Altamiro Borges: “Cansei” do capo fascista da Philips
O presidente da Philips, Paulo Zottolo, um dos principais líderes do “Cansei”, não contém a sua língua e confessa seus instintos mais preconceituosos e elitistas a cada exposição na mídia. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, ele abriu o jogo
Publicado 19/08/2007 22:25
O “ato falho”, porém, ajuda a desnudar e a enfraquecer o “Cansei”, o movimento que reúne ricos empresários, notórios tucanos e demos e “artistas e publicitários de aluguel”. O governador do Piauí, Wellington Dias, anunciou que exigirá a retratação do executivo. Já o senador Mão Santa, do mesmo estado, afirmou que Zottolo “é um tolo, um arrogante tolo, só porque tem uns dólares da Philips”. Até o senador Heráclito Fortes, do Demo e simpatizante do “Cansei”, teve que dar explicações as suas bases. “Para comandar uma campanha dessa natureza é preciso ter equilíbrio e respeitar os Estados da Federação, porque também cansei de arrogância e prepotência”.
Preocupação da matriz
Mas não basta se indignar contra as bravatas fascistas do presidente da Philips. Ele mesmo disse, em outra entrevista, na qual se jactava de sua riqueza, que a multinacional financiará a campanha publicitária do “Cansei”. Os primeiros anúncios nos jornais já tiveram a marca da empresa. Até a carta de diretrizes da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reúne as potências imperialistas, afirma que as multinacionais devem “abster-se de qualquer envolvimento abusivo nas atividades políticas locais”. Caso um executivo da Petrobras nos EUA liderasse um protesto contra o terrorista George Bush, ele seria preso e expulso no mesmo dia!
Segundo informa o jornalista Renato Rovai em seu blog, a poderosa empresa holandesa inclusive está preocupada com o exibicionismo do seu representante. “O presidente da Philips no Brasil só não foi demitido pela matriz porque os gringos acreditam que isso poderia criar mais problemas para a já complicada situação da marca no país. O ‘relatório reservado’, boletim que circula entre assinantes, adiantou que a matriz solicitou a Paulo Zottolo que desligue a empresa do movimento da elite branca paulista. A matriz da Philips, inclusive, teria solicitado à embaixada da Holanda que comunicasse ao Palácio do Planalto o descontentamento com a decisão do seu funcionário”.
Boicote, denúncia e pressão
É difícil esperar uma ação mais dura e ousada do governo Lula, acostumado a contemporizar e a conciliar, diante de fatos tão graves que envolvem uma poderosa multinacional. Neste sentido, a CUT acertou ao abrir uma representação contra a Philips no escritório da OCDE em Brasília. “A Philips se coloca como patrocinadora de uma campanha que tenta fazer uso político do trágico acidente da TAM”, explicou Artur Henrique, presidente da central. A empresa preferiu se fingir de morta. A sua assessoria de imprensa, que parece não acompanhar a mídia, informou que “não pode comentar fatos que desconhece ou que possam ter sido gerados a partir de especulação”.
Também acertaram em cheio, mostrando sintonia com os fatos políticos, os militantes da União da Juventude Socialista (UJS) do Piauí que realizaram um ato em Teresina contra a Philips. Eles quebraram vários aparelhos da marca em praça pública. “Vamos criar um movimento para que a população nordestina boicote os produtos da Philips. Casamos de ser discriminados”, comentou José Eduardo Alemão, presidente da UJS no Estado. No mesmo rumo, a direção nacional da UJS lançou a campanha “quem vem com tudo não cansa” para denunciar os golpistas do “Cansei”.
A direita neoliberal, rechaçada nas urnas e incomodada com a popularidade do presidente Lula, tenta sair na defensiva. Através dos factóides da mídia hegemônica, quer recriar o clima golpista no país. Mesmo não tendo do que reclamar – “os que estão vaiando são os que mais deveriam estar aplaudindo; a parte mais pobre é que deveria estar mais zangada; é só ver quanto ganharam os banqueiros e os empresários”, penitenciou-se Lula recentemente –, a elite burguesa não tolera um governo oriundo das lutas sociais. Fará de tudo para sabotá-lo. É preciso rechaçá-la e não se pode subestimá-la. A queda de Paulo Zottolo, “o tolo fascista”, já ajudaria neste sentido.
*Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi).
Leia também: