Eleição em Buenos Aires traz risco para o futuro de Kirchner

No próximo domingo (3), o presidente argentino Nestor Kirchner deverá amargar uma de suas piores derrotas políticas. É o que indicam as pesquisas das eleições para governador da cidade autônoma de Buenos Aires, capital do país. O candidato governista, o m

A disputa será acirrada. Macri está bem na frente, com 27% das intenções de voto, contra Telerman e Filmus praticamente empatados com 17,9% e 17,6% respectivamente. A prevalecerem estes resultados, Macri ganha, mas não alcança os 50% mais um voto necessários para a vitória em primeiro turno. O segundo turno, em 24 de junho, é praticamente certo.



Com três milhões de habitantes, Buenos Aires é a mais importante cidade argentina, política e economicamente. Terceiro maior orçamento (aproximadamente US$ 3 bilhões) depois do nacional e da província (estado) do mesmo nome, a capital concentra poder e riqueza, ao mesmo tempo em que dita tendências para todo o país.



Daí a importância destas eleições para o futuro de Kirchner. O presidente tem elevada aprovação e reconhecimento popular por ter levantado o país da crise de 2002 e tem mantido a confiança da população (veja gráfico), apesar de atravessar um de seus piores momentos. Um escândalo de corrupção envolvendo obras de um gasoduto domina a mídia e respinga em altos funcionários de seu governo. Além disso, uma crise energética estourou esta semana, com apagões e desabastecimento de gás e diesel em várias regiões, porém atingindo mais a capital.



Candidatura presidencial



O presidente tem feito mistério sobre sua candidatura à reeleição. Sempre insinua que o próximo presidente será ele ou sua esposa, a senadora Cristina Fernandez. Sem abrir o jogo, vem impulsionando a candidatura de Cristina cada dia mais. Sua intenção parece ser que a senadora assuma o governo pelos próximos quatro anos, enquanto ele se retira para apagar o desgaste do primeiro mandato, e depois retorna para as eleições de 2011.



Para analistas políticos, a derrota em Buenos Aires significará uma redistribuição de forças e obrigará Kirchner a enfrentar uma oposição fortalecida nas eleições presidenciais de 28 de outubro. Mas não será o fim da linha para ele. “Uma derrota do presidente na capital é um fato normal na política argentina. A maioria dos grandes líderes políticos perderam nesse distrito. Foi assim com Menen, quando reeleito em 1995 [que ganhou em todo país menos na capital] e com Perón em abril de 1973”, diz o cientista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nueva Mayoria.



“Está claro que Macri ganha no primeiro turno. O que está em jogo agora é com quantos pontos de diferença ele vai para o segundo turno e contra quem”, analisa a socióloga Doris Capurro, especialista em marketing político. Para ela, se a diferença no primeiro turno for maior que 10 pontos, dificilmente Macri perde. “Há muita gente que não gosta do Maurício, mas vai votar nele porque está ganhando”, explica Capurro. Já, se a distância se encurta, a vitória do presidente do Boca pode ficar mais difícil.



Apoios



Macri lidera uma coalizão de centro-direita que ganhou apoio ao centrar seu discurso na questão da segurança pública, uma das maiores preocupações dos portenhos. Seu principal apoiador é o empresário Juan Carlos Blumberg, que se tornou referência na questão de insegurança depois que teve um filho brutalmente assassinado em 2004. O discurso de Blumberg é o tradicional da direita: ampliação das penas para criminosos e redução de maioridade penal.



Além de apoio maciço a Filmus, que teve toda a máquina estatal a seu dispor na campanha, Kirchner deu claros sinais de que a vitória de Macri significa para ele o menor dos males. É que Telerman entrou na disputa por uma coligação de centro-esquerda com apoio de Elisa Carrió, deputada e fundadora do partido Alternativa por uma República de Iguais (ARI).



Sempre liderando movimentos de esquerda, Carrió ficou em quinto lugar nas eleições presidenciais de 2003 (que Kirchner venceu), já se lançou candidata a presidente este ano e é vista como a única capaz de agregar forças para vencer a coligação Frente para a Vitória, de Kirchner, em outubro.



O presidente não só torce pela derrota de Telerman no domingo, como vem patrocinando duros ataques ao atual governador, enquanto poupa Macri.



Fonte: Valor Econômico