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Por que a Rússia tirou a espada da bainha?

No dia 17 de agosto, 14 bombardeiros estratégicos tomaram os céus a partir de sete bases aéreas simultaneamente por toda a Rússia. Os aviões que decolaram estiveram no ar por 20 horas, com apoio, reabastecimento e interação com a Marinha. O presidente Vla

Na verdade, os vôos de longa distância dos bombardeiros estratégicos da Força Aérea Militar (VVS, na sigla em russo), começaram muito antes. Quando os laços russo-britânicos se viram diante de um rompimento em meados de julho, devido a um incidente ligado à espionagem, dois bombardeiros Tupolev Tu-95 foram detectados em espaço aéreo internacional, na noite de 19 de julho, entre Stavanger, no sul da Noruega — onde a força aérea real britânica (RAF, na sigla em inglês) mantém instalações —, e a cidade escocesa de Aberdeen. Dois caças britânicos decolaram às pressas para interceptá-los.



No início de agosto, bombardeiros de longo alcance, com mísseis de cruzeiro, começaram a voar cada vez mais próximos de território americano, incluindo a região do Alasca, em missões de treinamento. Há duas semanas, bombardeiros russos foram vistos sobrevoando uma base militar americana pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria. Voaram sobre a base aérea da ilha de Guam, e os pilotos dos dois países “trocaram sorrisos” durante a breve confrontação que tiveram nos céus.



Tal jogo de gato e rato, que era uma ocorrência comum durante a era da Guerra Fria, foi reiniciado depois de um hiato completo de 15 anos, e sua conotação e base estratégica ainda era intrigante e imponderada.



A Rússia reassumiu a patrulha de longa distância com seus bombardeiros e isso mostrou de alguma forma que as relações russo-americanas atingiram o seu nível mais baixo desde o fim da Guerra Fria. Em anos recentes, os laços bilaterais entre essas nações flutuaram entre altos e baixos. Particularmente, na questão de um sistema de defesa anti-mísseis, que envolveu interesses cruciais da Rússia, o presidente Pútin apostou em uma briga de dar o troco com os EUA. No meio de sua viagem aos EUA, ele fez um conjunto de propostas, sendo que o lado americano permaneceu indiferentre a elas.



Na verdade, a Rússia tem muito claras as verdadeiras intenções estratégicas dos EUA em instalar um sistema anti-mísseis na Europa Oriental. E a única coisa que a Rússia pode fazer, entretanto, é tomar medidas práticas de resposta a isso, ignorando as severas críticas que foram feitas em condenação a essa política.



Por essa razão, a Rússia disse abertamente que iria apontar suas armas nuclearas para os lugares onde será sediado o sistema de defesa anti-mísseis na Europa Oriental a partir de 15 de junho. Em julho, o país anunciu a suspensão unilateral de sua participação no Tratado de Forças Convencionais da Europa. Essas medidas em série de conteúdo estratégico tomadas recentemente pela Rússia significam uma forte resposta às imposições estratégicas feitas pelos EUA ao lado russo.



Fora das considerações em relação à situação de segurança interna e externa, a Rússia se preparou para resistir ao cerco estratégico feito pelo Ocidente, e voltar a revitalizar seu poderio militar tornou-se uma opção crucial. De volta ao início deste ano, Pútin assinou um decreto autorizando o plano de modernizar todo o equipamento militar das Forças Armadas russas, a um custo de US$ 200 bilhões, inclusive desenvolver bombardeiros estratégicos de nova geração, novos porta-aviões e aquisição de mísseis estratégicos de nova geração.



A recuperação da economia, com um “momentum” de acumulação, pavimentou o caminho para a Rússia retomar seu poderio militar. Como o segundo produtor de petróleo do planeta, ela agora saboreia uma posição importantíssima no mercado mundial do petróleo. Sua economia tem se reabilitado com rapidez, com as sustentadas elevações do preço do petróleo. Em uma época em que as nações ocidentais estão cada vez mais preocupadas sobre o futuro do suprimento de petróleo, o “cartão de energia” nas mãos da Rússa não só aumentou seu peso em oposição às nações Ocidentais como lhe deu um novo ânimo para modernizar e ampliar sua força militar em todos os sentidos.



No presente, não é difícil para as pessoas sentirem um “chiado” ou “engasgar” nas relações russo-americanas com a Rússia tomando uma postura militar dura. Ainda é muito cedo para concluir que o prefácio de uma “nova guerra fria” foi iniciado. Mesmo assim, é indubitável dizer que confronto e fricção estão cada vez mais em moda. Racionalmente, com o diálogo e as consultas mútuas permanecendo como aspectos principais, é impossível que as relações entre russos e americanos retornem àquelas da Guerra Fria e a situação internacional não pode ser colocada como da mesma maneira que era naquela época.



Por Wang Baofu, vice-diretor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade de Defesa Nacional do Exército Popular de Libertação da China.


Fonte: Diário do Povo Online