Bolívia se divide em torno da data final da Constituinte

Milhares de camponeses começaram nesta sexta-feira (27), em Sucre, uma vigília de apoio à Constituinte, em meio às mobilizações que dividem a Bolívia e às discussões sobre a ampliação do prazo de 6 de agosto – definido como data de entrega da nova constit

Antes de se reunirem em um estádio de esportes para uma “cúpula social”, os camponeses se concentraram no centro urbano de Sucre com uma marcha que se manifestava com gritos de “não permitiremos que fracasse a Constituinte”.


 


O ingresso dos camponeses, em sua maioria cobertos com poncho vermelho e procedentes de La Paz, arrancou em sua passagem os cartazes que apoiavam o traslado da capital para Sucre.


 


Os mesmos camponeses participaram de modo massivo há uma semana em um conselho em La Paz. Lá, mais de um milhão de pessoas decidiu que os representantes deste departamento (Estado) na Constituinte impeçam “por todos os meios” o pedido de Sucre.


 


Os camponeses, em sua maioria da parte ocidental, exigem também autonomia para os povos originários, em resposta à demanda de autonomia departamental das organizações cívicas de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando, na região oriental.


 


Eventual translado da capital e o regime de autonomia são os dois temas de maior divisão dentro da Assembléia de 255 membros que se reúnem em Sucre, 720 quilômetros a sudeste de La Paz.


 


Os camponeses atribuem “ao neoliberalismo e aos partidos tradicionais que não querem a mudança (na Constituição)” a exigência sobre a capital na Constituinte, para fazê-la fracassar.


 


“Queremos uma constituição para todos os bolivianos para que sejamos parte deste país. Não nos preocupa a questão da capital, porque é uma proposta da direita, de quem quer fazer a Constituinte fracassar”, explicou durante a marcha um dos dirigentes dos camponeses.


 


Também o presidente Evo Morales advertiu várias vezes que esse tema poderia levar ao fracasso da Assembléia e a um confronto entre as regiões – motivo pelo qual pediu que não seja discutido na Constituinte.


 


Os camponeses advertiram que montariam guarda em torno da sede da Assembléia para que suas demandas sejam atendidas e que seja entregue o projeto completo da nova Constituição em 6 de agosto. Até o momento, nenhum de seus 700 artigos foi aprovado em plenário.


 


Os representantes do governista Movimento ao Socialismo (MAS), que tem maioria simples na Assembléia, decidiram apresentar um projeto completo, com o sem apoio da oposição, para cumprir o prazo previsto.


 


A discussão e aprovação em detalhe e em revisão, para aprová-la por dois terços, como estipula o regulamento, aconteceria caso se amplie o prazo até dezembro, como se propõe.


 


No Congresso, governo e oposição buscam um pacto político “que também poderá contribuir para futuros acordos”, segundo o vice-presidente Álvaro García Linera, para ampliar o prazo da Constituinte.


 


A oposição exige um compromisso formal do governo de aprovar por dois terços a nova Constituição para autorizar o prazo ampliado e reconhece que esta medida é fundamental para evitar seu fracasso.


 


“Caso a Assembléia seja fechada, o povo perderá toda expectativa – e o conflito alcançará as ruas”, advertiu o deputado Carlos Borth, do opositor Poder Democrático Social (Podemos).


 


Segundo o presidente do Senado, José Villavicencio, do também opositor Unidade Nacional (UN), “existem várias cartas de pessoas pedindo o fechamento da Constituinte e que seja negado um prazo maior”.


 


Nessa posição está a Central Obrera Boliviana (COB), cujo secretário-executivo, Pedro Montes, exigiu na quinta-feira que a Constituinte encerre seus trabalhos em 6 de agosto. Montes presidiu na quinta-feira uma manifestação em Potosí, no sul do país, que se anuncia como precursora de uma marcha que nos próximos dias “chegará até La Paz contra essa chacota de Constituinte maldita que tem em Sucre e que está dividindo o país, de leste a oeste, com essa coisa da capital e da autonomia”.