Eugênio e uma lição de ouro

O cearense Eugênio Sales, que ganhou sua primeira medalha de ouro no Parapan do Rio, começou a praticar o tênis de mesa/adaptado aos 16 anos. Agora, ele sonha com Pequim

A casa é simples e pequena, mas a recepção é acolhedora. O sorriso no rosto de Janya Albuquerque demonstra sua felicidade e orgulho pela conquista do marido. O cearense Eugênio Braga Sales, 43, ganhou sua primeira medalha de ouro nos Jogos Parapan-Americanos no último sábado. Jogador de tênis de mesa adaptado, o atleta é cadeirante desde os 6 anos, quando contraiu o vírus da poliomielite e não pôde mais andar. Nascido em Itapipoca, a 148 quilômetros de Fortaleza, Eugênio é o mais novo de sete filhos e sempre foi apaixonado por esporte.


 


Sua mãe morreu quando ele tinha cinco anos. Foi criado pelo pai, que lutou para que o filho voltasse a andar. ''O médico de Itapipoca disse que o Eugênio ia morrer. Mas meu pai não acreditou e trouxe meu irmão pra cá. Ele chegou a fazer seis cirurgias para voltar a andar. Na sétima tentativa, o Eugênio disse que não queria mais. Ia ser feliz como estava'', relata o irmão mais velho, Anselmo Sales. Aos 10 anos, Eugênio se mudou para Fortaleza e aos 16, deu início a carreira no tênis de mesa. ''Ele nunca foi revoltado com o fato de não poder andar. Pelo contrário, é alegre e o mais brincalhão de todos'', completa o irmão.


 


Pela quinta vez participando de um Parapan, realizou seu grande sonho. Juntamente com Iranildo Espínola e Kéverson Kovatsky, Eugênio venceu na disputa por equipes. ''Ele queria mesmo ser campeão no individual, mas ficou em quarto. Mesmo assim, ele está muito feliz. Essa medalha de ouro foi o maior presente da nossa vida depois do nascimento do nosso filho'', relata Janya, que também é cadeirante. Os dois estão juntos há quase quatro anos e têm um filho de 2, o pequeno Nalbert. ''É igual ao do jogador de vôlei. Só que a pronúncia é diferente'', explica a mãe.


 


A conquista da primeira medalha de ouro foi anunciada por telefone pelo atleta. A família de Eugênio não conseguiu ver a disputa por nenhum canal de televisão. ''Acabou que nem deu pra gente assistir. Só fiquei sabendo porque ele ligou à noite'', relata Janya. Ela diz que a mídia deveria dar mais enfoque ao Parapan. ''Seria bom que as pessoa vissem o esforço e a força de vontade desses atletas. Eles até receberiam mais incentivo''. Enquanto conversa, Janya vai mostrando as medalhas conquistadas pelo marido. Ele foi prata nos Jogos Parapan-Americanos de Mar del Plata, na Argentina, em 2003, e venceu várias vezes a Copa Tango, realizada na Argentina. Ganhou também campeonatos mundiais e brasileiros da modalidade.


 


Eugênio participou ainda das paraolimpíadas de Sidney e de Atlanta. ''Pra ele o esporte sempre esteve em primeiro lugar. É uma paixão, uma realização pessoal. Ele sempre batalhou, mesmo com a dificuldade dele''. O gosto de Eugênio pelo esporte é tanto, que ele fundou a Federação de Tênis de Mesa/Adaptado no Ceará, hoje formada por mais de 60 atletas. Eugênio retorna à Fortaleza na madrugada de hoje, 21/08. Os amigos do bairro Ellery, onde mora, estão organizando uma festa de comemoração. Seu sonho agora é conseguir participar dos Jogos Paraolímpicos de Pequim e, quem sabe, ganhar um ouro. ''Seria demais'', diz Janya.


 


 


Fonte: DN