Serra se contradiz e ataca ocupação dos estudantes na USP

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), afirmou nesta sexta-feira (25) que espera uma solução pacífica para a desocupação do prédio da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) e disse não ter dúvidas de que existe exploração política no movimento

Nesta sexta, a Justiça negou mais uma vez a suspensão da reintegração de posse do prédio, pedida pelo Sintusp, o sindicato dos funcionários da universidade,foi a segunda tentativa da entidade. Também está circulando uma lista de professores que defende a desocupação da reitoria, a qual já tem quase 700 nomes.


 


Ao falar que o episódio tem um viés político-eleitoral, Serra destacou: “Não da parte da maioria dos estudantes (que participam da ação), mas sem dúvida há um grupo que tem motivação de natureza política e, alguns outros, político-eleitoral. Não se trata puramente de reivindicações, até mesmo porque elas mudam a cada dia.”


 


Para o governador a sua administração feriu não fere a autonomia da universidade. “Queremos uma universidade autônoma em sua gestão, nas suas pesquisas, na sua docência. Não há nada, do ponto de vista de lei e de decretos, que seja contraditório com essa autonomia.” E citou que seu governo também deseja transparência.


 


“Nenhuma instituição pública do Estado vive por conta própria. Mas vive dos recursos recolhidos dos contribuintes e dos consumidores. O que queremos de todos é a transparência na utilização de seus recursos. E essa posição não é contraditória com a autonomia da própria universidade.”


 


Porém, especialistas em educação, professores das universidades paulitas, estudantes e funcionários são unânimes em apontar quebra de autonia da universidade com os decretos do governador. “A impossibildiade de a universidade contratar mais professores e funcionários, a obrigatoriedade em ter o aval da secretaria estadual de Ensino Superior para a administração dos parcos recursos que tem a universidade são apenas alguns exemplos da quebra de autonomia que Serra propõe com os decretos”, disse João Alex Carneiro do Diretório Central do Estudantes (DCE) da USP.        


 


Na avaliação do governador, a ocupação da reitoria da USP pelos estudantes representa uma “violação”, uma quebra do Estado de direito, porque impede o acesso da reitora e dos funcionários aos seus gabinetes, prejudicando a própria universidade. “A reitora foi à Justiça, que determinou a reintegração de posse. Isso não depende do governo do Estado, esta é uma ordem de natureza judicial, o próprio juiz recomendou e a PM está procurando, com cautela, estudando a situação, para que possa haver uma desocupação pacífica,” salientou, ao participar da cerimônia de entrega do espadim para alunos da Academia de Polícia Militar do Barro Branco, em São Paulo. Contudo, Serra tem convocado reuniões diárias para tratar do assunto e delas participam os secretários mais ligados à crise na universidade: Marrey, da Justiça, mais Casa Civil e Segurança Pública.     


 


Para João Alex, “a verdadeira violência que está sendo promovida contra a universidade são os decretos do governador que tem demonstrado, tanto através da reitora, Suely Vilela, quando da Polícia Militar, ou da Secretaria de Justiça, a imensa incapacidade de negociar com os estudantes em ocupação na USP”. 


 


Professores mantém greve


 


A Adusp (Associação de Docentes da Universidade de São Paulo) decidiu, em assembléia realizada nesta sexta (25), manter a greve e continuar as negociações de reajuste salarial. Estavam presentes na reunião cerca de 200 professores, e a decisão foi aprovada por unanimidade.


 


Em reunião na quinta (24), em Campinas, o Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas – USP, Unesp e Unicamp) ofereceu ao Fórum das Seis (entidade que reúne os sindicatos de professores e funcionários das universidades estaduais paulistas) 3,37% de reajuste, a ser aplicado a partir dos salários de maio de 2007. Mas a entidade, apesar de pedir um reajuste menor, de 3,15%, quer a incorporação ao salário de parcela fixa, de até R$ 200.
 


Entre os professores já está circulando uma lista que defende a desocupação da reitoria. Quase 700 professores assinam a lista.


 


Nova reunião


 


Em meio ao impasse, um grupo de estudantes da USP se reuniu na quinta (24) à noite com o secretário de Justiça e da Defesa da Cidadania de São Paulo, Luiz Antonio Marrey. De concreto, ficou definida uma nova reunião para a próxima segunda-feira. Depois desse encontro, Marrey destacou que a ordem de reintegração de posse dada pela Justiça deverá ser cumprida, mais cedo ou mais tarde.


 


“Nós podemos verificar a melhor forma de fazê-lo, o momento adequado de fazê-lo, mas essa ordem judicial tem que ser cumprida. Ficou aqui o nosso apelo aos estudantes para que continuem a dialogar e desocupem pacificamente a reitoria”, afirmou o secretário.


 


Luiz Antonio Marrey falou também que o governo estadual está buscando uma forma de garantir a desocupação pacífica e de poder ouvir as opiniões e as reivindicações dos estudantes. Ele disse que em nenhum momento o governo teve qualquer intenção de restringir a autonomia da universidade pública, um dos motivos da greve. E reafirmou que não existe a possibilidade de se revogar os decretos estaduais questionados pelos estudantes.


 


“Os decretos serão mantidos, mas nós vamos discutir aperfeiçoamentos. Não há tabu em relação a isto”, emendou.


 


A decisão de evitar que policiais militares cumpram a ordem judicial e façam a reintegração de posse da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) foi tomada por Serra. A “saída pacífica” tem sido tema de conversas nos corredores da Assembléia Legislativa e de secretarias estaduais.