Colunista de “O Globo” insinua que Ciro se aproxima de Aécio
As insatisfações do deputado federal Ciro Gomes com o Partido dos Trabalhadores(PT), não diminuem, nem mesmo com os apelos do presidente Lula. Na edição desta segunda, 23, o jornalista Ilimar Santos, de O Globo, relata na sua coluna que Ciro não se confor
Publicado 23/07/2007 17:55
Ciro acha que um nome lançado pelo presidente Lula ou de um partido de sua base aliada só tem chances se o PSDB descartar Aécio e apostar na candidatura do governador José Serra. Com essas declarações, Ciro acaba fortalecendo o discurso do senador Tasso Jereissati de que o deputado federal cearense toparia ser vice numa chapa de Aécio. Leia abaixo a entrevista concedida na semana passada por Ciro Gomes ao jornal O Estado de São Paulo e reproduzida no site oficial de seu partido, o PSB:
Deputado Ciro Gomes (PSB-CE): “Eu defendo o governo, mas não estou satisfeito com o desempenho de setores como saúde, educação e segurança”
Com a língua afiada e o raciocínio rápido de sempre, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) defendeu nesta semana que a coalizão de apoio ao governo Lula discuta um projeto com “início, meio e fim” para fortalecer o segundo mandato do atual presidente da República. Perguntado de forma insistente se é candidato ao lugar hoje ocupado pelo amigo sindicalista, o ex-ministro da Integração Nacional foi enfático: “Em vez de discutir candidaturas, temos de cimentar um projeto para o dia seguinte da saída do governo Lula”.
Embora elogie Lula e defenda o governo, Ciro afirma que não está satisfeito com o seu desempenho em setores cruciais como saúde, educação e segurança. “O ano 2010 ainda está longe e há muito trabalho ainda para se fazer”, justificou, entrevista à Agência Estado. Para Ciro, os avanços obtidos no primeiro mandato não serão suficientes para um bom desempenho do candidato à Presidência a ser apoiado por Lula, “seja ele quem for”. O deputado alertou que “o outro lado” (entenda-se Tucanos/Democratas) poderá sair favorito na corrida eleitoral, mesmo que o atual presidente esteja bem avaliado ao final de seu governo.
Confira a íntegra da entrevista:
Como anda sua candidatura a presidente?
Não anda. Eu tenho juízo. Ao contrário de muita gente, acho que o outro lado, leia-se PSDB-Democratas, é potencial favorito nas próximas eleições. Uma engenharia que unifique o PSDB ao redor da candidatura do Aécio (Neves, governador de Minas Gerais) deixa essa coalizão favorita, ainda que Lula esteja bastante bem.
Esta é uma hipótese. Mas e se o candidato for o José Serra?
Se o candidato for Serra, esse favoritismo se atenua, porque ele perde em Minas, no Rio e não entra no Nordeste. Mas duas coisas podem compensar o favoritismo dos tucanos com Aécio: primeiro, um incontrastável êxito no segundo governo Lula; segundo, muito juízo, que não é o que está sobrando na coalizão.
Quem não está agindo com juízo?
A marcha do contra-senso tem um símbolo, que foi a forma como se tangeu a eleição para a presidência da Câmara (com dois candidatos da base aliada: Arlindo Chinaglia, do PT, e Aldo Rebelo, do PC do B). É que o presidente Lula tem muita sorte. Além de ser muito trabalhador, sério e competente, ele tem uma estrela que é do tamanho do planeta.
Essa marcha do contra-senso ainda persiste?
Acho que não. Tenho conversado freneticamente e a primeira questão é: não se pode ter um candidato hoje. Se eu disser que não quero ser, estou mentindo. Eu amadureci muito e aprendi com Lula. Mas é preciso que ninguém se antecipe nem vete ninguém. Precisamos combinar o que o País precisa no dia seguinte do governo Lula. Eu não estou feliz.
Por quê?
Acho que estamos muito bem, olhando pelo retrovisor. Mas, se olharmos os problemas do Brasil e o potencial do País, estamos muito aquém.
O sr. crê que haverá um único candidato da coalizão?
Estou tentando ser um estadista e vocês não deixam (risos). É da natureza do PT que ele tenha candidato e afirmo a vocês que poderá ser ou não o nosso.
O sr. será candidato com ou sem o apoio de Lula? Enfrentaria o PT?
