Cid Gomes se dá nota 3: ''Sou rigoroso''

Governador acredita que ainda chegará à sua média histórica como administrador público, que diz ser 7,5.

Governar o Ceará está sendo mais fácil ou mais difícil do que o senhor esperava?



Está na medida do esperado. Não esperava que fosse nenhuma papa, mas não posso dizer que está sendo a travessia de um deserto. Temos aquilo que é necessário para o primeiro momento de um governo, que é ajustar, compor a máquina. Essa é uma das grandes tarefas. O Estado é uma estrutura muito grande. São 26 secretarias, em torno de 30 órgãos e um conjunto de chefias e diretorias que a gente praticamente recompôs. Na grande maioiria são pessoas novas. Procuramos recrutar no serviço público, mas são pessoas que marcam uma nova quadra no Estado. É um momento para a gente fazer ajustes e tomar algumas medidas. São medidas duras, em que aqui e acolá, embora não seja esse o desejo, a gente acaba atingindo intereses, mas nesses meses, para aquilo que a gente se predispôs, eram essas as tarefas de fazer um planejamento de médio e longo prazos, estão muito bem encaminhados. Temos feito seminários no Interior, setoriais, por área, e isso tudo ajuda para que a gente possa apresentar projetos dos grandes compromissos que assumimos com a população cearense e procurar fontes alternativas. Os nossos recursos permitem uma capacidade de investimento muito baixa. Se a gente não conseguir multiplicar esses recursos, certamente não vamos conseguir o nível de realização de que nós precisamos. Para essa tarefa já foi dado um passo importante. Nós já temos um conjunto de propostas de financiamento. Estamos procurando amiudar quais são os interesses que o Estado precisa fazer e o que ele vai incorporar de investimento para que um maior número de cearenses possam ser beneficiados.


 


Ao longo dos últimos anos nos acostumamos a ouvir sempre o ajuste de máquina, que, me parece, é uma tarefa que não termina nunca. Isso acaba tomando muita energia de todo governante. O que houve? Os governos anteriores não foram competentes ou o governo imediatamente anterior desmontou o que havia sido feito?



Eu fui eleito para olhar para frente. Eu estou disciplinado e educado para olhar para frente. Mas a tarefa de ajuste de máquina, de economia, aquilo que os técnicos chamam de custeio e de sustentação da máquina, isso tem que ser permanentemente vigiado. As coisas evoluem. Por exemplo, o Estado, há seis anos, acertou com uma empresa para que fosse instalada Internet aqui na Capital. Nessa época, a velocidade máxima era 64k, ridícula, se comparada aos padrões de hoje. Na época era muito caro, porque você tinha que instalar toda a estrutura. Na minha casa particular, eu tenho Internet com velocidade de um giga por R$ 130,00. As escolas estão pagando em torno de R$ 500,00. Eu estou dando um exemplo, mas isso vale para tudo. O Estado tem um instituto, que é uma gratificação por trabalho relevante, que é para ser dado em casos absolutamente especiais. Mas isso acabou se incorporando na clientela do Estado, que é coisa natural e histórica de nosso País, e por prazos indefinidos. Isso vale como regra para o dia-a-dia. O meu governo vai se preocupar permanentente com isso. Nossa equipe é nova, estamos chegando. Eu acompanhava os números públicos do governo, mas, a intimidade, só a gente efetivamente chegando lá consegue ver. Azeitar a máquina não é só isso. É também compor as chefias. O serviço público quanto mais profissionalizado melhor. Quanto menos mudança tenha, melhor, com base, essencialmente, em méritos.


 


Que nota o senhor daria para o nível de dificuldade que o senhor encontrou, no início de seu mandato, e que nota o senhor daria para a sua atuação diante dessas dificuldades.


 



Das dificuldades, acho que cinco. Eu já tive dificuldades maiores. Já fui Executivo, já fui prefeito de cidade. Embora lá tivesse um porte menor, o grau de dificuldade era absolutamente muito maior. Eu não gosto muito de dar nota não, mas eu daria cinco.


 


 


A percepção dos resultados de uma administração municipal parece muito mais clara..



