Economista norte-americano prevê freada brusca nos EUA
Um dos mais pessimistas entre os economistas da atualidade, o hoje blogueiro Nouriel Roubini foi um dos primeiros a alertar sobre a atual crise no mercado imobiliário norte-americano. Ex-conselheiro econômico do governo Bill Clinton,
Roubini afirma qu
Publicado 02/08/2007 12:10
Confira abaixo a entrevista, publicada na edição desta quinta-feira (2) da Folha de S.Paulo:
Em Davos, o senhor previu uma recessão iniciada com a crise imobiliária nos EUA. Diria que suas previsões já viraram realidade?
Tenho falado sobre a recessão vinda do setor imobiliário há um ano. Desde aquela época, afirmo que a crise começaria com o “subprime” [os empréstimos de alto risco do setor imobiliário]. Também disse que os juros subiriam no mundo -estamos vendo isso nos bancos centrais e nos retornos do mercado de títulos.
Qual o potencial de estrago da crise do “subprime” nos EUA?
O “subprime” é um desastre, representa um colapso no mercado de hipotecas, que traz surpresas todos os dias. Derruba os preços das casas, diminui o crédito, vai afetar o consumo e pode deixar bancos em situação difícil. São cada vez maiores as chances de um pouso forçado nos EUA.
O senhor já vê um estouro da bolha no setor imobiliário?
Há uma bolha que começa a ruir com a queda nos preços dos imóveis nos EUA. Bolhas começam com crédito farto e excesso de dinheiro.
Quais os maiores prejudicados em caso de estouro da bolha?
Primeiro, os bens ligados à moradia – móveis, jardinagem e bens duráveis. Depois, o crédito, que vai passar por uma limitação, com impacto nos preços das hipotecas e reflexo no mercado de títulos -não estou falando em crise financeira, mas em um mercado mais avesso ao risco. Finalmente, o consumo, que representa 70% da economia americana e mais peso terá numa desaceleração nos EUA.
O Brasil e outros emergentes serão prejudicados com a crise?
Há país emergente e país emergente. Países como o Brasil, que hoje é superavitário nas contas externas e que acumulou reservas imensas, estão menos vulneráveis.
Quanto mais pode subir a moeda brasileira, o real?
Não sei. Depende da evolução do comércio internacional, da venda de commodities e do fluxo de dinheiro -que pode mudar. Há razões para a apreciação do real, como o mercado pujante e os IPOs [oferta pública de ações].
Há um entusiasmo desmedido com os IPOs brasileiros?
O Brasil passou por uma série de mudanças, que permitiram isso acontecer. O país sabe aproveitar as oportunidades trazidas pelo bom momento, que pode acabar.
O mundo não sabe o que acontece na China. Isso é um risco?
De fato, as estatísticas chinesas não são perfeitas. Se eles não crescem 12%, mas crescem 9% – é muito também. A China terá problemas com inflação, bolhas no setor imobiliário e no preço de ações, além do câmbio e da infra-estrutura.
China e outros países podem ocupar o lugar dos EUA de motor da economia mundial?
Sim, mas apenas em caso de “soft landing” [desaceleração suave]. Um “hard landing” terá conseqüências para todos.
Uma eventual vitória democrata poderá apertar a política comercial dos EUA com a China?
Não acredito que os democratas sejam tão menos liberais do que os republicanos. O governo Clinton teve políticas comerciais mais abertas do que a administração Bush. No caso da China, uma mudança prejudicaria empresas americanas que produzem no país.
Os mercados aprenderam com as últimas crises?
Em parte. Muitos países asiáticos passam hoje pelo mesmo tipo de bolha – preço dos imóveis, das ações e de commodities – de 1997.