Moisés Diniz: experiência e novos desafios

Líder do governo fala de suas novas atribuições e destaca a importância de descentralizar legado deixado por Jorge Viana








 


Renata Brasileiro


Na próxima quinta-feira, o deputado estadual Moisés Diniz (PC do B) completará um mês na função de líder do governo na Assembléia Legislativa.


O parlamentar, que diz ter enfrentado grandes desafios ao longo de sua carreira política, acredita que esta seja a mais espinhosa de todas, apesar de “nobre”.


Moisés Diniz substitui na posição de líder o deputado Francisco Cartaxo, que morreu de câncer há quase dois meses. Apesar do pouco tempo de atuação, já recebeu vários elogios dentro da Casa, pela forma aberta e direta de liderar.


Sem vaidade, Diniz conta que o lugar onde se encontra hoje é conseqüência de uma forte luta política, iniciada ainda na adolescência, quando passou a defender idéias socialistas. Idéias estas que foram sendo evoluídas com a prática em lideranças comunitárias, que cresceram, cresceram até Diniz ser eleito pela primeira vez um verdadeiro representante do povo.


Hoje, aos 43 anos de idade Moisés Diniz carrega uma importante bagagem política. Foi vereador em 1992, em Tarauacá, vice-prefeito em 1996, também naquele município, deputado estadual em 2002, tendo sido reeleito no ano passado.


Este ciclo de vitórias nas urnas ofusca as derrotas que o deputado também carrega em sua trajetória política, quando se candidatou pela primeira em 1988, a vereador de Tarauacá e recebeu 58 votos, e quando se deparou com a mesma derrota, em 2000, quando era candidato à prefeito.


“As derrotas fazem parte da vida política e são importantes para que a gente se fortaleça e queira continuar lutando”, destacou o deputado.


Em entrevista ao jornal Página 20, ontem, o deputado falou sobre seu novo desafio, sobre o partido que lhe acolheu e lhe formou um líder, sobre as estratégias de planejamento do governador Binho Marques e sobre a Reforma Administrativa que será votada na semana que vem, iniciando um novo ciclo de mudanças no Estado – caso seja aprovada.


Como líder do governo, o tempo já foi suficiente para o senhor compreender o tamanho da bagagem ou ainda há muito que enfrentar?


Eu estou ainda em processo de aprendizagem. No meu primeiro mandato eu me auto-intitulei como deputado aprendiz, levando em conta que era uma experiência nova e eu precisava aprender com experiências acumuladas de deputados mais antigos. Então, como líder de governo eu também estou em um processo de aprendizagem porque é uma função difícil, espinhosa. Ela é, sem dúvidas, nobre, por defender um governo como o do Binho Marques, pela sua lealdade, pelos princípios da Frente Popular e pelo seu jeito simples de se relacionar com o poder. O poder é algo altamente perigoso. Diz o ditado que “queres conhecer Bastião que entregue-lhe um bastão. Queres conhecer Inácio, coloque-o no palácio”. E o Binho mesmo sendo o governador do Acre continua com o seu jeito simples de se relacionar com o poder e com as pessoas. Então, é um governo que tem bons propósitos, de incluir os mais pobres em projetos e por isso acho minha tarefa uma tarefa nobre. Quando digo que é espinhosa quero me referir a determinados momentos terei que fazer opções e isso poderá contrariar interesses, seja político ou econômico.


O PC do B tem se mostrado um grande formador de líderes dentro da Câmara e dentro da Aleac. Como o senhor enxerga isso?


O nosso partido, apesar de ter no passado o histórico uma formação muito fechada, evoluiu muito, considerado que é preciso ter uma sociedade socialista com a cara do povo brasileiro. E isso nos leva a ter um partido muito antenado com os problemas do povo. Além disso, trabalhamos com a unidade interna. Essa unidade nos faz construir uma grande escola, pois você não deve ter o mandato para si, você não deve transformar o mandato num negócio. O mandato é, sim, um instrumento de luta em defesa do povo. Então, os partidos que agem assim como o PCdoB, o PSB, o PT e novos partidos que estão surgindo, como o PSOL, esses partidos são naturalmente fábricas de líderes.


