Godoi: Movimento para jogar a população contra os trabalhadores é espantoso

A atual greve dos trabalhadores do Metrô de São Paulo é a terceira do ano e demonstra a truculência do governo tucano no trato com os movimentos sociais e suas entidades de representação. O Sindicato dos Metroviários está sendo duramente atacado pela mídi

O presidente do Sindicato dos Metroviários, Flávio Godoi, fala ao Vermelho-SP sobre os motivos da greve, sobre a postura truculenta do governo do estado e sobre a batalha que se trava para colocar a população contra o movimento grevista. Acompanhe a entrevista:


 


Vermelho-SP: Quais razões para a greve?


 


Flávio Godoi: Estávamos em processo de discussão da Participação nos Resultados de 2007. A legislação reza que, passado um período de 6 meses, as partes podem negociar uma antecipação. Isso acontece no Metrô há 10 anos. O Metrô não queria fazer proposta de antecipação e quando fez apresentou um valor muito abaixo da reivindicação e com a data de pagamento para dia 1 de setembro, quando o acertado era em 31 de julho. Mas o pior é que a maior parte do pagamento seria proporcional ao salário, ou seja, privilegiaria os cargos com salários mais altos e de chefia com três ou quatro vezes mais ganhos que a grande maioria dos funcionários. No nosso entender isso não seria justo, porque eles já ganham muito mais e isso repercute nas negociações de reposição salarial. Já a PR não é salário e é calculada com base no resulado, porque é empresa pública e não visa lucro, mas a satisfação do usuário, por isso deveria ser dividida igualmente como foi nos últimos dez anos. Além do mais, em 2001 o TRT discutiu a proporcionalidade e deu ganho de causa para o sindicato, que defendia o pagamento da Participação nos Resultados de forma linear.


 


Vermelho-SP: O ano tem sido tenso entre metroviários e Metrô e governo estadual. O governo tem optado pelo enfrentamento com o sindicato?


 


Flávio Godoi: Desde 1994 tivemos dificuldades. As categorias ligadas ao estado tiveram dificuldades de negociação, haja vista os professores, os funcionários da Sabesp e etc. O exemplo maior foi o último dia 14 de junho, quando nós, metroviários, entramos em greve de meio dia, na data base. Fizemos uma assembléia decretando a greve uma semana antes, no dia 5. O secretário de Transportes só apresentou a proposta na madrugada do dia 14, sendo que ficamos em assembléia até a madrugada anteior. Decretado a greve uma semana antes, na assembléia de 5 de junho. Depois fizemos assembléia no dia anterior [à greve], para organizar a greve ou negociar, se houvesse proposta. Mas o governo optou por apresentar a proposta apenas quando já havia sido iniciado o movimento grevista.


 


Vermelho-SP: Seria uma tentativa de colocar a opinião pública contra o sindicato?


 


Flávio Godoi: A intenção é jogar com o desgaste da entidade sindical. Querem colocar a opinião contra o movimento e os trabalhadores contra sua entidade de classe. Temos sempre que lutar para reverter essa lógica. A população não gosta de ficar sem transporte e sem nenhum serviço essencial. Quando essas categorias têm de parar, a população reclama, mesmo que entenda as reivindicações e a justeza do movimento. Mas o movimento [do governo] de jogar a população contra os trabalhadores é espantoso.


 


Vermelho-SP: Nessa greve o governo colocou funcionários administrativos para conduzirem os trens e trabalharem nas estações. Qual a opinião d sindicato sobre isso?


 


Flávio Godoi: As estações que abriram, funcionaram com redução de trens. A linha um [azul] foi colocada para funcionar precariamente e a linha verde com bastante redução de trens. Os funcionários que trabalharam nas estações abertas ao público eram, na grande maioria, de setores de chefia e todos da área administrativa, que são favoráveis à proporcionalidade da PR, pois ganham mais. Na estação Ana Rosa trabalhou um funcionário que é da assessoria de imprensa e que trabalhou na operação há 10 anos atrás. A grande maioria não é habilitada a operar os trens, o que é temerário para a segurança do usuário. Entramos com denúncia na DRT (Delegacia Regional do Trabalho), que fiscalizou a linha e constatou irregularidades. A empresa pode ser penalizada com multas por operar com desvio de função e porque houve quebra de contrato de trabalho.


 


Vermelho-SP: A mídia trata a greve de forma totalmente negativa. Como reverter essa repercussão e apresentar a versão dos trabalhadores para a população?


 


Flávio Godoi: Tradicionalmente soltamos um jornal do usuário informando dos acontecimentos dentro da empresa. vamos discutir na diretoria de produzir outro jornal para explicar nossa versão. A mídia joga contra e não temos o mesmo espaço para divulgar o nosso lado que o governo tem para divulgar sua versão. vamos falar da intransigência do governo de não ter, minimamente, atendido às nossas reivindicações. Hoje nosso maior problema é a proporcionalidade no pagamento da PR e mesmo assim eles não recuam. O montante de dinheiro a ser distribuído é o mesmo, não há impacto nos cofres públicos, só não queremos beneficiar apenas os altos salários.


 


Vermelho-SP: A greve continua?


 


Flávio Godoi: Vamos fazer assembléia daqui a pouco para definir os rumos do movimento. Mas estamos preocupados, porque se o tribunal julgar a greve abusiva e não der estabilidade para a categoria, abre-se o flanco para o governador demitir. Nossa luta é conseguir as reivindicações. O governo, no entanto, não pensa duas vezes antes de mandar o trabalhador para a rua.


 


Fernando Borgonovi, pelo Vermelho-SP