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Com Mestre Bimba, a capoeira chega ao cinema

Estreou nesta sexta-feira (10), nas principais cidades brasileiras, o longa documentário Mestre Bimba, a Capoeira iluminada, de Luiz Fernando Goulart, cineasta e capoeirista. Elogiado pela crítica cinematográfica, o filme é um acontecimento sobre

Goulart avisa que o lançamento é ''uma estratégia de alto risco mas resolvi jogar um 'tudo ou nada'. Se os capoeiristas encherem as salas de cinema e tornarem o filme um sucesso na primeira semana, novas salas entrarão na rede e novos horizontes se abrirão para a capoeira, que será descoberta, finalmente, pela mídia e por novos entusiastas'', aposta. Toda a estratégia de divulgação do filme se apóia no engajamento dos capoeiras.



Onde chegou a capoeira?



''O resultado será certamente academias abrindo novos horários e turmas, novos filmes de capoeira sendo feitos e maior valor de mercado para a capoeira, além de abertura para ela em novelas e demais meios de comunicação. Eu sei que é um grande sonho mas não o acho impossível de ser realizado. Para isso, o filme é o primeiro passo. Lutei até o fim para isso e a minha maior motivação será a de saber que se a capoeira chegou onde chegou um dos tijolinhos do seu grande sucesso foi colocado por mim'', afirma ainda o cineasta.



E onde chegou a capoeira? A luta, ou jogo, ou bailado, é praticada hoje em 150 países (alguns dizem 160). Foi levada em grande parte pela emigração brasileira das últimas duas décadas ''perdidas'' para o desenvolvimento do Brasil. Mas encontrou também entusiastas em todas as latitudes, embora ela permaneça enraizada com mais força nas camadas populares brasileiras. Fala-se em 8 milhões de praticantes.



Da criminalização às academias



Quem inventou-a, em certo sentido, foi Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba (1900-1974). Filho de Salvador da Bahia, capoeirista desde os 12 anos, estivador do porto, ele desenvolveu a Capoeira Regional, hoje amplamente predominante, a partir da modalidade de Angola, mais antiga e ritualizada. Ele adotou o berimbau como instrumento de acompanhamento por excelência. Ele convenceu o presidente Getúlio Vargas de que valia a pena descriminalizar a luta.



Mestre Bimba criou ainda a primeira academia de capoeira, em sua cidade natal, 1932. ''Antes disso todo mundo aprendia olhando'', conta o Mestre Camisa, aluno de Bimba e um dois entrevistados. A própria escolha do nome, ''academia'', vem carregada de significado.



Amargor com a ditadura



O filme dribla a escassez de imagens do próprio Mestre Bimba ouvindo numerosos depoimentos, de discípulos, filhos e estudiosos, alternados com cenas de capoeira e acompanhados por uma bela trilha sonora. O retrato do mestre sai vivo e forte.



O documentário é baseado no livro Mestre Bimba – Corpo de Mandinga, de Muniz Sodré, atual presidente da Fundação Biblioteca Nacional. Sodré destaca que o trabalho de Bimba foi um típico exercício de resistência cultural. Tomou uma tradição marginal que vinha de antes dele, desenvolveu-a, ajudou a legalizá-la e divulgá-la. Mostra também que a agonia do mestre começou ao perceber seu trabalho sendo varrido pelo regime dos generais instalado em 1964, quando ele se muda para Goiânia, onde morreu uma década depois.