John Catalinotto: Povos em luta no Fórum Social dos EUA

Cerca de 10 mil pessoas – representantes de movimentos anti-racistas; agricultores; empregados domésticos; veteranos contra a guerra, ex-prisioneiros e seus famílias; defensores dos direitos de homossexuais, lésbicas, bi e transsexuais; dos direitos das m

Estiveram representados todos os 50 estados do país e mil organizações, e foram realizados mil workshops, encontros e sessões plenárias, uma grandiosa marcha sob o sol escaldante da Geórgia e diversas manifestações. A iniciativa contou ainda com cerca de 400 convidados estrangeiros oriundos de 70 países, incluindo Porto Rico e Ilhas Virgens.



Um aspecto assinalável deste Fórum foi o fato de mais de metade dos participantes serem de origem afro-americana, latina, asiática ou indígena, incluindo muitos imigrantes. O que fez com que o Fórum fosse representativo dos setores mais oprimidos da classe trabalhadora dos EUA. Homens e mulheres de todas as idades marcaram presença, bem como muitos jovens com menos de 30 anos. Camadas sociais que normalmente têm dificuldade em arranjar dinheiro para viajar arranjaram forma de financiar a sua participação.


 


O mesmo se passou com os orientadores dos workshops e o movimento dos veteranos que aprenderam a organizar-se inspirando-se nos movimentos dos Direitos Civis e de Libertação dos Negros, Contra a Guerra do Vietnã e outras lutas que tiveram lugar entre os finais da década de 60 e início da década de 70 do século 20.


 


Os participantes lutam por causas que vão desde os cuidados de saúde no Arizona às condições de vida em West Viriginia, passando pela repressão oficial contra os ex-prisioneiros em Los Angeles. Combatem contra a moderna escravatura dos trabalhadores imigrantes na agricultura e no serviço doméstico.


 


Discutem a conquista de plenos direitos para os “deficientes”, esforçando-se por organizar o trabalho no Sul, combatendo a brutalidade policial, defendendo os direitos dos imigrantes e os direitos reprodutivos, exigindo a libertação de presos políticos como Mumia Abu-Jamal, Leonard Peltier, de defensores da liberdade porto-riquenhos e dos Cinco Patriotas cubanos, bem como dos direitos de cerca de 2,2 milhões de presos de um Estado opressivo, e lutando pelo fim da ocupação da Palestina e do Iraque. Esta lista, como é evidente, não é exaustiva.


 


No Fórum Social Mundial, em 2006, Ricardo Alarcón, de Cuba, e Hugo Chávez, da Venezuela apelaram à transformação dos fóruns sociais em espaços de debate para a organização da luta anti-imperialista. Isso ainda não aconteceu, e o Fórum Social norte-americano teve o mesmo âmbito restrito dos fóruns mundiais. Organizações de Cuba tentaram enviar a Atlanta uma delegação de cerca de 20 pessoas para participarem nos trabalhos do USSF, mas o Departamento de Estado dos EUA recusou-lhes os vistos de entrada. O procurador Roberto González, irmão de René González, um dos Cinco Patriotas cubanos presos, conseguiu estar presente.


 


As organizações anti-imperialistas dos EUA também acreditam que o fórum é uma oportunidade para conhecer e trabalhar com alguns dos mais ativos militantes da luta de classes nos Estados Unidos. Através dos workshops, participando em sessões plenárias, distribuindo e vendendo literatura e trabalhando através da Internet durante os cinco dias, os anti-imperialistas tiveram impacto no USSF.


 


As sessões plenárias – seguidas por 500 a 2 mil pessoas, conforme os temas em debate – deram aos organizadores uma oportunidade para marcar o tom do fórum e aprofundar seis temas de luta: Reconstrução da Costa do Golfo após o furacão Katrina; Guerra, Militarismo e a Prisão do Complexo Industrial; As Vozes Indígenas: do Coração da Mãe Terra; Direitos dos Imigrantes; Libertação de Gênero e Sexualidade; Integração de Gênero e Justiça Social nos Nossos Movimentos; e Direitos dos Trabalhadores na Economia Global.


 


Imani Henry, do International Action Center, que é igualmente um ativista destacado no grupo dos direitos dos transsexuais, TransJustice, teve coragem de levantar a questão dos Cinco Patriotas cubanos na sessão sobre igualdade de gênero – foi a única vez em que este importante caso foi tratado em plenário. Henry também falou sobre o caso das Quatro de New Jersey – lésbicas afro-americanas condenadas a mais de 11 anos de prisão em Junho último por defenderem os seus direitos.


 


Henry apelou ainda a que Setembro seja um mês de luta contra a guerra, e o seu grito pelo fim do capitalismo e pela construção de uma sociedade socialista recebeu uma estrondosa ovação. Esta resposta positiva demonstra que, mesmo no coração do mundo imperialista, uma audiência de ativistas pode apoiar, nas condições adequadas, um discurso pró socialista.


 


(Na “Assembléia do Povo”, a sessão de encerramento do USSF, Catalinotto propôs uma série de protestos anti-guerra a serem realizados em Washington no final de setembro, durante o debate no Congresso sobre a ocupação do Iraque.)