Cinema “não vai muito bem de saúde”, diz Jorge Furtado
“O cinema ainda não morreu, mas não vai muito bem de saúde.” O diagnóstico, feito neste Festival de Gramado, é do cineasta Jorge Furtado, que está em cartaz nos cinemas com Saneamento Básico – O Filme.
Publicado 16/08/2007 19:19
Os dois longas anteriores de Furtado, O Homem que Copiava e Meu Tio Matou um Cara, foram vistos por aproximadamente 700 mil pessoas cada um. Ele é o autor também de Houve uma Vez dois Verões, além do antológico curta Ilha das Flores. Para Saneamento Básico – O Filme, Furtado e seus sócios da Casa de Cinema de Porto Alegre (que foi homenageada em Gramado por seus 20 anos de existência) esperavam público semelhante.
O longa, porém, está na casa dos 120 mil espectadores. “Talvez eu esteja sendo pessimista demais, mas acho que vamos ter que explicar para os nossos netos como era o cinema”, disse Furtado, quando refletia sobre a maré baixa dos filmes brasileiros nas bilheterias.
Com desesperança, mas sem amargura, o diretor disse que procura explicações para esse fenômeno olhando primeiro para si. Interrogou-se, então, sobre por que tem ido menos ao cinema, ao mesmo tempo em que nunca viu tantos filmes.
Concluiu que o fato de agora os filmes estarem sempre ao alcance, em DVD, retirou da ida ao cinema “o sentido de urgência” que isso já teve – algo que “quem nasceu depois do videocassete nem sabe o que é”. Ou seja, ao deixar de ser a única chance de ver os filmes, o cinema tornou-se dispensável.
Dilema
Embora as salas de cinema possam estar perdendo sentido, não é o caso de deixar de produzir filmes, salientou Furtado. “Os filmes continuam necessários. A minha dúvida é sobre o modelo de lançamento.” Especificamente sobre o caso brasileiro, a dúvida aumenta.
“Se se confirmarem até o fim do ano os números de queda de público brasileiro (cerca de 14% em relação a 2006, até aqui), a gente vai ter que enfrentar o dilema de saber que no Brasil se investem R$ 300 milhões na produção de filmes, para 5 milhões de pessoas assistirem. Vamos ter que pensar um pouco”, disse.
Furtado fez essas reflexões nesta tarde de quarta-feira (16), durante entrevista organizada pelo festival. Na homenagem prestada à Casa de Cinema no Palácio dos Festivais, ele e seus sócios preferiram agradecer os que ajudaram a construir os 20 anos de história da produtora – especialmente os 656 atores e 1.422 técnicos que trabalharam nos filmes da Casa.
Da Redação, com Ilustrada no Cinema