Passeata de apoio bate oposição no caso RCTV

Uma passeata com participação estimada pelos organizadores em centenas de milhares de venezuelanos (“dezenas de milhares”, para a agência britânica Reuters) contestou neste sábado as manifestações bem mais modestas da oposição conservadora, que protestam

No discurso para a “maré vermelha” que encheu a Avenida Bolívar, em Caracas,  Chávez se concentrou no diálogo com a juventude. Disse que “é o cúmulo que rapazes venezuelanos tenham saído à rua para defender os interesses de um imperialismo que atropelou a pátria”. E desafiou: “De que lado se colocarão os estudantes venezuelanos nesta hora histórica? do lado do povo ou da oligarquia?”



Um grande número de estudantes participou da “maré vermelha” na Avenida Bolívar. Chávez fez um chamamento ao contra-ataque revolucionário dos estudantes revolucionários, para que “tomem a ofensiva junto com a classe operária”. “Gosto muito do contra-ataque”, ironizou.



Quatro anos de “bastante paciência”



“Nós tivemos bastante paciência (com a RCTV), até que a concessão terminou”, disse Chávez. Era uma referência aos mais de quatro anos em que o canal funcionou normalmente, entre a tentativa de golpe de 11 de abril de 2002 e o fim da concessão, dia 27 último.



A emissora apoiou ostensivamente o golpe (que se frustrou em 48 horas devido à reação popular: convocou a marcha oposicionista que serviu-lhe de pretexto; elogiou o “governo provisório” que prendeu o presidente eleito, fechou o Parlamento e suspendeu a Constituição; chegou a divulgar uma lista de autoridades e lideranças bolivarianas que deviam ser denunciadas e presas.



O “Comando da Resistência”, que coordena os protestos oposicionistas, convocou mais uma manifestação. Ela partirá neste domingo (3) às 10 horas da manhã, da estação Chacao do Metrô. A municipalidade de Chacao concentra as camadas mais ricas da população da Região Metropolitana de Caracas.



Durante o Caso RCTV, a direita conservadora voltou às ruas na Venezuela. Não passa, porém, de uma pálida sombra da oposição que até 2002-2003 conseguia de fato atrair boa parte da classe média, em manifestações multitudinárias dos “esquálidos” (como os bolivarianos apelidaram com sarcasmo a parte rica da sociedade). No dia decisivo, domingo passado (27), em que se esgotou o prazo da concessão, o protesto que a mídia dominante apresentou como imenso foi gravado em uma imagem aérea que permite constatar o seu real tamanho (clique aqui para ver o vídeo).



Confronto com Condoleezza na OEA



O representante venezuelano na Organização de Estados Americanos (OEA), Jorge Valero, disse neste sábado que o país vai considerar uma “interferência” em seus assuntos internos qualquer menção ao caso RCTV durante a assembléia geral da organização, que começa amanhã, no Panamá. A Venezuela quer fazer uma “contribuição construtiva' para que a Assembléia ocorra em um ambiente de discussões, “respeitando os acordos acertados previamente em Washington entre os países-membros, disse Valero.



O Departamento de Estado dos EUA, porém, emitiu um comunicado dizendo que a sua secretária, Condoleezza, Rice, aproveitará a assembléia geral para falar da “liberdade de imprensa”, e fará referências explícitas ao caso da RCTV, para a Venezuela um assunto interno que não deve ser alvo de interferências.



O chileno José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA, procurou cointemporizar em relação ao assunto. Fortemente pressionado pela mídia em uma coletiva de imprensa neste sábado, Insulza disse que já está consensuada uma proposta de resolução da assembléia sobre liberdade de expressão, e que duvida que ela venha a ser modificada. Disse também que as resoluções da OEA em geral não se referem a casos particulares. Mas recordou suas críticas a Chávez no caso RCTV, embora ponderando que “eu não questionei em minha declaração a existência de uma norma legal na Venezuela com respeito à concessão”.



Da redação, com agências