 


Sem dúvida alguma. Numa administração municipal você mexe numa máquina que tem dois mil funcionários. Dois mil funcionários tem uma Secretaria de Governo, uma das menores. O governo tem 120 mil, entre funcionários, aposentados, pensionistas e administração indireta. O grau de dificuldade era muito maior, pela situação encontrada quando fui prefeito do que hoje. Eu dou cinco para o grau de dificuldade. Não posso dizer que é fácil, mas também não vou dizer que era o caos. Não vou dizer isso. Em relação a mim, eu dou nota três. Eu sou rigoroso, inclusive comigo mesmo. A minha média histórica é sete e meio, estão está muito longe ainda. De zero a dez. Cinco para as dificuldades e três para mim. Eu tenho que me esforçar muito para honrar a generosa confiança que o povo cearense me distinguiu.


 


 


Os secretários foram exortados a apresentarem projetos para gastar o dinheiro que o governo tem em caixa. Em que medida essa cobrança por secretaria se encaixa dentro do projeto de governo? Em que pé está esse projeto?



 


Nós temos atuado em três frentes. Uma seria a frente do esforço de territorialização dos investimentos. O Ceará precisa dar uma satisfação grande ao Interior do Estado e distribuir à população, inversamente proporcional à renda, a maior parte dos seus investimentos. É um esforço de curto, médio e longo prazos. Nós estamos fazendo os seminários territoriais, onde estamos identificando as demandas para procurar colocar isso como absoluta prioridade aos investimentos. Há um outro trabalho que é setorial. A Secretaria da Cultura está fazendo a constituinte cultural do Ceará; a Secretaria de Recursos Hídricos está revisando todo o plano estadual de recursos hídricos. O Ceará foi um dos Estados pioneiros. Até hoje é um dos poucos estados que tem um plano, e por aí vai. E aí tem um conjunto de compromissos que na campanha eu assumi e que deverão ser observados na aplicação desses investimentos. Eu disse três, mas acabam sendo quatro. Eu também disse na campanha que o governo tem um esforço de trabalhar em conjunto com o governo federal. O governo tem investimentos de interesse do Estado, como a Transnordestina, a integração de bacias, começando pela bacia de São Francisco, a interiorização das universidades, a siderúrgica, a ZPE… tudo isso são ações do governo federal que o Estado precisa desdobrar, multiplicar a sua capacidade de beneficiar a sua população. E, juntando tudo isso, a gente tem possibilidades de demandas de crédito junto a instituições, quer sejam nacionais ou internacionais. Acho que isso acontece pela primeira vez na história do Ceará: em seis meses alguém apresentar à Assembléia já toda a proposta de financiamento para um horizonte de seis anos. As coisas vinham acontecendo aos soluços. Não tinha uma integração. Não tinha um esforço de pensar o conjunto, de pensar o todo. E isso já está na Assembléia Legislativa do Ceará. É esse conjunto aí que é a base do planejamento do Estado. Mas nós queremos, de fato, introduzir a cultura da avaliação dos resultados de cada uma dessas políticas.


 


 


Essa avaliação de desempenho já era discurso de inovação do governo passado…



 


Uma coisa é discurso. Outra coisa é prática


 


 


O senhor acha que foi inócuo?



 


Não me entenda, jamais, como uma pessoa que está fazendo crítica ao passado. Mas eu posso lhe afirmar, na prática, que hoje é praticamente impossível você efetivamente mensurar o resultado das políticas públicas. E eu quero toda a metodologia de definição de investimento vinculada a essa lógica. Hoje não existe. Não é possível fazer. Se fosse possível eu não estava pensando em fazer. Eu já estaria aplicando. Para mim mesmo acompanhar o desempenho nas áreas e também prestar contas à população.


 


 


Essa avaliação é institucionalizada ou terceirizada?



 


Nós estamos fazendo isso a partir de alguns rudimentos que o nosso instituto desenvolveu. Mas a base de dados, os softwares de gestão, a contabilidade, folha de pagamento, pagamento de serviços etc, data de 1974. Nós estamos fazendo um esforço. O governo anterior tinha feito um esforço e tinha concluído por fazer um contrato com uma empresa alemã de software para fazer um sistema de gestão. Nós cancelamos esse contrato e vamos procurar desenvolver com a inteligência local, que eu tenho certeza que tem talento de sobra para isso e para virar referência para o Brasil. Eu tenho procurado pesquisar isso e, na grande maioria dos Estados, esse sistema é muito precário, ou não tem comunicação um com o outro. Você pode até ter um bom sistema de contabilidade, mas não está integrado com o sistema de pagamento, que por sua vez não está integrado com o sistema de compra, que por sua vez não está integrado com o sistema de acompanhamento de projetos etc etc etc. Nós queremos integrar tudo isso. Nós queremos que isso seja feito em um ou dois anos. Para se ter um plano diretor, definir uma base central, e a partir daí definir uma lógica de integração e de poder conversar com esse sistema-mãe.


