Metalúrgicos de Caxias aprovam ''estado de greve''
Na manhã desta segunda-feira (23), após caminhada, cerca de 5 mil metalúrgicos se reuniram em frente à sede do sindicato em assembléia geral, no centro de Caxias do Sul. Reprovaram por unanimidade a proposta patronal de 5,2% de reajuste e foi apr
Publicado 23/07/2007 17:37
As mobilizações começaram ainda no final da tarde de domingo (22), nas empresas Randon e Fras-le. Os sindicalistas permaneceram nas portas de fábrica, convocando os trabalhadores para a assembléia do dia seguinte. Já por volta das 4h da manhã de segunda-feira, sob uma temperatura de 3 graus, iniciaram os piquetes em dezenas de indústrias. Em poucas horas formaram-se grandes contingentes de trabalhadores que, em seguida, dirigiram-se em marcha para o centro da cidade, local da assembléia.
No caminho, os carros de som davam o tom da luta de dissídio dos metalúrgicos. Lideranças sindicais se revezavam com discursos enaltecendo a luta da categoria, às principais reivindicações e pedindo o apoio da comunidade.
Nem mesmo o frio intenso conteve o ímpeto dos trabalhadores. Foram três marchas, reunindo milhares de metalúrgicos em cada uma. A primeira partiu da Marcopolo Ana Rech, pela BR 116, e adentrou o centro de Caxias do Sul pela avenida Julio de Castilhos. A segunda partiu da frente das empresas Madal e Tedesco, também percorreu a BR 116 até encontrar os trabalhadores que estavam em piquete na unidade da Marcopolo Planalto. A marcha ainda foi engrossada com os trabalhadores da Invencys e Metalcorte. Após, subiu pela Alfredo Chaves, passou em frente à Prefeitura Municipal e dirigiu-se ao sindicato. A outra partiu do distrito industrial, na RS 122. No caminho foram se somando as caminhadas dos trabalhadores da Lupatech, Multisul, San Martin, Cemar e Amalcaburio.
''Os trabalhadores estão reunidos na sua casa''. Assim se referiu a assembléia o presidente do sindicato, Assis Melo. Segundo ele, este dia de luta dos metalúrgicos de Caxias do Sul em campanha salarial, ''é o dia que os trabalhadores, que diariamente produzem os lucros dos patrões, escolheram para prozurir para sí, para a sua valorização, através da união e mobilização''. Aos poucos a rua Bento Gonçalves, na frente do sindicato, foi ficando completamente tomada. A cada marcha que chegava havia entusiasmada recepção dos trabalhadores.
O dia para qual foi marcado a assembléia alterou um padrão histórico do sindicato – de realizar assembléias de dissídio nos sábados pela manhã – dia de folga de grande parte dos trabalhadores. Esta assembléia, em pleno dia normal de trabalho, serviu como um dia de paralisação dos metalúrgicos, para pressionar os patrões no atendimento das reivindicações.
Solidariedade de classe
A assembléia se constituiu também como um ato de solidariedade dos trabalhadores. Participaram da atividade diversas entidades sindicais de metalúrgicos e outras categorias, do estado e país. Entre elas os sindicatos de metalúrgicos de Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo, Pelotas, Charqueadas, Horizontina e Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro; Sindicato dos Comerciários de Caxias do Sul, Cpers, Sindicato dos Trabalhadores nas indústrias de alimentação, Sindicato dos Trabalhadores em Turismo e Hospedagem, Sindicato dos Empregados em Indústrias de Refeições Coletivas, Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, restaurantes e bares, Sindicato dos Trabalhadores em Asseio e Conservação e Sindlimp. Além destes estavam presentes representantes da Federação dos Comerciários do RS e da Federação dos Metalúrgicos.
Para o presidente da Federação dos Metalúrgicos, Miltom Viário, a assembléia revelou a disposição de luta dos metalúrgicos de Caxias. ''Temos aqui uma grande demonstração de dignidade e solidariedade dos trabalhadores, que querem garantir com a sua luta justa, avanço nos direitos e valorização do seu trabalho''. Viário expôs aos presentes os desafios da luta geral dos metalúrgicos no estado e no país. ''A luta dos metalúrgicos de Caxias é parte da uma jornada nacional de lutas.'' Esta jornada, segundo ele, tem como bandeiras centrais a recuperação da massa salarial da categoria, a redução da jornada de trabalho sem redução dos salários, o retorno da aposentadoria especial, unificação da data base e formação de uma comissão da valorização do trabalho no Congresso Nacional. Viário informou ainda que, entre os dias 14 e 16 de agosto, ocorre acampamento dos metalúrgicos em Brasília para pressionar deputados e senadores a colocar em pauta as reivindicações dos trabalhadores.
