G-8: Economia e armas no centro do conflito

A cúpula do G-8 terminou sem a resolução das diferenças entre a Rússia e os EUA sobre o escudo antimíssil na Europa. A tensão arrasta-se num mundo onde os gastos militares batem recordes, argumenta o jornal Avante!, do Partido Comunista Português.

Antes do início da cúpula, as expectativas de resolução da disputa entre Moscou e Washington sobre a instalação de um sistema de mísseis da Otan na República Tcheca e na Polônia não eram animadoras, mas a ausência de conclusões nesta matéria confirma que a Casa Branca e o Kremlin continuam de costas viradas.



Depois de Putin ter garantido que a Rússia responderá à altura ao projeto militar dos EUA para a Europa Oriental, e de Bush ter se encontrado, em Praga, com “oposicionistas” de todos os matizes aproveitando o balanço para criticar severamente as “carências democráticas” na Rússia, era pouco provável que e as promessas de entendimento diplomático vingassem.



Apesar de tudo, em cima da mesa esteve uma proposta russa de uso conjunto do sistema de vigilância instalado no Azerbaijão, projeto alternativo e não complementar ao defendido pelos EUA/Otan e que por isso não colheu aplausos do Ocidente, fato que, na leitura dos representantes russos, também revela as verdadeiras intenções norte-americanas.



As partes prometem dialogar, mas para já ninguém parece disposto a ceder, até porque esta pode ser apenas a ponta do iceberg num sistema onde economia e guerra andam de mão dadas.



OMC, petróleo e Kosovo



Outra das questões que dividem Putin e Bush é o estatuto da província do Kosovo. O presidente dos EUA e a UE pretendem o reconhecimento da independência. Vladimir Putin rejeita, e tem do seu lado a China e, naturalmente, a Sérvia.



Acrescente-se que a Rússia afirma-se no mundo como um dos maiores produtores de energia e encara como fundamental o ingresso na Organização Mundial do Comércio, mas não aceita, sobretudo pela posição granjeada no que à exploração de petróleo e gás diz respeito, continuar a ser tratada como “potência derrotada”.



Na ressaca do G-8, Putin disse mesmo que o que se tem passado nos últimos quinze anos não tem futuro e, reiterando o interesse em entrar na OMC, acusou a organização de ser “arcaica, rígida e não democrática”. Num fórum econômico que reuniu países da ex-URSS, Putin propôs a criação de uma estrutura alternativa euro-asiática caso as normas não se alterem, incluindo as que regem o câmbio de referência no comércio mundial.



Gastos militares batem recorde



Paralelamente, o Instituto Internacional de Investigações para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla inglesa) divulgou um relatório onde afirma que os gastos militares no mundo bateram todos os recordes.



Segundo o SIPRI, na última década, o crescimento foi de 37%. Os EUA “contribuem” com 46%, seguidos do Reino Unido, França, China e Japão. Entre os 15 primeiros – os quais absorvem 83% do total dos gastos – surgem ainda a Arábia Saudita e Israel, fiéis aliados de Washington.



Igualmente revelador é que a indústria de armamento norte-americana domina 63% do mercado, seguida pela congênere européia, 29%, pelo Japão e por Israel.