 


 


Há cerca de dez dias colocou que focos de insatisfação já começam a surgir no meio empresarial, político e sindical, em busca de resultados. Noutra ponta, mais de meio bilhão de reais economizado no primeiro semestre ainda não tem prazo para ser aplicado. Seis meses não é um prazo razoável para ajuste de máquina e começar a aparecer o salto de qualidade que o senhor colocou de maneira tão forte na campanha?



 


Nós temos em andamento diversas obras no Estado do Ceará. Algumas tiveram, até por motivos externos, de ser reavaliadas. Por exemplo, a construção do HGF chegou a ser suspensa pelo Tribunal de Contas da União. Então tudo isso está sendo revisto e deveremos retomar, brevemente, a obra, a partir de uma análise criteriosa sobre os reajustes. Já comecei a estrada do último município do Ceará que não tinha acesso asfáltico, que é o município de Quixeré. Começamos a reforma da estada que liga a BR-230 ao município de Cedro, já estamos reiniciando a restauração que liga a CE-157 ao município de Assaré. Está em andamento, com as obras da estrada Barrento-Aracatiara-Itarema, Mofala, concluindo para Itarema, dando seqüência à de Jijoca-Parazinho-Granja, vamos iniciar da Viçosa-Granja, as coisas estão andando. Estamos com uma reforma no Hospital de Messejana, já compramos um terreno para a construção do hospital lá do Cariri, já encomendamos os carros para o programa Ronda do Quarteirão, já estamos concluindo um projeto para a reforma das delegacias plantonistas de Fortaleza, estamos identificando os terrenos para a construção de 50 novas delegacias no Interior do Estado, estamos recrutando mil policiais militares, estamos treinando alguns para o piloto do Ronda. Se você me perguntar em cada uma das áreas, eu digo que já existem ações práticas. A gente não ficou parado esses seis meses, só fazendo ajuste de máquina não. Nós estamos atuando em várias frentes. Avançamos na questão da siderúrgica. Quando assumi o governo era um assunto praticamente sepultado, estamos apoiando o projeto de transposição do São Francisco, tenho me empenhado pessoalmente para a retomada da obras da Transnordestina, tenho me colocado à disposição da Universidade Federal no esforço de interiorização. Eu vou abusar da boa vontade de vocês e da paciência dos ouvintes se for dizer o que está sendo feito de concreto. Eu não vou dizer que esses seis meses foram de ação. Foram seis meses que se caracterizaram muito mais pelo planejamento, pelo olhar interno, pelo esforço de fazer um pouco de poupança. Também não vou conseguir um financiamento do BNDES, do Banco Mundial, do BID e do governo federal, se eu não tiver os recursos para uma contrapartida. Essa coisa de que eu estou num esforço para gastar 500 milhões de reais não corresponde à verdade.


 


 


Existem esses 500 milhões?



 


Temos. Temos mais de 500 milhões em caixa. Fruto desse esforço. E lhe digo: se não fosse esse esforço inicial, eu estaria penando. Esse é um mês difícil de fechar o caixa, com as entradas e saídas normais. As receitas de um ente federativo, seja um município ou Estado, não são fixas o mês inteiro, o ano inteiro. Variam no começo do ano, em função do próprio processo econômico, que aquece no final do ano anterior. Tem uma séria de receitas que concentram em determinados período do ano. São melhores no início e no final do ano. Meio do ano é problemático. E se a gente não faz uma economia, como a formiga, passar o verão, a gente não vara não. Eu estou vendo por aí já muito governador com a corda no pescoço, porque não fez essa poupança. Nós já fizemos, separadamente, e já nem vejo o saldo do Estado, para não dar a tentação, a provisão para o décimo-terceiro. No dia 16 e 17 agora, eu pago sem nem mexer no controle de saldo. Inclusive fizemos num outro banco. Fizemos na Caixa Econômica. O Estado tem as contas centralizadas no Banco do Brasil. Fizemos na Caixa Econômica, para a gente nem ver. Nem ter notícia daquilo ali. Porque efetivamente é um dinheiro que já tem um destino certo.