O presidente da FECOSUL (Federação dos Comerciários do RS), Guiomar Vidor, salientou que há muito não havia uma grande assembléia com esta. Também valorizou a importância da unidade do movimento sindical em favor das transformações que o país precisa, com ''valorização do trabalho, empregos, distribuição de renda e nenhum direito a menos''.
Outra liderança que valorizou a mobilização dos metalúrgicos foi a representante do Cpers e vice-presidente da CUT RS, Rejane de Oliveira. ''Os metalúrgicos de Caxias estão dando uma lição de coragem e de luta''.
Apoio importante para a luta dos metalúrgicos de Caxias do Sul foi do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, através da presença do seu presidente, Maurício Ramos. ''Venho trazer o apoio dos metalúrgicos do Rio de Janeiro. Impressionou-me a mobilização dos trabalhadores e o apoio que o sindicato tem na categoria''.
Ampliar a mobilização
Ao informar os trabalhadores sobre a pauta da assembléia, Melo antecipou que, na verdade, a atual proposta da patronal, de 5,2% de reajuste, já havia sido rejeitada nas diversas mobilizações nas fábricas nos últimos dias. Os trabalhadores apenas referendaram esta decisão, e rejeitaram em uníssono a proposta, considerada rebaixada.
A novidade foi a aprovação, por unanimidade, do ''estado de greve''. Melo procurou esclarecer que a intenção não é partir para a greve imediatamente, mas continuar ampliando a mobilização. ''Caso seja necessário iremos sim à greve. Mas esta alternativa é o último recurso'', salientou.
Até o momento houve oito reuniões de negociação, em mais de 60 dias de campanha. A patronal apresentou índice de 5,2% e optou por não acatar nenhuma das principais reivindicações apresentadas pelo sindicato. São elas: a redução da jornada sem redução de salários; piso normativo de R$ 1 mil; insalubridade para toda a categoria; desconto máximo de 3% do piso para transporte; auxílio-creche e unificação da data-base para setembro.
Para o sindicato, a postura da patronal na negociação tem sido de intransigência e ganância, já que os altos lucros apresentados justificam melhor valorização do trabalho dos metalúrgicos.
Truculência na Randon
A empresa Randon entrou com solicitação de Interdito Proibitório na noite de domingo, que foi acatado pela juíza Fernanda Prodst, da 4 Vara do Trabalho de Caxias do Sul. A determinação judicial, considerada anti-democrática pelo sindicato, definiu multa de R$ 10 mil por cada dia de piquete realizado na frente da empresa. Além disso a empresa contratou dezenas de seguranças e contou com a atuação do Pelotão de Choque da Brigada Militar, para obrigar os trabalhadores a entrar na empresa. Mesmo assim dezenas de trabalhadores se somaram aos demais metalúrgicos em marcha e participaram da assembléia.
''Consideramos que este instrumento do Interdito é uma aberração anti-democrática. Estamos entrando com recurso no judiciário para reverter esta situação e garantir o direito do trabalhador de se mobilizar'', sentenciou Melo.
Nova negociação
Não havia nenhuma reunião de negociação marcada entre trabalhadores e patrões. Após a assembléia, a patronal realizou contato com a direção do sindicato, solicitou uma trégua nas mobilizações e uma reunião para a terça-feira (24).
A assembléia foi representativa, contou com a participação de trabalhadores das principais empresas metalúrgicas, como os da Marcopolo, San Marino, Mundial, Metalcorte, Agrale, Guerra, Dambroz, Randon, Madal, Tedesco, Invencis, Amalcabúrio, San Martin, Lupatech, Cemar, Fras-le e Multisul.
Caxias do Sul é o maior pólo metal-mecânico do RS. Ao todo são mais de 43 mil trabalhadores que compõem a base territorial abrangida pelo sindicato. A data-base dos metalúrgicos é junho.
De Caxias do Sul
Clomar Porto e Tyele Antonaci