''Turbulência financeira é expressão da crise do imperialismo'', diz Rabelo
Reunida nesta sexta-feira (17), a Comissão Política Nacional do PCdoB analisou atentamente a grave crise financeira que abala os EUA há mais de uma semana e que contagiou a economia mundial. Conforme argumentou Renato Rabelo, presidente do partido, “ap
Publicado 19/08/2007 19:47
Cauteloso, Rabelo afirmou que “não dá para saber ainda a duração e o impacto desta crise, que começou no setor imobiliário dos EUA e logo atingiu as bolsas do mundo inteiro. Mas o que chama atenção é que ela estourou no coração do sistema capitalista, nos EUA, e exigiu a rápida resposta dos Estados capitalistas ricos, através de seus bancos centrais. Mais de 300 bilhões de dólares dos tesouros nacionais dos EUA, Europa e Japão foram transferidos para salvar a economia americana e para evitar o colapso do sistema mundial. O paradoxo é evidente: o capitalismo é cada vez mais liberal, desregulamenta o sistema financeiro, mas na hora da crise a solução é estatal, quem paga são trabalhadores e os povos das nações”.
Hegemonismo dos EUA na berlinda
Para ele, a crise financeira na atual fase de grande mobilidade do capital, derivada dos avanços tecnológicos nas telecomunicações e da total desregulamentação dos mercados, contamina todo o sistema capitalista e atinge rapidamente vários países. “Não podemos cair nas especulações que acontecem em grande profusão neste momento. Mas é evidente que esta crise é cumulativa – crise após crise – e que pode gerar uma crise sistêmica profunda, em que nem mais os bancos centrais das potências poderão contê-la. As chamadas agências de risco não conseguem prevê-las. O livre trânsito de capitais, num mundo que virou um cassino financeiro, mostra a fragilidade dos estados nacionais. Por isso, é imprevisível o que vai ocorrer, mas a crise é grave e pode ter forte reflexo na economia real”.
Na sua avaliação, esta crise também revela as dificuldades do imperialismo, o que abre maiores brechas para o avanço das lutas dos povos. “O fracasso da política de guerra de George Bush no Iraque e o estouro da ‘bolha’ especulativa colocam em risco o hegemonismo dos EUA. Há um processo de crescimento das potências médias, como China, Índia e Rússia. Destaque para a postura recente mais ofensiva da Rússia, que reage às iniciativas militares dos EUA, disputa o Mar Ártico e se coloca novamente com relevo na geopolítica mundial. No caso da América Latina, a luta antiimperialista se amplia e há um reforço do processo de integração dos povos”.
Impacto na economia brasileira
A Comissão Política do PCdoB também analisou os possíveis impactos na economia brasileira. “Como o Brasil será afetado? Uns dizem que o país está imune e livre do contagio. Cabe aos governantes amainar seus efeitos para evitar a ação frenética dos investidores, que agem como boiada. É verdade que o país está mais preparado para enfrentar a crise, que tem posições mais sólidas. Ele aproveitou a bonança externa para reduzir sua vulnerabilidade, para aumentar suas divisas. Porém, é preciso dizer que o país já esta sendo afetado pela crise”, garantiu Rabelo.
Ele citou a queda dos ativos financeiros na Bovespa, a elevação dos juros futuros e a subida do dólar e do risco-país. “A instabilidade já nos atinge, inclusive com a queda do preço de várias commodities – sobretudo dos metais, decorrente da crise da construção e do setor imobiliário. Uma recessão nos EUA pode afetar a China, com maiores impactos nas commodities. O mais provável é que ocorra uma mudança na economia mundial, que foi favorável nos últimos cinco anos. Com o fim da liquidez mundial, a tendência que é a fase da bonança acabe e o Brasil não está preparado para enfrentar esse cenário. O país padece da falta de mecanismos de controle do fluxo de capitais, o que evidencia os limites da política macroeconômica do governo”.
''Direita neoliberal não está morta''
A reunião também analisou a evolução do quadro político nacional. Constatou que, apesar da manutenção da popularidade do presidente Lula, a direita neoliberal tenta se rearticular e sair da defensiva, resultante da batalha eleitoral. “A ânsia para atingir o presidente Lula e paralisar o seu governo é grande, com os olhos voltados para as eleições de 2008 e 2010. A direita, que parecia derrubada, não está morta e volta à ofensiva”, alertou Rabelo. Ele citou a articulação direitista do “Cansei”, movimento que reúne ricos empresários, notórios tucanos, artistas e publicitários, e tenta levar a oposição às ruas, atraindo setores das camadas médias.
Renato Rabelo também se referiu aos ataques virulentos contra o presidente do Senado, Renan Calheiros. “Qual o objetivo desta devassa na sua vida e nas suas contas? Por que ele só ocorre agora? Não podemos nos iludir e nem cair na manipulação da mídia. Ela promove um brutal ataque e muita gente vai para a defensiva e não percebe os riscos. No Senado, a correlação de forças é apertada. O objetivo da direita neoliberal é eleger para a presidência da casa alguém da sua confiança, como o senador Marco Maciel, que é o homem da cláusula de barreira e do retrocesso. A direita quer quebrar a linha de defesa do governo no Senado e é preciso resistir”.
''Mídia, o partido da direita''
Houve consenso entre os integrantes da Comissão Política do PCdoB sobre o papel nefasto da mídia hegemônica. Vários líderes do “Cansei” pertencem às empresas do setor e o movimento conta com o apoio direto da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert). “A mídia hoje desempenha o papel do partido da direita. Culpa o governo por todos os males, tenta fragilizar a sua base de sustentação, investe para paralisar e ocultar as suas ações e ataca duramente sua política externa da integração latino-americana – como no caso dos pugilistas cubanos ou na sabotagem do ingresso da Venezuela no Mercosul”, pontuou Renato Rabelo.
Conforme foi informado na reunião, o PCdoB deverá discutir em breve um documento sobre o papel da mídia e aprovar uma plataforma para a sua democratização. O partido tem participado de vários fóruns sobre o tema e mantido relações com entidades e especialistas engajados na batalha pela democratização dos meios de comunicação. “É preciso denunciar a concentração de poder e a manipulação da mídia. A questão da democratização dos meios de comunicação é estratégica e o PCdoB precisa interferir ainda mais neste debate”, afirmou Rabelo.
Ao final, a Comissão Política Nacional fez um balanço dos quatro desafios aprovadas na última reunião do Comitê Central: fortalecimento do bloco de esquerda, a luta por uma reforma política democrática, maior inserção nos movimentos sociais e projeto eleitoral de 2008. Com exceção da reforma política, que foi solapada pelas forças conservadoras, o partido tem obtido êxitos nas outras três tarefas e constata uma enorme disposição da militância comunista com a tática mais ousada para firmar e projetar o PCdoB.