 


 


Nesses seis meses, quais foram as áreas mais complicadas, que mais lhe deram dor-de-cabeça?



 


A área que mais me aflige, absolutamente, é a área da Segurança. Pessoalmente me aflige, fico condoído quando vejo uma iniqüidade, quando vejo um policial ser morto. Me dói, pessoalmete, quando vejo essa coisa bárbara, do crime de seqüestro. Tudo isso me dói, pessoalmente. Eu tenho muitas dores em relação a procesos judiciais. Vi um juiz dar uma notificação para que o governo do Estado contrate uma pessoa, porque foi aprovada num concurso público, o que é uma absoluta invasão das prerrogativas. Quem deve dizer isso é o Executivo. Um concurso você faz e fica como reserva.


 


 


Isso é usual?



 


Não. Não vou dizer que é usual, mas acontece. E me incomoda. Nessa questão Justiça-Segurança, há um misto de ações. A Secretaria de Segurança, a Superintendência da Polícia Civil e o Comando da Polícia Militar devem ter mais cuidado na questão dos inquéritos, e motivações formais de uma prisão em flagrante, para que isso não dê brechas para advogados e o Poder Judiciário alegarem. O secretário tem muito disciplina nisso, para dar dura para que as polícias tenham mais eficiência na elaboração dos inquéritos. Mas tem outra coisa que é cultural. É uma herança, um resquício da mudança da ditatura para a democracia. Nós vivemos um período sem liberdade e, quando veio a Constituição de 1988, a coisa foi retomada e a liberdade é o maior patrimônio que a pessoa pode ter. Mas permanece ainda uma coisa de exagero. Permanece ainda uma coisa de falta de direito de defesa, que muitas vezes é usada como chincano, para efetivamente descumprir o que deve ser a grande preocupação, que é a manutenção da ordem. Hoje, a gente deve entrar numa nova cultura, do direito coletivo. Não é mais do direito individual. Nós superamos uma fase, retomamos as liberdades do direito individual. Agora são os direitos coletivos. Há um movimento nacional e isso deve ser levado em conta. Náo podemos aceitar que, em nome de um direito de defesa, a gente fique permitindo a impunidade ou dando margem à impunidade.


 


 


Com relação à profissionalização do funcionalismo público, existia um projeto de autoria do atual secretário da Fazenda, Mauro Filho, que previa que cerca de 6 mil cargos de livre nomeação do governador deveriam ser ocupados por servidores públicos. Outra questão é a composição do seu secretariado. Há casos em que o secretário não conhece o secretário-adjunto e o secretário-adjunto não conhece o secretário. Perde um pouco a unidade. Um pouco diferente do que acontecia no governo Tasso, quando se nomeava um secretário e dava a liberdade para esse secretário compor sua equipe e a cobrança recaía sobre o secretário.



 


Eu advogo a tese de que o serviço público deve ser burocratizado e que a gente deveria ter esse modelo, que dá mais estabilidade para enfrentrar crises, que é o modelo que caracteriza o parlamentarismo. Mas o nosso sistema é presidencialista. O pior dos mundos é você querer implantar o parlamentarista com modelo de legislação de modelo presidencialista. Aí vira o samba do crioulo doido. Vira o caos. Como regra, orientação, foi dado no sentido que fossem recrutados os cargos de chefia, até o DNS-2, pessoas do serviço úblico, mas isso como base. Nas secretarias maiores procuramos fazer isso como perfis. Para o secretário pegamos pessoas que têm lideranças. Você pode ver que todos os secretários têm perfil de liderança na sociedade, que a meu juízo deve ser o perfil de um líder maior de uma área. O secretário-executivo é uma pessoa, via de regra, do serviço público, da máquina pública, mas com esse perfil da pessoa que vai tocar a rotina, os gastos, os custeios, investimentos e a rotina contábil. E o secretário-adjunto uma pessoa que tem um perfil técnico na área. Pode ver que o perfil é esse.


 


 


Isso inclui o irmão do senhor, Ivo Gomes, na Chefia de Gabinete?



 


Chefia de Gabinete não é setorial.


 


 


Mas ele é secretário.



