Chile vê onda de protestos contra modelo neoliberal
A principal central sindical do Chile realizou nesta quarta-feira (29) um ruidoso protesto na capital do país contra a “política neoliberal do governo”, ato que, segundo analistas, pode começar a fragilizar a coalizão que sustenta a presidente Michelle Ba
Publicado 30/08/2007 10:26
Manifestantes e policiais entraram em confronto ontem em Santiago. Pelo menos 87 pessoas foram detidas e dezenas ficaram feridas – entre elas um senador. A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo e jatos de água para dispersar os manifestantes.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT), principal organizadora da manifestação, classificou o ato como o maior desde a redemocratização do país, há 17 anos. A entidade, que diz representar 600 mil trabalhadores públicos e privados, quer maior reajuste no salário mínimo, melhoras no sistema de aposentadoria e acordos coletivos. Além disso, a central acusa o governo da presidente socialista de manter políticas neoliberais.
Guinada à esquerda
O protesto é mais um ataque a Bachelet, cuja popularidade vem caindo nos últimos meses, após a inauguração de um novo e mal-sucedido sistema transporte na capital. Em dezembro do ano passado, sua aprovação estava em 52%, caindo para 41% em junho deste ano. Em 2006, milhares de estudantes já haviam saído às ruas fazendo críticas a seu governo. Este ano, o Chile assistiu a uma longa greve de mineiros da Codelco, maior produtora de cobre do país. E protestos de trabalhadores do setor de celulose.
Para o diretor do Programa de Gerência Social e Políticas Públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), do Chile, Andrés Palma, o ato pode vir a fragilizar a Concertación (a aliança de centro-esquerda do governo).
“Desde 2006, o Partido Comunista, juntamente com movimentos sociais e o apoio de alguns membros da Concertación, está tentando construir uma nova referência política no país”, disse ele. “O risco é que essa movimentação ponha a Concertación em uma situação de certa fragilidade na disputa por votos.”
Pelo menos um senador, o socialista Alejandro Navarro (ferido ontem na manifestação) e outros dois deputados apóiam os críticos da esquerda ao governo Bachelet. Se esse grupo começar a ganhar força, arrancando mais parlamentares da atual base governista, Palma diz que partidos de direita é que poderão avançar sobre os votos de uma aliança eventualmente desfalcada. “Desde o começo do ano, tem crescido o nível de dissidência da concertación”, observa o professor de Sociologia da Universidade do Chile Rodrigo Figueroa. Se isso terá um reflexo nos votos, é difícil dizer, acrescenta. “Mas o descontentamento de uma ala da concertación com o modelo econômico forçará uma discussão dos postulados da aliança.”
Segundo a vice-presidente da CUT, Ana Maria Muñoz, o “protesto é contra o modelo econômico que o governo está seguindo”. E disse que os sindicatos estão “muito desencantados”. As críticas são em relação à precarização do emprego, baixos salários, problemas previdenciários e desigualdade.
Bachelet já disse que não aceitaria que sua dedicação à Justiça social não fosse reconhecida. Nesta quarta-feira, exortou os manifestantes a buscarem “diálogo, não pressão; acordos, não violência”.
Da redação, com agências