O governador Binho Marques disse que o Acre será o melhor lugar para se morar. Como o senhor acha que isso será possível?


Considerando que nós estamos no Acre há oito anos sem dilapidar o patrimônio público. O Acre era um Estado em que os tratores e os postes do governo iam para as fazendas dos deputados. O dinheiro que era para ir para a saúde e para a educação, era usado para construir mansões de políticos e de aliados de políticos. Mas há oito anos os recursos públicos são investidos nos interesses do povo, na saúde, na segurança, na educação, na produção rural. Essa é a nossa luta, com um potencial florestal que nós temos, com um governo ético que nós temos e uma assembléia sem escândalos políticos há nove anos chegaremos muito longe. O governador Jorge Viana construiu a infra-estrutura do nosso Estado e agora o governador Binho Marques quer distribuir esse legado, dando vitalidade à população, garantindo que o poder também chegue às mãos do povo, para que o povo participe da gestão. Assim será possível fazer do Acre o melhor lugar para se viver.


Como o senhor pretende conduzir a bancada de forma que essas melhorias que estão sendo previstas realmente aconteçam?


Através de uma liderança coletiva. Como o meu estilo é de não aparecer, venho de interior, venho de um partido onde a política é feita a partir de diálogos, a partir do convencimento das pessoas, então eu quero conduzir uma liderança coletiva, onde todos os deputados da base estejam na luta e na defesa de projetos da Frente Popular. Eu quero que os deputados da base sejam líderes do governo também, junto comigo. Ou seja, minha função vai ser uma espécie de articulador da base e fazer uma relação respeitosa com a oposição, compreendendo que ela tem um papel fundamental na democracia.


Qual paralelo o senhor faz dos primeiros seis meses do governo Jorge Viana e do governo Binho Marques?


Os primeiros seis meses de governo Jorge Viana foi como chegar a uma casa destruída, chovendo dentro, com móveis quebrados, gente entrando e roubando, e família brigando (alusão aos políticos). Era uma casa totalmente bagunçada e o Jorge Viana teve que usar pouco mais de seis meses para reorganizar tudo isso. O governador Binho Marques encontrou a casa organizada. Agora, ele vai pegar essa casa e utilizar o seu patrimônio para que ele chegue à população mais pobre. A diferença entre os dois governos é que o do Binho, por já ter encontrado a organização, vai ser silencioso. Como já existe uma infra-estrutura, ele vai investir no social.


Como o senhor avalia as matérias encaminhadas pelo governo do Estado à Aleac?


Todas são matérias de alto alcance social. Mas eu quero ressaltar um projeto muito especial, que é a descentralização da gestão da Saúde. O dinheiro a partir de agora ficará direito no hospital, que é uma madeira de os gestores não terem a necessidade de ficar lá do município ligando para o secretário para comprar um insumo que não custa quase nada. A saúde não pode esperar o retorno de um ofício, não pode esperar o retorno de um fax ou de um malote porque o ser humano pode morrer. Portanto, é preciso descentralizar. E descentralizar é colocar o controle dos recursos públicos na mão do povo, através dos conselhos populares de saúde.


A Reforma Administrativa deverá ser votada na próxima semana. O que mudará caso ela seja aprovada?


A Reforma Administrativa adequará a máquina do Governo ao novo projeto da Frente Popular. A máquina anterior cumpriu um papel. Agora tem um novo governo. É do mesmo partido, é da mesma coalizão política, mas há um novo governador com um programa estratégico de governo para os próximos 4 anos, com o objetivo de chegar ao final desta gestão com o Acre sendo o melhor lugar para se viver na Amazônia. Nesse caso, para atender esse objetivo estratégico, a máquina tem que ser readequada.