 


É secretário na nomenclatura, mas não é setorial, como Educação, Saúde, Trabalho. Não é um setor. Ele vai cuidar do gabinete, uma coisa mais interna. Não vai prestar serviço à população. Foi uma opção minha. Eu sou uma pessoa que gosto da minha privacidade. Não gosto de misturar as coisas. E chefe de gabinete para mim é uma função de absoluta intimidade, e por isso eu escolhi o Ivo. Já tinha uma experiência com ele, tem talento, seguramente não é por ser meu irmão que está lá. O fato de ele ser meu irmão deu uma liberdade comigo que muita gente não tem. Ele tem mestrado em Harward. É do quadro de procuradores do município. É deputado estadual. Tem uma chancela, uma legitimidade da população. Sob todos os aspectos estariam atendidos os requisitos de competência, habilidade e vínculo com a área.


 


 


Já ocorreu alguma distorção nessa estrutura montada pelo senhor? Teria residido aí o problema Artur Bruno?



 


Não houve, do meu conhecimento, nenhum problema de animosidade e adversidade do triunvirato secretário, secretário-executivo, secretário-adjunto. Não tenho nenhum registro disso. Especificamente do caso Artur Bruno, não tenho nenhum registro. Confio no Bruno. Se ele tivesse qualquer problema me diria. E ainda que me pedisse reserva eu preservaria. Tanto é que ficou todo mundo dizendo que ele sairia e eu dizendo que não. Só quando ele admitiu publicamente, porque ele tinha me procurado na semana passada.


 


 


O senhor foi surpreendido?



 


Absolutamente. Fui surpreendido. Foram questões absolutamente pessoais. Ele disse que está gostando do trabalho, que está identificado com o projeto, que está solidário ao projeto, que vai para a Assembléia defender o projeto.


 


 


Isso são questões pessoais também…



 


Isso são questões políticas.


 


 


Ele explicou quais as questões pessoais?



 


São questões que estão acontecendo dentro da casa dele. Ele alegou, absolutamente, questões pessoais.


 


 


Ele lhe disse?



 


Ele me disse. Mas eu não vou dizer.


 


 


A situação da frota de helicópteros que o Estado tem passou meio ao largo da polêmica Ronda do Quarteirão. Houve um momento de sucateamento das quatro aeronaves e a gente tem o governo do Estado gastando mais de R$ 30 milhões na compra de 200 viaturas, e a gente não ouviu falar nada de recuperação dos helicópteros, muito importante para uma cidade do tamanho de Fortaleza.



 


Nós assumimos com um helicóptero funcionando. Um tinha caído, ficou emprestável. O terceiro tinha sido canibalizado e o quarto estava quebrado. Imediatamente tomamos providências para consertar dois desses quatro que ainda podem vir a funcionar. Infelizmente, são processos demorados. As turbinas têm que ser mandadas para a França, para serem recuperadas. O que está sendo recuperado daria para oito meses. Toda a indústria de helicópteros e aviões está sobrecarregada no mundo inteiro. A Embraer está com pedido até 2022. A Boeing está com pedidos que passam de 2015.


 


 


Em 2007 os helicópteros estarão de volta?



 


Em 2008, a gente vai ter duas aeronaves de volta. O serviço de helicóptero está sendo assegurado de forma terceirizada. Um contrato do governo para serviços que a gente tinha para o governador e os secretários está sendo disponibilizado para o Ciopaer.


 


 


Os investimentos, de cerca de 24 milhões, são quase do tamanho do Ronda do Quarteirão. Eles foram sucateados. Há irresponsabilidade administrativa? E se houver, fica nisso mesmo?



 


Eu estou aqui para olhar para frente. Há instituições aí que têm essa prerrogativa de tomar iniciativas e, se for o caso e desejarem, fazerem investigações etc. Mas eu estou determinado a olhar para frente. A cultura generalizada no serviço público brasileiro é de dar muito pouca atenção à manutenção. Isso é o comum. Faz muito investimento, dá aplauso, dá placa, faz a festa e depois tem que ficar pagando todo mês para aquele negócio ficar funcionando direitinho. Acaba virando quinta prioridade.


 


 


O senhor teme que isso venha a acontecer com os carros do Ronda?



 


Esse foi o principal motivo que me determinou a comprar um carro que tenha uma baixa manutenção. Como regra, os carros nacioais, a gasolina, tem uma depreciação e uma taxa de manutenção muito elevada. Já os carros a diesel, mais robustos, chegam a dar garantia de três anos. Sem limite de quilometragem. Foi isso que me motivou. Eu não tenho nenhum carinho pela Hilux. Eu nem conheço o representante da Hilux em Fortaleza. E esses carros estão sendo comprados direto da fábrica. E muito menos eu sei quem é. O fusca e a Hilux foram os únicos carros que eu já vi em música.


