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História do movimento estudantil: a Fênix UNE

Dando contibuidade a série sobre a história do movimento estudantil o Vermelho publica o penúltimo artigo da jornalista e pesquisadora do Museu da Pessoa, Carolina Ruy. Intitulado ''A reconstrução da UNE'', o texto passa pelos cenário que

Reconstrução da UNE


 


Por Carolina Ruy* 
 


Apesar da dissolução da UNE, em 1973 determinada pela diretoria da entidade, devido ao desgaste provocado pela repressão militar, o movimento estudantil não demorou a ressurgir. Conforme o sociólogo, arquivista da Fundação Perseu Abramo, Menegozzo, ainda em 1970 e 1971, uma nova geração de estudantes, recém ingressos nas universidades e que eram desvinculado da rede de contatos diretos da UNE, protagonizou movimentos reivindicatórios relacionados aos altos preços e baixa qualidade dos restaurantes universitários e à cobrança de mensalidades nas instituições públicas. Parte destes estudantes mantinham vínculos com grupos de esquerda, tanto com aqueles críticos à luta armada, quanto com os que assumiam os movimentos de massa como oportunidade de recrutamento para guerrilha.


 


Este era o caso do estudante de geologia Alexandre Vanucchi Leme, que mantinha relações com quadros da ALN. A morte de Vanucchi na prisão, pela polícia, causou grande revolta na população, reforçada, posteriormente, pelo assassinato, em condições semelhantes, do jornalista Wladimir Herzog, em 1975. A missa de sétimo dia, celebrada por dom Paulo Evaristo Arns, acompanhada por mais de cinco mil pessoas, na Praça da Sé, São Paulo, por ocasião da morte de Alexandre Vanucchi, pode ser considerada a primeira grande manifestação pela volta da democracia.


 


Segundo Menegozzo, os protestos localizados ocorridos em diversos pontos do país, que possibilitaram a reorganizam de muitos DCEs, criaram as condições iniciais para a retomada do movimento estudantil em nível nacional, iniciada em 1976 com a convocação do 1o e 2o Encontros Nacionais de Estudantes (ENE), ainda pouco representativos. Em 1977 ocorreram grandes manifestações de rua em São Paulo ''pelas liberdades democráticas'', as primeiras manifestações públicas de massa desde os anos 60. Logo em seguida foi realizado o 3o ENE, inicialmente convocado para Minas Gerais e realizado na PUC-SP, delibera a formação de uma comissão responsável por coordenar as lutas estudantis e encaminhar a reorganização da UNE, chamada Comissão Pró-UNE. Em resposta à realização do Encontro, a PUC foi invadida e depredada por forças policiais.


 


Recosntrução


 


No ano seguinte, no 4o ENE, realizado na FAU-USP, finalmente convocou-se o Congresso de Reconstrução da UNE, que ocorreu em 1979 em Salvador. Segundo Carlos Menegozzo, um fato curioso é que este Congresso é considerado uma continuidade do 31o Congresso realizado em 1971, pouco conhecido no período de refundação da UNE e reconhecido como pouco representativo pela própria entidade. ”No Congresso, como era costume o comparecimento do presidente que deixa o cargo, foi reservada uma cadeira vazia, e colocada uma grande bandeira com o rosto de Honestino Guimarães, um ato simbólico e uma homenagem ao ex-presidente assassinado”, conta Menegozzo.


 


No Congresso de Salvador iniciou-se a rearticulação do movimento secundarista, continuada entre 1980 e 1981 com a realização de uma série de Encontros Nacionais de Estudantes Secundaristas (ENES), e que culminou na convocação do Congresso de Reconstrução da Ubes, em 1981. No mesmo período, em meados de 1980 e 1981, a UNE convocou mobilizações massivas, como as greves nacionais de estudantes, que reivindicavam aumento das verbas para educação pública e redução das mensalidades nas instituições particulares.


 


Com a ditadura já mostrando sinais de desgaste, o fim do AI-5 e a abolição (relativa) da censura, a UNE foi a primeira entidade nacional a ser reativada. A diretoria da UNE decidiu retomar a antiga sede na Praia do Flamengo, interditada pelo Corpo de Bombeiros, mas apesar da reação popular, o Tribunal Federal de Recursos mandou demolir o prédio. Em outubro, o alagoano, estudante de jornalismo, Aldo Rabelo se elege presidente, em uma das únicas eleições diretas para presidência da UNE (a outra eleição direta foi a que elegeu mineira Gisela Mendonça (1986/87).


 


Em 1983 a UNE instalou sua sede no Bairro carioca do Catete, na Rua do Catete, 234. Nos anos 80 iniciou-se o mais longo período de legalidade. Ainda que as baixas sofridas pelo regime militar tenham deixado cicatrizes, neste período a UNE pôde botar em prática antigos projetos. Projetos ainda em andamento, em uma entidade em permanente construção.
 


* Carolina Ruy é jornalista e pesquisadora do Museu da Pessoa.


 


Leia Também:


 


1º Artigo: História do movimento estudantil (ME) do abolicionismo ao Estado Novo


 


2º Artigo: História do ME anos 30 e 40  


 


3º Artigo: Anos 50/60:gestão Aldo Arantes, um marco na história da UNE


 


4º Artigo: UNE: 70 anos fazendo história na cultura popular brasileira


 


5º Artigo: 70 anos da UNE: clandestinidade sob o tacão militar