Haddad e MST acordam programa de erradicação do analfabetismo

Por Verena Glass, na Carta Maior
O ministro da educação, Fernando Haddad, foi único membro do governo convidado para o congresso dos sem-terra, por comandar área considerada prioridade absoluta pelo MST, diz Stedile. Movimento quer programa co

Na última sexta-feira (15), o ministro da educação, Fernando Haddad, visitou a chamada Ciranda Infantil e a Escola Itinerante Paulo Freire do MST, estruturas montadas no estádio Nilson Nelson em Brasília para acolher as cerca de mil crianças cujos pais participaram das atividades do congresso durante a semana passada. O objetivo da visita foi apresentar algumas demandas em relação à educação e formação de crianças, jovens e adultos do movimento, prioridade absoluta do MST na agenda pós-congresso, explica João Pedro Stedile, dirigente nacional do movimento.



Único representante do governo federal oficialmente convidado a comparecer ao evento, em conversa com a direção do setor de educação do MST, Haddad se comprometeu a ajudar num levantamento cadastral dos assentados e acampados quanto à escolaridade e alfabetização, para, em 2008, dar início a um programa intensivo de erradicação do analfabetismo entre os sem-terra.



“Se o MST trabalha em cerca de 2,5 mil áreas, podemos disponibilizar facilmente 2,5 mil computadores para fazer este cadastro. Com um bom senso escolar em mãos, podemos implementar uma política de erradicação do analfabetismo a partir de 2008. O MST tem motivação, isto já significa 90% da solução do problema”, afirmou Haddad.



Segundo Stedile, o Ministério da Educação poderá recuperar também um cadastramento dos sem-terra elaborado pela USP em 2002. Segundo o MST, praticamente 100% dos assentados têm escolaridade até o 4o ano primário. Apenas 50% cursaram até a 8a série.



Escolas nos assentamentos



O ministro da educação também se comprometeu a implementar várias medidas de qualificação do ensino nos assentamentos rurais. Levado ao espaço da Ciranda Infantil – como o MST denomina a tradicional “creche”, que se diferencia, no caso, pelas atividades de aprendizado lúdico, segundo Stedile -, Haddad ouviu uma série de reivindicações da boca das próprias crianças.



Entre as demandas, os sem-terrinha destacaram a construção de escolas nos assentamentos “porque não é possível estudar debaixo de árvores”, “não podemos estudar na cidade porque é longe e perigoso”, e “porque as estradas são ruins, o ônibus [escolar] atola e a gente perde aula”. Laila, da Bahia, também pediu computadores nas escolas dos assentamentos, Paulo pediu mais recursos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) para formação de professores, e Luciana queria áreas de lazer para as crianças, mais brinquedotecas e campos de futebol.



Segundo Haddad, o atendimento de parte das demandas já foi incluído no PAC Educação, apresentado em março deste ano. Neste sentido, o MEC deverá elabor até meados de julho um conjunto de diretrizes pedagógicas para as escolas rurais, que inclui grade, currículo e equipamentos. Em termos de inclusão digital, o ministro explica que já foi criado o Proinfo (Programa Nacional de Informática na Educação) Rural, e em relação ao transporte no campo, foram liberados 600 milhões para investimento em ônibus.



Uma reunião para esmiuçar projetos e parcerias passíveis entre MEC e MST deve ocorrer nas próximas semanas, mas João Pedro Stedile adiantou que o movimento tratará o tema como prioritário na agenda de lutas. “O MST sabe que a pessoa que não conhece as letras nunca será um cidadão”, afirma. Em tom de brincadeira, os coordenadores do setor ameaçaram que, se o movimento não for ouvido, em breve os mais de mil sem-terrinhas da Ciranda estarão ocupando o ministério.