 


 


Tem a Brasília também. A Brasília amarela.



 


Mas aí é debochante.


 


 


Vem aí uma nova polêmica, para definir a operadora do celular do policial.



 


Não vai ser por celular. No celular você não consegue identificar a localização. Você só consegue identificar o número, se a pessoa não bloquear. Nós temos um sistema, que identifica de onde está vindo a chamada.


 


 


A que se deu a escolha do Lino Vilaventura para fazer o uniforme dos policiais?



 


Isso é uma brincadeira. Nós estamos fazendo um concurso, e pessoas vão apresentar. O Lino é um grande cearense, e a gente deve se orgulhar muito dele. Eu disse para ele brincando, que ele poderia participar da escolha. Ele é um grande estilista, reconhecido internacionalmente, por que não? Mas é um concurso. Ele não foi contratado. Eu não posso contratar sem licitação.


 


 


O líder do seu governo na Assembléia, Nelson Martins, enfrenta resistência das corporações. E outro, quase ex-integrante de sua equipe, Artur Bruno, disse que é mais fácil ser oposição do que ser governo. Qual o conselho que o senhor daria?



 


Eu não me julgo em condições de dar conselho a ninguém. Eu vou dizeer o que eu penso. Quem é oposição tem que estar preparado para ser governo. É um resumo resumidíssimo do que eu penso. Não adianta você fazer oposição com demagogia, se quando chegar ao governo não vai poder colocar em prática o que você dizia.


 


 


O PT era demagogo?


 



Não estou fazendo nenhuma ilação. Estou falando em tese. Tem um tipo de político que jamais se imagina que vai ser governo. Para esse aí, o céu de promessa é o limite. Esse aí jamais vai ser governo. No caso do Nelson, ele já é governo federal. Então, se algum conflito houve, não é de agora. E o Nelson é uma pessoa preparada e séria. O Bruno cumpriu um papel extraordinário. Juntou duas secretarias. Teve de fazer ajustes dolorosos e está em paz. Eu só ouço de servidores da secretraria coisas boas.


 


 


A pretensão declarada da senadora Patrícia Saboya, que é do PSB, partido do senhor, de entrar na disputa pela Prefeitura de Fortaleza se choca de frente com a declaração de apoio do senhor à prefeita Luizianne Lins. Isso coloca em risco a composição PSB/PT no governo do Estado?



A Patrícia, ao que me consta, disse que tem um sonho, que é vir a ser prefeita de Fortaleza. Isso é um sonho dela. Se ela vai disputar a eleição agora, daqui a cinco anos, daqui a nove anos – a Patrícia é nova, uma garota ainda -, isso não está decidido. Ela não sabe. Portanto, não há, de partida, nenhum conflito. O que eu depreendi – e isso dá margem, naturalmente, a interpretações subjetivas – é de que ela almeja isso e isso é legítimo. Eu tenho uma convicção muito forte em mim que remete a coisas de valores. Acho que, infelizmente, eles estão muito pouco presentes na vida pública. Virtudes que devem ser cultivadas. E, a meu juízo, gratidão é a grande mãe da grande maioria das virtudes. E isso é um esforço, ninguém nasce com virtudes. É um esforço de educação e um esforço de exercício no dia-a-dia. E eu me esforço para praticar a virtude da gratidão. E se a prefeita Luizianne Lins for candidata à reeleição, eu, pessoalmente, não tenho como não apoiar a prefeita Luizianne Lins. Por uma questão de gratidão. E, naturalmente, vou defender essa posição no meu partido, vou defender entre aquelas pessoas que me ouvem.


 


 


Conversando com a senador Patrícia para que ela recue?



 


Recuar de quê?


