Avante!: Vaticano tolerou ditadura argentina

No último 19 de junho o tribunal de Roma concluiu que a ditadura militar argentina (1976-1983) perpetrou um “verdadeiro genocídio”, contando com o apoio ativo dos Estados Unidos e o silêncio complacente da Igreja Católica.

A sentença, tornada publica no dia 19, recupera os elementos do processo que terminou, em março, com a condenação à revelia de cinco antigos oficiais argentinos a prisão perpétua, culpados do desaparecimento de uma família italiana.



“A abundante instrução permitiu apurar judicialmente o que, por outro lado, já era bem conhecido historicamente: que entre 1976 e 1983 se instaurou uma feroz ditadura militar que, com o pretexto de combater a guerrilha e travar a difusão das idéias marxistas, levou a cabo, com métodos desumanos, um verdadeiro genocídio”, declara o documento judicial.



Ilustrada com uma multiplicidade de pormenores recolhidos nos depoimentos das testemunhas ouvidas, a sentença observa que, ao contrário da ostensiva ditadura chilena, o regime argentino operava de forma “silenciosa, oculta e científica”. “A perseguição política fazia-se de modo clandestino, sem caminhões nem blindados”.



E foi com esta ditadura sanguinária que os Estados Unidos estabeleceram um tratado inter-americano de assistência recíproca.



O tribunal relata ainda a cumplicidade do próprio governo italiano, que nunca permitiu “um único refugiado político na sua embaixada”, e considera “graves” as “decisões do Vaticano e da hierarquia eclesiástica argentina”.



Relativamente a esta última, os magistrados sublinham que dos 80 bispos da conferência episcopal, apenas quatro se manifestaram contra a ditadura, sendo que “um deles foi morto num estranho acidente de automóvel”, acrescenta o texto.