Ubes comemora seus 59 anos de lutas e conquistas
A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) completou nesta quarta (25) 59 anos de lutas e conquistas. Fundada em 25 de julho de 1948, a entidade esteve sempre mobilizada, levando milhares de estudantes as ruas das “Diretas Já” ao “Fora Collor”
Publicado 26/07/2007 17:38
O presidente da Ubes, Thiago Franco, ao ser perguntado sobre quais são os presentes que os estudantes brasileiros merecem no momento em que a entidade completa 59 anos, repondeu “queremos novas políticas públicas de educação, uma escola mais democrática, maior desenvolvimento nacional com mudanças na economia do país, e a conquista de mais direitos para a juventude”.
Nesta quarta-feira, 25 de julho, quando a Ubes comemora seu aniversário, a entidade reconhece que os jovens brasileiros ainda precisam ganhar muito, mas acredita que essas conquistas dependem dos estudantes. “Os únicos que podem nos dar esses presentes somos nós mesmos, através da nossa organização e da construção coletiva de um futuro melhor”, afirmou Thiago Franco.
Participação versus desânimo
Em um momento em que se alardeia o desânimo da juventude brasileira e o descrédito em relação às instituições e sistemas políticos, a Ubes comemora seu aniversário prometendo mais vigor nas suas ações e chamando os jovens de todos os cantos para somar.
Segundo a entidade, o número de grêmios nas escolas têm crescido, assim como estão aumentando as instituições municipais e estaduais de representação secundarista. “Mesmo com os escândalos políticos, as crises, os números mostram que o jovem está cada vez presente”, disse Thiago. Ele citou, como exemplo, o aumento considerável no número de eleitores de 16 e 17 anos nas últimas eleições.
“Sabemos que grande parte desse avanço se deu por conta de campanhas do movimento estudantil, como a “Se Liga 16″, que a Ubes mantém há muitos anos em todo o país”, completou.
Novos desafios
A expectativa da Ubes, nesse momento de sua existência, é reconstruir toda a estrutura nacional do movimento estudantil que foi destruída pela ditadura militar. No período que compreendeu os anos de 1968 e 1981, a entidade foi posta na ilegalidade pelo regime.
Além disso, a Ubes está na linha de frente das questões mais urgentes do jovem brasileiro, como o acesso ao Passe Estudantil, a Implementação do Ensino da Sociologia e Filosofia nas escolas brasileiras, a criação de um plano nacional de apoio ao Ensino Profissionalizante e o repúdio total à proposta de redução da maioridade penal na legislação brasileira.
Ubes de volta pra casa
No ano de seus 59º aniversário, os secundaristas retornaram bravamente para o seu lugar merecido, no endereço da Praia do Flamengo, 132, Rio de Janeiro. A sede da entidade funcionou naquele local, juntamente com a da UNE até 1964, quando os militares invadiram e incendiaram o prédio.
Durante décadas, os estudantes tentaram sem sucesso reaver o seu terreno histórico, o que aconteceu no dia 1º de fevereiro, no encerramento da 5ª Bienal de Arte e Cultura da UNE. Cerca de cinco mil estudantes, entre universitários e secundaristas, reconquistaram o espaço, onde funcionava um estacionamento irregular. Acampados lá por alguns meses, conseguiram a vitória na justiça que garantiu a posse do espaço.
10º Coneg
A diretoria da Ubes se reuniu em Brasília, nos últimos dias 10 e 11 de julho, para discutir e deliberar sobre as ações da entidade para os próximos meses. Estiveram presentes 120 lideranças estudantis. Os estudantes convocaram o 10º Conselho nacional de Entidades Gerais (Coneg) da Ubes. O encontro será entre 6 e 9 de setembro, em local a ser definido.
No Coneg, dois assuntos devem ganhar destaque. Um deles diz respeito à posição da entidade sobre o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) do governo federal. Outra discussão que terá peso durante o encontro envolve as possibilidades de mudanças no Congresso Nacional da Ubes. Os estudantes discutirão novas formas de ampliar e democratizar ainda mais a participação dos secundaristas brasileiros na entidade. A Ubes espera reunir mais 100 entidades estaduais e municipais no seu 10º Coneg.
História
Desde as décadas de 30 e 40, os estudantes secundaristas já se organizavam em diversas regiões para debater a educação no país. A maioria desses grupos surgia dentro das escolas, nos grêmios dos antigos colégios estaduais, os chamados Liceus. Os secundaristas conseguiram, com muito esforço realizar o seu primeiro congresso nacional em 1948, no Rio de Janeiro. A Ubes foi criada no dia 25 de julho daquele ano.
Na década de 50, a Ubes cresceu, os estudantes se mobilizavam por mais bolsas de ensino, material didático e melhores condições para os alunos carentes. No início da década de 60, durante os governos Jânio Quadros e João Goulart, os estudantes passaram a integrar a Frente de Mobilização Popular, que envolvia outros importantes movimentos sociais brasileiros da época.
A Ubes recebeu um duro golpe com a chegada dos militares ao poder. As lideranças estudantis foram perseguidas e presas. Muitos militantes fugiram ou foram exilados. A situação se tornou mais complicada com o Ato Institucional 5, em 1968. Todas as atividades estudantis foram postas na ilegalidade,
Edson Luís
Um episódio então marcou a história da Ubes e do país no dia 28 de março de 1968. Uma manifestação no Rio de Janeiro contra o fim de um restaurante popular resultou no assassinato do estudante secundarista Edson Luís Lima Souto, de 16 anos. Edson tornou-se o símbolo da resistência não só para os estudantes, mas para todos os que lutaram e sonharam com o fim da ditadura e a recuperação da liberdade.
A reconstrução veio aos poucos, a partir de 1977. Algumas entidades secundaristas conseguiram fortalecer a sua atuação nos chamados centros cívicos de algumas cidades e começaram a reaparecer alguns grêmios e um movimento nacional pelo renascimento da Ubes. A consolidação aconteceu com muito esforço em 1981, em Curitiba.
Em 1984, a Ubes participou ativamente da campanha Diretas Já e apoiou a eleição de Tancredo Neves. O então presidente da entidade Apolinário Rebelo foi o primeiro a discursar no famoso Comício da Candelária que reuniu um milhão de pessoas. Os estudantes pintaram o rosto de verde e amarelo e foram para as ruas exigir a democracia de volta no país.
Pouco tempo depois, durante o governo do presidente Fernando Collor, os secundaristas de caras pintadas seriam novamente protagonistas de um episódio marcante na vida do país. Em 1992, ainda em fase de reestruturação, a Ubes liderou o movimento que ficou conhecido como o “Fora Collor”, com participação de vários seguimentos da sociedade. Os secundaristas eram maioria nas manifestações que pipocavam por todo país exigindo o impeachment do presidente corrupto
Após quase 60 anos de história, a Ubes continua a favor da juventude e da cultura. Os “secundaristas sessentões” ainda são os mesmos, continuam rebeldes, com causa e personalidade para transformar o Brasil.