 


 


Se a pretensão dela for para 2008…



 


Eu estive ontem (quarta-feira) com a Patrícia. Ela me acompanhou na entrega do projeto da ZPE ao ministro do Desenvolvimento. O que ela diz, e ratificou, e repetiu, é de que tem um sonho de vir a ser prefeita de Fortaleza, o que é algo realmente encantador. Acho Fortaleza uma cidade belíssima, de grandes desafios. Eu disse até que eu, pessoalmente, acho isso um desafio. Então é absolutamente natural, legítimo. Já vão dizer que eu vou ser candidato a prefeito de Fortaleza. Não, mas é porque Fortaleza tem um potencial, e tem desafios nessa área administrativa, que é uma coisa que encanta para quem está na vida pública. Por gosto, por vocação, porque tem vontade de prestar serviço. E é absolutamente legítimo que a senadora Patrícia pense assim. Ela já foi candidata uma vez.


 


 


Com esse encanto aqui pela administração, com a possibilidade de administrar Fortaleza, como o senhor avalia, hoje, a administração da prefeita Luizianne Lins, com dois anos e meio de mandato?



 


Bom, acho que a prefeita avançou num ponto que, a meu juízo, estava esgarçando, diluindo, a capacidade de atuar do poder público municipal. A crônica aqui em Fortaleza, antes da Luizianne, era a crônica da corrupção, que estava entranhada. Desde a merenda escolar, passando pelo lixo, as obras, as empreitadas, enfim, tudo que a gente ouvia, nos últimos anos da administração de Fortaleza, era a crônica da corrupção. Isso não se fala mais. Você pode dizer qualquer coisa da Luizianne, menos que é uma administração corrupta.


 


 


Que ''qualquer coisa'' o senhor diria?



 


Estou dizendo que o crítico pode dizer qualquer coisa. Mesmo o mais azedo crítico respeita e diz que isso é uma página virada, que nessa administração as coisas são certas. E a gente ouve de todo mundo. Então, isso é um avanço importante. Ela encontrou a Prefeitura com muita dívida. Ela já me falou em números da ordem de R$ 260 milhões e já teria pago 70% dessas dívidas. Imagine se ela tivesse podido ter a oportunidade de disponibilizar isso que ela pagou em dívida com investimentos aqui, certamente estaria mais aparente a ação da Prefeitura. Ela tem, ao que me consta, avançado muito nos serviços básicos que a gente acaba, aqui na Aldeota, não conseguindo ver; melhorando a saúde, ampliando as matrículas, melhorando a qualidade da educação, distribuindo fardas. Eu já testemunhei isso andando pelos bairros. Vi toda a garotada de escolas públicas municipais com fardas, direitinho, arrumadinho. Isso tudo mexe com a auto-estima e contribui para melhorar a educação. Agora, acho que falta ainda alguma ação que dê marca à administração e acho que ela está empenhada nisso.


 


 


O que seria, governador?



 


Alguma intervenção mais visível que possa deixar como marca da administração. Tem esses Centros de Cultura que ela quer fazer. Intervenções em áreas grandes aqui como, por exemplo, a área do Pirambú, Barra do Ceará, que ela está trabalhando.


 


 


O senhor tem colocado isso para ela, pessoalmente, nas conversas? O senhor tem colocado essas ansiedades?



 


Não, eu não tenho nenhuma ansiedade, não. Me pediram uma avaliação da administração dela. Acho que a administração dela avançou nesse aspecto da seriedade, que é um grande avanço; avançou nos serviços básicos, que não são serviços visíveis pela Aldeota; na Educação; na Saúde; e que precisa, para ficar… Como, por exemplo, você fala do Brizola, lembra do Cieps. Você fala do Itamar, lembra de alguma coisa. Para ficar como uma marca da gestão. Então, está faltando uma intervenção que, ao que me consta, ela está cuidando. E, no tocante a essas ações na Barra do Ceará e Pirambú – que é a maior concentração urbana, ela repete muito isso, a maior densidade populacional por metro quadrado do País -, ela está trabalhando. Está incluído no PAC, o governo vai ajudar e isso vai demarcar. Ela me mostrou um projeto que é belíssimo. Atende algo em torno de 5 mil famílias, no que concerne à moradia, e faz uma urbanização lá na área que a incorpora, efetivamente, à Fortaleza.


 


 


De zero a dez, governador, quanto o senhor daria para a administração da prefeita Luizianne? Luizianne passaria por média?



 


Bom, eu acho que sim, porque são dois anos e meio. Se você bota que num ano resolveu a questão da honestidade, retomou o zelo com o dinheiro público. E, em outro ano, já avançou em áreas importantes, que considero fundamentais, que são saúde e educação. Falta uma intervenção nessa área urbanística, vinculada com habitação, que acho que vai ficar a marca dela. E cultural, que também é um compromisso dela. E mais esse Hospital da Mulher.


