Justiça: Comissão de Anistia concede indenização a Aldo Arantes

O dirigente do PCdoB em Goiás, Aldo Arantes, que presidiu a União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1961, teve reconhecida sua anistia política em um ato carregado de emoção que reuniu centenas de lideranças do movimento estudantil. A homenagem acontece

 


 


A Comissão de Anistia, reunida pela primeira vez fora do Ministério da Justiça, decidiu por unanimidade que a partir de agora Arantes passa a integrar o grupo de anistiados políticos. A iniciativa teve o objetivo de homenagear os 70 anos da UNE.


 


Sua aposentadoria pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) como técnico, depois de ter voltado ao país com a Lei da Anistia, foi revista. De acordo com a comissão, caso Arantes não tivesse sido afastado do cargo que ocupava no Incra na época em que foi preso e exilado pela ditadura militar, hoje ele poderia ocupar o cargo de procurador especial com salário de R$ 10.497.50. Esse será o salário que Arantes passará a receber retroativo a 1997.


 


Ao apresentar seu voto favorável, o relator do requerimento de anistia, Egmar José de Oliveira, goiano como o anistiado, recordou: ''Aldo, junto com Honestino Guimarães, foram nossas referências. Guerreiro e lutador, me lembro de quando saiu da prisão em São Paulo, em novembro de 1979, e foi recebido no DCE da UFG repleto de estudantes. Ele era a maior referência que tínhamos, era quase um mito''. Para o hoje advogado, o que ficou foi o discurso contundente por um Brasil socialista. Sergio Ribeiro Murylaert citou poesia do alemão Bertold Brechdt em reconhecimento do importante papel que jogaram os jovens e estudantes contra a ditadura,  especialmente Arantes, que teve cerceada sua liberdade por uma opção política.


 


Reconhecimento


 


Bastante emocionado, Aldo Arantes prestou uma homenagem a todos que lutaram com ele: Honestino Guimarães (presidente da UNE assassinado em 1973); Helenira Resende (guerrilheira do Araguaia, assassinada em 1972); Pedro Pomar, José Drumont e Angelo Arroio (dirigentes do PCdoB assassinados no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976, no qual Arantes foi preso e barbaramente torturado).


 


Arantes também agradeceu a sua esposa e seus dois filhos, presentes ao ato. ''Meus filhos também ficaram presos. Eles tinham quatro e três anos. Ficaram quatro meses presos. Toda minha família sofreu'', contou.


 


Para Arantes, tem grande valor o reconhecimento de sua anistia acontecer no Congresso da UNE, ''de frente para os estudantes''. Ele também destacou a recém reconquista da sede da UNE na cidade do Rio de Janeiro. ''A sede era considerada a Casa da Resistência Democrática. Eles não só a fecharam. Mas queimaram. E depois destruiram tudo'', lembrou.


 


Aldo Arantes reconheceu que foi a sua luta que possibilitou termos hoje um operário na Presidência da República, que ''sofre pressões da elite, mas está tentando transformar o Brasil''. E garantiu: ''Valeu a pena. Eu faria tudo de novo. Com entusiasmo e garra''.


 


A Comissão, que indeferiu o pedido de indenização com prestação única, também concedeu anistia política a Jean Marc Von der Weid, que presidiu a UNE em 1969. Também nesta semana a Comissão de Anistia avalia o processo do jornalista Bernardo Joffily, que foi dirigente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) na época da ditadura militar. Hoje, Joffily é editor do portal Vermelho.



De Brasília,
Mônica Simioni
Com informações da Agência Brasil.