Nós tudo fazemos hoje para garantir que o presidente Lula pilote, em 2010, um incontrastável sucesso. Não vejo que sucesso sejam os méritos do primeiro governo, que estão norteando a atual avaliação. As pessoas, naturalmente, querem mais. No futuro temos a questão da infra-estrutura e uma sombra grave, que é a falta de energia. A segunda circunstância é juízo político. Eu não aceito ser vetado, não me atribuo o direito de vetar ninguém e considero que nós tínhamos de cimentar um projeto para o dia seguinte da saída do governo Lula.
Mas o projeto pós-Lula deve começar agora?
Acho que sim. Temos de começar a pensar e institucionalizar um projeto progressista para o País. Hoje, o projeto está se desenhando, mas é muito dependente do presidente Lula. É preciso sinalizar para o futuro. Nós debelamos o incêndio. O País está em melhor situação de fundamentos econômicos dos últimos 20 anos, com o maior nível de reserva cambial da história, menor taxa de juro real. Qual a política econômica do País? Câmbio flutuante, meta de inflação, superávit primário… Fica se repetindo isso como um mantra. Mas isso é meio, não é fim. Há coisas graves a resolver.
Que coisas?
Estamos com 10% de desemprego. Cresce em 22% a demanda por passagem aérea e tudo entra em colapso. O País volta a crescer 5% e pode faltar energia. Tudo bem, está tudo melhor. Mas olhando para trás. E a agenda do povo? Emprego, salário, saúde, segurança pública… Está todo mundo apavorado no País.
Não existe um projeto para o País?
Com começo, meio e fim, não. Mas é o maior projeto que o País tem desde muitos anos.
E as questões mais do cotidiano da população, como estão?
O que está acontecendo nos hospitais das grandes cidades brasileiras não faz sentido. É incompreensível, é criminoso, bárbaro! A educação está piorando no Brasil. No limiar do Século 21, a gente com tudo na mão e o capital humano está sendo deteriorado, não incrementado.
Como desatar esse nó?
Para cobrir isso, o País precisa crescer mais, desde que não traga inflação.
O Senado vive uma grande crise. O senador Renan Calheiros deveria se afastar da presidência?
Não acho que o Renan devia ou não devia ter saído. Eu sairia. Mas ética não é coisa que se ensine. No Brasil estão se produzindo os oportunistas da ética, políticos que querem ser o chicote moral da Nação. Isso também não é ético. Em favor do Renan devem ser chamados princípios que vale repetir: todos são inocentes até que se prove a culpa. Mas o Senado tem obrigação política de achar solução rápida. É um beco sem saída.
Além da crise, os partidos da base, em especial o PMDB, têm cobrado cargos. É possível construir maioria sem esse “toma-lá-dá-cá”?
Pela tradição brasileira, aparentemente não. Mas há limites. Não se pode dar um cargo para alguém que seja corrupto. Aquele que usar questões de ordem pública para atingir esses objetivos estará cometendo atentado violento ao pudor.
Por que a reforma política terminou nesse fracasso retumbante?
Por que fracasso retumbante? Para mim, que sou novato aqui, foi o mais rico debate desta legislatura até o momento. O grande problema de baixa produtividade do Congresso é que estamos obrigados ou a virar patrocinadores de micro interesses locais ou a nos fragmentar em especializações, virando especialistas em bacia leiteira e tal. Uma reforma política pode ser simplesmente a constatação de que é assim mesmo que a gente quer persistir. Ou então que precisamos votar o fim da coligação proporcional e aprovar a federação de partidos e a fidelidade partidária.
Por falar em projeto, o PAC não virou um programa de marketing?
Se você achar que marketing são 1.646 intervenções orgânicas no território, com começo, meio e fim… Está com problema de gestão (o PAC) do pescoço para baixo, porque a Dilma (Rousseff, ministra da Casa Civil) é um avião extraordinário, melhorou muito. E tem problema de coordenação: o Ibama fazer o que faz não é razoável.
A transposição do Rio São Francisco agora vai sair?
Aquilo não justificava a polêmica toda. A obra é muito simples, basicamente escavação e revestimentos.
As resistências são contornáveis?
Estão reduzidas ao gueto do protocomunismo. É um negócio absurdo. O São Francisco é a maior obra de reconversão ambiental da história do Brasil, depois de Cubatão, que foi o Franco Montoro (governador de São Paulo, morto em 1999) que fez, quando não era moda. A resistência é porque tem um bocado de gente legal falando, padre de batina (d. Luiz Flávio Cappio). Vai fazer o quê?
Fonte: Agência Estado