Lula diz a africanos que Brasil não tem vocação imperialista

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira, durante audiência com embaixadores africanos, que o Brasil não tem vocação imperialista.
O presidente defendeu aproximação do País com nações pobres para enfrentar os ricos nos fóruns

Diante de queixas e reclamações de governos de outros países em desenvolvimento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira, 25, que o Brasil não busca a hegemonia na política internacional. Em encontro com 22 embaixadores africanos no Palácio do Planalto, ele defendeu a aproximação com nações pobres para enfrentar os ricos nos fóruns mundiais. “Um país [o Brasil] que tem, em tudo que nós olharmos, a cara da África, a alegria do nosso povo, a música brasileira, o carnaval brasileiro, a religião brasileira. Tudo que a gente olha tem um toque africano. E que país do mundo, então, poderia ter essa vocação de se aproximar da África mais do que o Brasil? Nenhum. Até porque o Brasil não tem vocação imperialista. E o Brasil não quer ter vocação hegemonista, o Brasil quer ter vocação de parceria, construir junto aquilo que precisa ser construído”, afirmou.


 


No início da semana, Lula enfrentou fortes críticas da imprensa paraguaia numa viagem oficial a Assunção. O jornal ABC Color, de maior tiragem do país, chamou o Brasil de imperialista, por não aceitar o aumento do valor da energia excedente de Itaipu, vendida pelo Paraguai.


 


Lula disse, aos embaixadores africanos, que venceu o “preconceito” da opinião pública, da imprensa, dos políticos e dos sindicalistas, que criticaram as 17 viagens dele ao continente africano. Ao avisar que pretende fazer mais visitas à região neste ano, o presidente lembrou as cobranças: “O que o presidente Lula vai fazer na África? Por que tantas viagens para a África? Por que o presidente Lula não vai para a Europa, o Japão e a China?”


 


O presidente ressaltou que o Brasil tem a “cara” da África e não pode manter relações de submissão com o mundo desenvolvido. Ele voltou a defender uma reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com a presença permanente de representantes de países pobres. Um dos objetivos das viagens de Lula à África foi conseguir o apoio do continente ao pleito brasileiro de conseguir uma cadeira no conselho. Até agora, o presidente não conseguiu o apoio geral dos africanos.


 


Para o presidente, o Brasil, como o país que tem uma economia maior, tem que ter atitudes mais ousadas para que a vontade política da integração se concretize definitivamente. “Nos próximos dias estarei fazendo uma reunião aqui com as empresas de aviação brasileira para que comecem a pensar em linhas de integração com o continente africano. Porque, se não for assim, nós teremos muito mais trabalho e a integração será muito mais difícil.”


 


Universidade


 


Lula disse ainda que tem alguns sonhos com a África, que não foram construídos ainda. “Por exemplo, desde 2003 eu fico pensando em construir uma universidade em que a gente possa ter, aqui, os africanos, os latino-americanos e os brasileiros, como se fosse uma espécie de universidade de integração dos povos do continente africano e da América do Sul.” No encontro, Lula também propôs a instalação de um escritório da Fundação Oswaldo Cruz no continente africano.


 


Lula recebeu os embaixadores, numa sala ao lado do gabinete, no terceiro andar do Planalto, para comemorar o Dia da África. Pouco antes do discurso do presidente, o embaixador de Camarões no Brasil, Martin Mbarga Nguele, disse que Lula virou um “porta-voz das causas africanas”. “Alguns pensam que o senhor vai à África plantar no deserto”, disse. “Mas a África está atingindo quase um bilhão de habitantes, numa população mundial de sete bilhões.”


 


Nguele lembrou que, em dezembro passado, Lula se empenhou para realizar o encontro entre chefes de Estado da África e da América do Sul, na Nigéria. À ocasião, o presidente sofreu uma torção no pé e viajou para Abuja em cadeira de rodas. “Mesmo acidentado e de cadeira de rodas, o senhor fez questão de assistir ao encontro.”


 


Atualmente, o Brasil conta com 30 embaixadas no continente africano. Um total de 24 países da África têm representação em Brasília, sendo que nove foram abertas no governo Lula.


 


“Nós queremos que um dia todos os países africanos tenham embaixada no Brasil, como nós queremos, um dia –que não estará muito longe– ter embaixadas em todos os países africanos. Mas, mais do que termos embaixadas, é preciso que a gente tenha meios concretos de contribuição para que o Brasil e os países africanos, a América do Sul e o continente africano, possam crescer de forma harmônica, de forma que as parcerias sejam construídas de acordo com a vontade dos povos africanos e do povo latino-americano”, reiterou.


 


Da redação,
com agências