 


 


Governador, mudando agora para economia. Tem dois marcos, apenas potenciais, para a sua gestão. Um seria a siderúrgica, que é um investimento privado. Ouvi do secretário Ivan Bezerra, e de pessoas da equipe dele, que o governo está tranqüilo nas negociações, que o clima é ameno nas negociações com a Petrobrás depois de tudo o que houve nessa novela que todo mundo acompanha. E eu perguntaria, a respeito da siderúrgica, se o senhor já dá esse caso como resolvido. A segunda questão é sobre o Centro de Feiras e Eventos. O governo já definiu o local do Centro?



 


Eu só dou por resolvido uma coisa quando ela, efetivamente, está pronta. Avançou muito, e por dever de justiça – eu tenho frisado sempre muito isso -, devemos ao empenho pessoal do presidente Lula. Ele convocou a ministra Dilma, convocou o ministro Silas Rondeau, das Minas e Energias na época, chamou o ministro Guido Mantega e disse: ''Eu quero que resolva esse problema''. E foi a partir dessa decisão dele que as negociações foram retomadas. Ainda persiste hoje um impasse. Apesar de tudo, você vê que o presidente veio aqui e disse, mas a Petrobrás continua numa questão. Antes era o preço do gás, isso já está resolvido. Agora é o indexador, o que é que vai reajustar esse preço do gás. A Petrobrás está querendo uma coisa e a empresa está querendo o que a Petrobrás propôs há cinco anos, que é o PPI, que é um indicador americano que leva em conta várias commodities. A empresa tem um argumento muito respeitável de que ela já tem uma série de financiamentos já tramitados, já analisados, e que o indexador é o PPI. Mudar o indexador agora implicaria retomar negociações com todas as instituições de financiamento, que não são poucas. São muitas, do Brasil e internacionais. Então, é um complicador. Sobre o Centros de Feiras, eu tenho um compromisso público, pré-eleitoral, com o pessoal da área de Turismo aqui de Fortaleza, com quem me reuni, de construir um Centro de Convenções novo, que dê suporte a um padrão de eventos que o nosso já não consegue mais atender. Eles, na época, diziam que era algo em torno de R$ 70 milhões, R$ 80 milhões. Eu disse ''se for isso, eu assumo o compromisso''. Naturalmente, cheguei, fui cuidar de me aprofundar, e a estimativa aí é de algo em torno de R$ 300 milhões sem levar em conta o terreno. Se for no Poço da Draga é um preço. Se for lá no Centro, como defende muito apaixonadamente o Fausto Nilo, vai ter um outro preço. E tem mais outras oito alternativas dessas, cada uma tem preço, e cada uma delas tem uma vantagem e um aspecto contra. Então, nessa questão, a decisão de fazer já tenho, e farei mesmo que sejam os R$ 300 milhões, R$ 350 milhões, já multiplicando então por cinco ou quatro vezes o que eu me comprometi. Mas isso é importante para o Ceará. O turismo de eventos é que dá estabilidade para os empregos. Ele supre as baixas estações.


 


 


O senhor pretende anunciar quando a decisão?



 


É por isso que eu estou dizendo. É melhor você esgotar com calma todas as ponderações em relação ao lugar para não criar polêmica. Porque aí você tem polêmicas ambientalistas, você tem polêmica disso, daquilo outro.


 


 


Então não há um prazo fechado para isso? O senhor não delimitou um horizonte?



 


Não, não. Até porque as coisas estão de qualquer forma andando. Eu vou ter que ver um financiamento também para isso. Nós estamos trabalhando. Tem gente estudando, tem gente levantando. Nós não estamos parados esperando, não. Nós estamos trabalhando.


 


 


Qual é o critério mais pesado, o preço ou o local?



 


Tudo deve ser levado em conta. Hoje, por exemplo, tem oito itens já examinados em dez alternativas de locais. Vamos incorporar agora o preço. Para isso, a gente precisa de um estudo mais aprofundado. Oito itens, cada um valendo um ponto e o preço valendo dois pontos. Você vê que eu não estou colocando empecilho, porque o preço é uma coisa significativa, mas mesmo assim eu estou colocando apenas duas vezes um dos oito pontos.


 


 


Fonte: Jornal O Povo