Kiarostami diz que irá se aproximar dos “profissionais”

O cineasta iraniano Abbas Kiarostami, autor de filmes como Close Up e de Gosto de Cereja, disse esta semana, durante o Festival de Cannes, que está prestes a dar um passo em direção àquilo que ele chamou de “profissionalismo”, ao falar d

Em entrevista ao diário francês Le Monde, Kiarostami deu detalhes desse novo projeto, que será rodado na Itália e terá a presença da atriz Juliette Binoche. Confira abaixo a íntegra:



Qual é o tema do filme que o senhor está anunciando?
É uma história universal, a de um encontro entre um homem e uma mulher, numa pequena aldeia italiana, San Gimignano, perto de Florença. O homem é um escritor quinqüagenário de origem anglo-saxônica que chega para dar uma palestra, enquanto a mulher é uma francesa que dirige uma galeria. É um pouco a história de Adão e Eva.



Em quais circunstâncias o senhor se encontrou com Juliette Binoche e a convenceu a estrelar este filme?
Nós nos cruzamos já faz uma dezena de anos, entre outros por intermédio de Marin Karmitz, e Juliette Binoche acabou me visitando, recentemente, no Irã. Quando ela chegou, eu me perguntei como eu iria ocupar a minha convidada. Comecei contando-lhe esta história, que é de fato uma história verídica, com o meu inglês que deixa a desejar. Mas ela parecia gostar tanto do que eu estava narrando que acabei me empolgando; improvisei novos aspectos da história, conferindo-lhe uma nova dimensão, da qual eu mesmo fiquei surpreso. Ela me disse que ela achava que isso daria um belo filme, e tudo partiu de lá. Em três meses, escrevi um roteiro de cem páginas, e esta é uma história verídica que vai se tornar um filme.



Qual é ao certo esta história verídica que o inspirou?
Não se deve prestar atenção a isso. É um pequeno núcleo, que deve permanecer oculto, e a partir do qual o filme vai germinar. É uma história banal, que pode acontecer com todo mundo e em qualquer lugar.



Ainda assim, o senhor poderia nos dizer de qual maneira tomou conhecimento dela?
É uma história que aconteceu comigo, durante uma estada na Itália.



O senhor não se interessou em transpô-la no Irã?
Não, porque é uma história que não pode acontecer neste país. Além disso, era importante encená-la no lugar onde ela aconteceu.



O que o senhor deixa pressentir do filme entra um pouco em contradição com a sua maneira de trabalhar: desde o elenco, que terá atores profissionais, até a redação de um roteiro…
É verdade. É a primeira vez que opto por escrever um roteiro, mas estou muito satisfeito com ele. Eu penso que, de um certo ponto de vista, isso vai facilitar as coisas para mim. Em geral, sou obrigado a exercer todas as funções, mas, aqui, o fato de trabalhar dentro de condições profissionais vai permitir que eu possa me concentrar na minha função de cineasta.



O senhor não teme renunciar a esta liberdade estética que serve de fonte criativa para a sua obra?
Não, eu estou dando um passo em direção aos profissionais, mas eu faço questão de que, em contrapartida, a equipe e os atores dêem por sua vez um passo em minha direção.



Muitos cineastas perdem misteriosamente a sua integridade artística ao filmarem longe do seu país. O senhor chegou a pensar nisso ao preparar este projeto?
Eu concordo plenamente com esta idéia. Os cineastas que não se perderam quando estavam em exílio, ao menos durante esses cinqüenta últimos anos, são muito raros. Mas eu penso que é preciso assumir riscos de vez em quando. No pior dos casos, eu serei mais um na lista daqueles que fracassaram; o que não seria tão grave assim, pois eu acredito que toda experiência vale a pena ser tentada e que o fracasso, caso ele vier mesmo a ocorrer, também faz parte da vida.



Quando o senhor pretende começar a filmar?
Em setembro, por oito semanas.



Quem será o parceiro de Juliette Binoche?
Ainda estamos à procura dele…