Gordon Brown, o novo premiê do Reino Unido

Nesta quarta-feira, dia 27, Gordon Brown assumirá o posto de premiê do Reino Unido. Para muitos observadores internacionais da situação do país nos últimos anos, a transição do poder, de Tony Blair para o seu ministro das Finanças, é difícil de compreende

Blair, apesar de seu envolvimento no fiasco iraquiano, é considerado por muitos líderes ocidentais um dos mais experientes estadistas do mundo, responsável durante seus dez anos no poder por liderar a luta contra as alterações climáticas.


 


Seu sucessor no número 10 da Downing Street, ainda que respeitado na arena das finanças internacionais, parece uma figura menos definida e menos carismática.


 


No país, igualmente, Brown é visto como líder menos convincente do que Blair. A oposição conservadora considera sua chegada ao poder como o fim do projeto do Novo Trabalhismo, que conduziu a centro-esquerda ao governo em 1997. Para seus muitos críticos, falta a Brown a aura vitoriosa de que o atual primeiro-ministro desfruta. Eles consideram que Brown não tem a conexão natural de Blair com os britânicos médios, o segredo do sucesso eleitoral dos trabalhistas.


 


Mesmo assim, a chegada de Brown ao posto não será um momento tão sombrio para os trabalhistas quanto os conservadores gostam de imaginar. Depois dos fracassos dos anos Blair, em especial quanto ao Iraque, a confiança do público no primeiro-ministro caiu drasticamente.


 


Outro estilo


 


Nas cinco semanas desde que foi eleito, sem oposição, para a liderança do Partido Trabalhista, Brown vem tentando se distinguir do estilo de liderança visto como arrogante que caracterizou os anos Blair. Ele prometeu jamais usar informações de serviços de inteligência de forma tão descuidada quanto Blair fez ao tentar provar que o Iraque estava equipado com armas de destruição em massa -algo nunca comprovado.


 


O futuro primeiro-ministro também começou a defender uma abordagem mais humilde, prometendo consultar a opinião pública. Os primeiros sinais são de que os eleitores apreciaram a idéia. Além disso, mudanças de liderança em meio de mandato, como a que está acontecendo, podem servir para galvanizar governos fatigados.
Em 1991, o conservador John Major substituiu Margaret (agora baronesa) Thatcher como líder do partido e primeiro-ministro, depois que a popularidade dela despencou e levou os líderes conservadores a derrubá-la em um golpe interno.


 


Major terminou por vencer a eleição subseqüente, em 1992. Muitos parlamentares trabalhistas esperam que Brown possa obter sucesso eleitoral semelhante. De fato, nas últimas cinco semanas, três acontecimentos serviram para provar aos parlamentares trabalhistas que isso é possível.


 


Em primeiro lugar, o partido em larga medida cerrou fileiras em torno do novo líder. Por anos, muita gente achava que a queda de Blair causaria guerra civil entre os trabalhistas, opondo os partidários do primeiro-ministro aos do ministro das Finanças. Nada disso ocorreu.


 


Segundo, a revolução conduzida por David Cameron, o dinâmico novo líder dos conservadores, está começando a enfrentar seus mais sérios desafios internos nos 18 meses desde que ele assumiu o posto.


 


A recente promessa de Cameron de não elevar o número de escolas públicas que matriculam alunos com base em critérios acadêmicos de seleção causou grande reação interna.


 


Uma pesquisa do Times e do instituto Populus, na semana passada, revelou que Cameron não vem conseguindo fazer com que muitos membros da base parlamentar conservadora aceitem sua visão liberal sobre moralidade e raça.


 


Terceiro, enquanto Brown se prepara para o governo, existem sinais de que a percepção do público começa uma vez mais a se inclinar em favor dos trabalhistas.
Os conservadores apresentaram desempenho positivo nas eleições locais de maio.


 


Mas a maioria das pesquisas de opinião realizadas desde então demonstrou declínio na vantagem antes decisiva que os conservadores ostentavam. Os números da YouGov, por exemplo, que atribuíam oito pontos percentuais de vantagem aos conservadores em abril, na última semana estimavam a vantagem do partido em apenas 2 pontos. Aparentemente, aquilo que os especialistas em pesquisas gostam de denominar “o salto de Brown” está de fato acontecendo. Quanto maior for esse salto, mais séria se tornará a reação dos conservadores à sua ascensão.


 


*Tradução de Paulo Migliacci