Presidente da FETAESC quer central sindical classista e democrática

Em entrevista ao Portal Vermelho, o atual presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina (FETAESC), Hilário Gottseling, revela seu empenho na discussão para concretizar uma central sindical com o princípio classista e

Hilário assumiu em maio de 2005 a tarefa de conduzir a maior Federação de trabalhadores rurais de Santa Catarina. A FETAESC congrega, atualmente, 234 Sindicatos de Trabalhadores Rurais e 44 extensões de base que atuam em 275 municípios catarinenses, organizados, respectivamente, em 17 associações de Sindicatos de Trabalhadores Rurais. 


 


 


Fundada em 02 de julho de 1968, é uma entidade sindical de 2º grau, com sede no município de São José, Santa Catarina. Os trabalhadores e trabalhadoras rurais que congregam a FETAESc são responsáveis por 71,3% da produção de alimentos em Santa Catarina, segundo levantamento do ICEPA.


 


 


Acompanhe a entrevista:


 


 


Vermelho: Qual foi a sua trajetória no movimento sindical?


Hilário: Iniciei e continuo  associado no Sindicato de Trabalhadores Rurais de Pinheiro Preto no estado de Santa Catarina. Fui diretor do Sindicato, da Fetaesc e da Contag e hoje sou presidente da FETAESC – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do estado de Santa Catarina


 


 


Qual a relação da entidade com as centrais que existem hoje?


Hilário: Não temos filiação a nem uma Central Sindical, devido ainda não responder pelos interesses dos trabalhadores rurais. A Contag é filiada a Cut, mas como a Cut defende a pluralidade sindical e reconhece a FETRAF como organização paralela e, no entanto não aceitamos, devido a mesma estar disputando e “inorganizando” nossos sindicatos e com isto enfraquecendo o movimento sindical rural.


 


 


Quais são as principais reivindicações da entidade em que você atua?


Hilário: Defendemos um novo projeto de agricultura focado na agricultura familiar, para tanto é preciso mudar alguns aspectos conceituais, entre eles: as políticas devem considerar as pessoas que nela vivem e para tanto é preciso pensar a propriedade como um toda e não as culturas produtivas, ex: o crédito não pode ser para financiar cada cultura individual e sim a propriedade como um toda; levar em conta a capacidade produtiva, ambiental e econômica da propriedade; beneficiar os produtos da propriedade coletivamente com outros agricultores que se identificam e com isto criar marca regional; capacitar os agricultores para que os mesmos possam perceber a mudança necessária; pesquisa adequada e aplicada com os interesses dos agricultores familiares; entre outros. É preciso também crédito fundiário para assentamento de agricultores sem terra. Defendemos o crédito fundiário porque o estado é formado por pequenas propriedade e quando vendida deverá ser repassado para outro pequeno agricultor. Acordos e convenções de trabalho para os assalariados rurais do estado nas mais diversas atividades agrícolas, entre elas “fruticultura, reflorestamento, hortigrangeiros, carne”, são aspectos importantes de nossas reivindicações. Queremos garantir os direitos previdenciários a todos os trabalhadores e trabalhadoras rurais do estado; programa de habitação rural para nossos trabalhadores rurais, sejam eles assalariados ou agricultores familiares – estamos fazendo mais de 3.000 casa novas ou reformadas por ano. Mudança dos currículos escolares adequando a realidade da agricultura, pois com a nucleação estamos perdendo nossa história e cultura do meio rural. Melhorar a legislação ambiental, pois o código florestal inviabiliza 32.800 propriedades de agricultores familiares do estado. Negociações de preço de diversos produtos agrícolas entre eles – fumo, leite, suínos e aves,…



 


 


Nestes quase cinco anos de governo Lula quais foram as principais mudanças?


Hilário: A consolidação da democratização do país é um marco importante que devemos garantir sua continuidade e para tanto governante de centro esquerda é preciso garantir a continuidade. No meio rural vale destacar a ampliação de recursos do Pronaf, apesar da reforma agrária não avançar.
Garantia da continuidade dos trabalhadores rurais no regime geral da previdência social. Programas sociais como bolsa família, bolsa escola. Por outro lado os movimentos sociais ficaram asfixiados sem reação para os problemas econômicos e sociais que ainda são muitos. Fato este devendo responsabilidade os movimentos e da dependência ou controle de decisão pelo planalto.


 


 


Como você vê o movimento sindical no Brasil? Quais são as dificuldades e desafios atuais?


Hilário: É um movimento forte, mas que vem sofrendo crise de identidade pelos seguintes motivos: não tem conseguido se modernizar em sua representação e também nos projetos de sociedade; busca repetir os mesmos procedimentos e estratégias já superadas, a exemplo do setor dos trabalhadores em geral a partir do momento da inflação brasileira cair significativamente, perdemos a capacidade de mobilização por não termos outras pautas a não ser de recuperar a inflação do ano anterior.
Os interesses de grupos ou tendências, ou pior ainda, pessoais, se sobrepõe aos interesses das classes. A sobreposição das centrais existentes dos papeis das estruturas verticais confederações, federações e sindicatos. Com a eleição de Lula, a dependência grande do governo para tomada de decisão e mobilização de grande parte da centrais e confederações.


 


 


A CSC está fazendo um movimento por uma outra central, com feição classista. O que você acha desta iniciativa?


Hilário: Estou empenhado na discussão para concretizar esta central sindical com o principio classista e democrática. Para tanto é preciso que se construa sem o domínio das tendências políticas, seja supra partidária, garanta o papel das confederações, federações e sindicatos, para tanto tem que garantir a unicidade sindical nas estruturas verticais.


 


 


Como isso pode repercutir no sindicalismo?


Hilário: Entendo que mais uma opção com este principio democrático e classista diferenciando das demais centrais poderá crescer muito. No nosso caso que pertencemos a Contag também entendo que mais uma opção para os sindicatos de trabalhadores rurais é importante, hoje a Contag filiada a CUT, não tem deixado a proporcionar um debate maior sobre os problemas da organização, e dos trabalhadores como deveria acontecer em momentos castrando esta possibilidade, do qual vem provocando grande descontentamento no conjunto da nossa organização seja nos filiados ou não a CUT.


 


 


Qual a concepção de movimento sindical que você defende para uma central?


Hilário: Concepção classista e democrática respeitando as diferenças e os problemas das diversas categorias. Venha garantir a representação e defesa dos interesses gerais que sobrepõe as diversas categorias e representação internacional; garanta a solidariedade das diversas categorias; garanta a participação de todas as categorias nos debates e na consolidação de projeto de sociedade; represente todos os trabalhadores brasileiros sejam eles na atividade ou não.


 


 


 


 


De São José/SC
Vinícius Puhl
Com informações da Assessoria da FETAESC