Revista Veja e as Cotas

O sistema de cotas veio para reduzir a  diferença de privilégios dos endinheirados contra os mais pobres. E quando se diz mais pobres, diz-se – geralmente –  os negros  e mestiços .  Assim a Universidade que apesar de pú

Iran Caetano*


 


Caros camaradas,


 


A  última edição de Veja pública como matéria de  capa um assunto que vem levantando debates acirrados  entre os brasileiros, principalmente entre aqueles com maior poder de compra,  que de um modo geral, não se conformam com o sistema de cotas que está sendo implantado no Brasil para acesso às Universidades federais e  estaduais.


 


A chamada diz mais ou menos  – ” fulanos,  gêmeos idênticos, foram identificados como negro e branco” e segue dizendo que  não existe raças e portanto o sistema de cotas  está  errado.  Sutilmente infere que deve-se abandonar esse sistema e deixar tudo como  estava antes.


 


Na  verdade o sistema de cotas veio para reduzir a  diferença de privilégios dos endinheirados contra os mais pobres. E quando se diz mais pobres, diz-se – geralmente –  os negros  e mestiços .  Assim a Universidade que apesar de pública era majoritáriamente ocupada por brancos da classe média e ricos começa a ceder espaços para os menos privilegiados.


 


A  argumentação é sempre a pior possível. -” Eles não  estudam porque não querem”,  “são preguiçosos”, e por aí.


 


Todos os anti-cotas fingem esquecer que os brasileiros de pele mais escura foram vítimas  por centenas de anos da mais abjeta forma de exploração: a escravidão. E sofrem ainda hoje os  efeitos dessa política obscurantista que não permitiu aos  chamados negros evoluir tanto quanto seus outrora exploradores.


 


Outro sentimento que  move essas pessoas (os anti-cotas) é um desejo sutil de manter os mais pobres e menos cultos da forma que estão, para serem ainda mais explorados.  Se um negro for  doutor, com certeza será melhor remunerado que o negro analfabeto ou pouco culto. Não se manda um universitário lavar privadas e varrer ruas.


 


Nessa corrida pelo conhecimento os chamados “pardos”, “negros”,  “mestiços”  e outros tiveram suas pernas amarradas a correntes com pesadas bolas de aço a impedir-lhes  os movimentos.  Agora começa-se a lhes tirar os grilhões e dar-lhes oportunidades para  recuperarem  terreno.  A  lei permite  que corram com mais liberdade rumo a um futuro melhor,  rumo ao conhecimento.


 


Muito preconceito terá que ser superado ainda.  Felizmente o sistema está sendo implantado apesar do choro daqueles que querem ceder um milésimo de seus  privilégios. O sistema está vencendo apesar de Veja e seus seguidores. 


 


Até a proxima.


 


*Iran Caetano é médico e Presidente do Comitê Municipal de Vila Velha, ES.