presidente do Senado não deve se afastar do cargo. Um eventual afastamento só deve ser decidido depois ouvir suas explicações. ''Enquanto não se falar com ele, não é o caso de afastá-lo agora do cargo''.



''A palavra de ordem no Senado é cautela'', avalia um despacho da Agência Estado sobre a denúncia. ''Tanto a oposição quanto os aliados do governo evitam assumir uma posição precipitada sobre o destino do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), sem antes ouvi-lo sobre a denúncia de que teria recebido ajuda financeira de empreiteira para pagamento de despesas pessoais. A preocupação dos senadores é com o desgaste do presidente da instituição. Por enquanto, ninguém quer falar sobre eventual licença de Calheiros do cargo'', diz a agência do Grupo Estado.



O que diz a reportagem



A reportagem publicada pela revista Veja começa por dizer que 17 anos atrás o empreiteiro Zuleido Veras, da Gautama, agora pivô do escândalo evidenciado pela Operação Navalha, ''bancou sorrateiramente'' uma campanha eleitoral de Renan em Alagoas. Em seguida, passa a outra empreiteira, a Mendes Júnior, e seu lobista Cláudio Gontijo. E faz então suas acusações:




• ''O lobista da Mendes Júnior coloca à disposição do senador um flat num dos melhores hotéis de Brasília, o Blue Tree. O flat, número 2 018, é usado para compromissos que exijam discrição. Está em nome de Cláudio Gontijo.



• O lobista da Mendes Júnior pagou, até março passado, o aluguel de um apartamento em Brasília para o senador. O imóvel tem quatro quartos e fica em uma área nobre da capital federal. O aluguel saía por R$ 4.500.



• O lobista pagava R$ 12.000 mensais de pensão para uma filha do senador, de 3 anos de idade. A pensão foi bancada por Cláudio Gontijo de janeiro de 2004 a dezembro do ano passado.



• O lobista ajuda nas campanhas do senador Renan Calheiros e nas de sua família. Já ajudou o próprio senador, seu filho e seu irmão.''



A matéria serve de prato principal mas vem acompanhada por outras sobre a Operação Navalha, no inconfundível estilo Veja. Uma seqüência de fotos mostra ''o clã Calheiros'', com retratos do prefeito de Murici (AL), Renan Filho, o deputado Olavo Calheiros (PMDB-PE) e o vereador Robson Calheiros, ambos irmãos de Renan.



O levantamento da revista, porém, poupa um terceiro irmão político do presidente do Senado, Renildo Calheiros, que é deputado federal (PE) e líder da bancada do PCdoB na Câmara, que não é citado na ''reportagem'' de Veja nem é alvo de qualquer investigação.



''Um momento de terrorismo''



Na quarta-feira, a bancada do PMDB vai se reunir e a expectativa é de que até lá o presidente do Senado tenha comentado a matéria da revista.



O líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), disse que está aguardando a defesa de Renan face às acusações. ''Até que se comprove documental e materialmente a denúncia, a pessoa é inocente. Com certeza é precipitado falar em licença'', disse.



Raupp disse que tudo será discutido na reunião da bancada marcada para quarta-feira. Ele avaliou que é preciso dar alguns dias para que a situação se esclareça melhor porque no momento está tudo muito confuso. ''Se o presidente Lula e o ministro da Justiça não estão entendendo (a extensão da denúncia) e nem tendo controle da situação, imagine nós'', comentou.



Prudência parece ser também o lema dos oposicionistas. O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) disse que também está aguardando uma manifestação de Renan Calheiros sobre as acusações. ''Seria precipitado tomar uma posição antes de ouvi-lo'', ponderou.  ''Estamos vivendo num momento de terrorismo. Temos que ter muito cuidado'', alertou Heráclito, referindo-se ao clima criado pelas revelações da Operação Navalha.



O senador Jefferson Peres (PDT-AM), que se notabilizou pelo arrojo durante a CPI da Compra de Votos, em 2005, concorda. ''A despeito dessa atitude de cautela, o presidente do Senado terá de ser convincente em suas explicações para evitar um processo no Conselho de Ética ou mesmo sua convocação pela CPI da Navalha, que deverá ser instalada na próxima semana'', comentou. ''Ninguém está livre de ser investigado diante de uma acusação concreta. Nem mesmo o presidente do Senado'', acrescentou Peres.



O ''Dossiê (anti) Veja''



Com Brasília esvaziada pelo fim de semana, acredita-se que a repercussão das revelações da Veja só poderá ser medida a partir de terça-feira, quando os parlamentares retornam de seus estados.  Na avaliação de lideranças parlamentares, não partirá de Renan a iniciativa espontânea de se afastar da presidência do Senado, cargo para o qual foi eleito por duas vezes. O máximo que os oposicionistas arriscam é recordar o caso do ex-senador Jader Barbalho (hoje deputado pelo PMDB-PA), que acabou renunciando à presidência do Senado e ao mandato para escapar da cassação por causa de denúncias de corrupção.



As cautelas nos meios políticos, mesmo em meios hostis a Renan Calheiros, ficam reforçadas dado o histórico da Veja em matéria de denúncias. A revista já trouxe em sua capa ''revelações'' como a de que Cuba enviou milhões de dólares em dinheiro vivo para financiar a campanha presidencial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (o dinheiro foi transportado em um jatinho, dentro de caixas de uísque, dizia a reportagem), ou de que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) prometeram US$ 5 milhões com o mesmo objetivo. A abundâncuia e o teor duvidoso das acusações terminaram por debilitar sua credibilidade, e ensejaram iniciativas como o  ''Dossiê (anti) Veja'' lançado em outubro de 2006 pelo site www.novae.inf.br (clique aqui para ver).



Com Veja e agências