Fretilin vence mas não obtém maioria no Timor Leste

Com todos os boletins de voto contados, a Fretilin é a vencedora das eleições em Timor-Leste, com 29%, número ainda assim bastante abaixo do alcançado nas últimas eleições legislativas (57%). Em segundo lugar ficou o partido de Xanana Gusmão (CNRT) com 24

Nos dois principais distritos que faltavam fechar, Dili e Baucau, houve duas vitórias claras do CNRT e da Fretilin, respectivamente. Em Dili, o CNRT chegou aos 45% e em Baucau a Fretilin esmagou com mais de 60% dos votos.


 


A Fretilin ganha as eleições mas perde a hegemonia, que foi o seu principal instrumento de poder nos cinco anos em que esteve no governo, foi líder do Parlamento e do Estado, desde a independência. Por outro lado, o carisma de Xanana Gusmão não foi suficiente para ganhar as eleições e ultrapassar a influência histórica da Fretilin.


 


Em declarações à Agência Lusa, o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, declarou que o partido vencedor das legislativas “não quer matar a democracia” coligando-se com o CNRT, preferindo que os seus principais adversários sejam uma “oposição forte” no Parlamento. “Não abdicamos da vitória, em qualquer cenário”, considerou também Mari Alkatiri.


 


Alkatiri considerou a votação da Fretilin “um mau resultado em termos aritméticos” mas um “bom resultado em termos políticos”.


 


O secretário-geral da Fretilin remete para um “lugar na oposição” Xanana Gusmão mas também Mário Viegas Carrascalão, presidente do Partido Social-Democrata (PSD) e líder da aliança com a Associação Social Democrática Timorense (ASDT), que obteve o terceiro lugar com 15,7 por cento dos votos.


 


“A democracia faz-se com uma boa oposição no parlamento. Se não houver, o que pode acontecer é a oposição nas ruas”, explicou Mari Alkatiri.


 


Sobre possíveis coligações para a formação do Governo, Alkatiri afirmou: “Não tenho a certeza de que Fernando 'La Sama' de Araújo tenha dito 'não' a uma coligação com a Fretilin”.


 


Sobre a queda eleitoral da Fretilin em relação às últimas legislativas, Alkatiri disse: “Quando a lição vem do povo, somos os primeiros a aceitar”, acrescentando que “o povo quer uma Fretilin mais adaptada às novas realidades do país e do mundo, capaz de saber tolerar mas também de saber incluir”.


 


Já o Presidente da República, Ramos-Horta, considera que o PSD/ASDT (de Mário Carrascalão e Xavier do Amaral) e o PD (de Fernando Lasama) são os grandes vencedores das eleições, porque “juntos ultrapassam a votação da Fretilin”. Em entrevista à mídia portuguesa, Ramos-Horta entende que a Fretilin é a grande derrotada (perdeu quase 20% em relação às últimas eleições) e que Xanana Gusmão não obteve melhor resultado porque “se distanciou muito do povo ao longo dos últimos cinco anos”.


 


Sobre as várias possibilidades de formação de um Governo, Ramos-Horta deixa tudo em aberto: “Se um grupo de partidos se aliar, tiver a maioria parlamentar e garantir a estabilidade para Timor, tem legitimidade para governar. Se por outro lado, a Fretilin consegue garantir que um ou mais partidos, embora não querendo fazer parte do governo, lhe vão dar o benefício da dúvida e votar o programa de governo, também é uma possibilidade. Mas cabe à Fretilin mostrar capacidade de liderança em negociar com os irmãos dos outros partidos. Vou aceitar a proposta de um primeiro-ministro pelo partido mais votado ou vou convidar a aliança – se ela existir – com maioria parlamentar? Ou tento unir as duas coisas?”.


 


Mas, na mesma entrevista, questiona: “Fazendo as contas, as bases entenderão que a soma dos votos no país que não são da Fretilin são esmagadoramente superiores aos do seu partido. Essa é a realidade. Têm o dobro dos votos. Se a Fretilin, suponhamos, recebeu 100 mil votos e a oposição recebeu 300 mil, quem é que deve governar?”.


 


Para Mário Carrascalão, da coligação PSD/ASDT (que ficou em terceiro lugar), “a Fretilin deve ir para a oposição”. E acrescenta: “A Fretilin deve ser oposição e ao fim de cinco anos voltar com a lição aprendida e saber como é que os da oposição se sentem quando são reduzidos a um estatuto pior do que cães.Venha Ramos-Horta, venha quem quiser. Não conseguem levar-nos a uma coligação com a Fretilin. Com alguns elementos que trabalharam para o país sim, nunca com o partido”.


 


Segundo os dados da CNE, obtidos pela Agência Lusa, os resultados oficiais finais provisórios da votação são os seguintes:



Eleitores inscritos: 529.198.


Votos expressos: 426.237 (81,0 por cento)


Votos válidos: 412.679.


Votos brancos: 3.279 (0,7 por cento).


Votos nulos: 9.688 (2,2 por cento).


Votos reclamados: 544 (0,1 por cento)



VOTOS VÁLIDOS: 412.679 (100 por cento).



1 – Fretilin: 119.728 votos (29,0 por cento).
21 deputados


2 – CNRT: 99.455 (24,0 por cento).
18 deputados


3 – ASDT/PSD: 65.004 (15,7 por cento).
11 deputados


4 – PD: 46.677 (11,3 por cento).
8 deputados


5 – PUN: 18.753 votos (4,5 por cento).
3 deputados


6 – AD – KOTA/PPT: 13.157 (3,1 por cento).
2 deputados


7 – UNDERTIM: 13.127 (3,1 por cento).
2 deputados


8 – PNT: 9.939 (2,4 por cento).


9 – PDRT: 7.663 (1,8 por cento).


10 – PR: 4.370 (1,1 por cento).


11 – PDC: 4.279 votos (1,0 por cento).


12 – PST: 3.959 (0,9 por cento).


13 – UDT: 3.713 (0,8 por cento).


14 – PMD: 2.855 (0,6 por cento).