Capistrano: O estudante, esse subversivo

Leia artigo de Antonio Capistrano sobre a característica revolucionária que o estudante tem e o seu papel nas transformações sociais do mundo e do Brasil. O texto foi publicado em homenagem a passagem do dia do estudante.

Historicamente o estudante (leia-se, a juventude) tem sido um segmento social revolucionário, modificador de padrões sociais e culturais. Sempre nos grandes momentos da história da humanidade, pelo mundo afora, a sua presença foi decisiva, aqui no Brasil também. Exemplifico com a minha geração, a geração dos anos 60, que foi para as ruas, assumiu uma postura revolucionaria, protestou, pegou em armas, lutou na clandestinidade, amou os Beatles e os Rolling Stones, lutou contra a guerra do Vietnã, defendeu o povo cubano da invasão ianque, participou do movimento hippie, das barricadas de Paris em 1968, esse movimento espalhando-se por todo o mundo. Quem não se lembra da Primavera de Praga? A luta pelo socialismo democrático, pela democracia que é a essência do socialismo.



 É sobre isso que vamos falar. Roubei o titulo desse artigo do mestre Alceu Amoroso Lima, o nosso Tristão de Athayde, que escreveu nos jornais do Rio de Janeiro em 1962 um artigo com esse mesmo titulo, falando exatamente sobre esse mesmo tema a juventude inquieta, subversiva, em choque permanente com o status quo, com os padrões culturais da sua época. Lutando por rupturas que possibilitasse uma participação efetiva da maioria nas decisões políticas de interesse da coletividade. Naquela época o velho Alceu com quase 70 anos, comprovando o dizer de Zuenir Ventura “era a afinidade de idéias e não de idade que motivou as lutas da juventude naquele contexto”. No artigo Alceu assumiu o seu lado juvenil na defesa do estudante, elemento contestador, por natureza, da ordem estabelecida.



O que me preocupa, hoje, nesse inicio de um novo século e de um novo milênio é certa inércia da juventude em todo o mundo, certa paralisia na sua verve revolucionária, a uma apatia na participação política, nos debates de interesse da coletividade. Os grêmios das escolas públicas e privadas, os diretórios acadêmicos (o famoso DCE) das nossas universidades não despertam mais o interesse dos estudantes. Lembro-me da UNE – União Nacional de Estudantes fazendo história com o seu braço cultural o CPC – Centro Popular de Cultura, tendo na sua direção nacional Oduvaldo Viana Filho, o nosso querido e inesquecível Vianinha. O CPC foi um movimento comandado por jovens, dele saindo os melhores quadros na atividade política e nas diversas atividades artísticas.



É nesse período que surge o novo teatro brasileiro, o cinema novo, a bossa nova. Resgatando a nossa cultura popular com o show opinião, trazendo ao palco, compositores como Zé Kéti, João do Vale, Jacques do Pandeiro e outros de igual valor. É nesse contexto que surge um novo grupo de jovens de teatro, o próprio Vianinha, Paulo Pontes, Gianfrancesco Guarnieri, Jabor, Plínio Marcos, Boal, José Celso Martinez. Através do teatro de Arena acontece uma verdadeira revolução com a peça Eles não usam black-tie, belíssimo e profundo texto de Guanieri, que fala a linguagem do povo e as angustias da classe trabalhadora. Mas não é só no teatro que essa juventude inquieta e buliçosa vai influenciar – o cinema é outro instrumento de transformação social – o cinema novo, ganhar as telas do Brasil e do mundo com grandes diretores, Glauber, Nelson Pereira dos Santos, Rui Guerra, Caca Diegues, Jabor, Joaquim Pedro. O filme Cinco vezes favela faz um grande sucesso no circuito universitário. Na música, na literatura e no cinema surgem grandes nomes, podemos citar: Ferreira Gullar, Nara Leão, Milton Gonçalves, Geraldo Vandré, Odete Lara, Hugo Carvana, Chico Buarque, Moacyr Cirne e outros.



É exatamente dessa inquietude do estudante, esse subversivo, que estou sentindo falta no inicio desse século e primórdio de um novo milênio. Mas, vamos ter esperança nesses jovens, nos nossos estudantes, que historicamente sempre estiveram na vanguarda das lutas populares. Por isso rendo as minhas homenagens, a todos os estudantes, esses subversivos. 


Viva o dia 11 de agosto, Dia do Estudante.



Antonio Capistrano é presidente do PCdoB/Mossoro; do Cepaarn, ex-vice-prefeito, foi deputado estadual e Reitor da UERN.