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Paulo Nogueira Batista traça cenário sobre a eleição no FMI

Na sexta-feira passada, terminou o prazo para inscrição de candidatos ao posto de diretor-gerente do FMI. Temos dois postulantes. O francês Dominique Strauss-Kahn foi lançado há cerca de dois meses pela União Européia (o único país da UE ainda não comp

Os candidatos têm credenciais fortes. Strauss-Kahn, um dos principais líderes do Partido Socialista Francês, foi ministro das Finanças de 1997 a 1999. Tosovsky foi presidente do banco central por mais de dez anos e exerceu, também, a função de primeiro-ministro do governo tcheco em meio a uma crise política em 1997-98.



Como observou um diretor-executivo sul-americano, é uma situação bastante curiosa: o comando do FMI está sendo disputado por um socialista e um ex-comunista (Tosovsky foi membro do partido comunista da Tchecoslováquia por 14 anos).



O favorito é Strauss-Kahn. Países da União Européia comandam 7 das 24 cadeiras da diretoria executiva. Essas cadeiras detêm 33% do total dos votos. Quando o francês foi lançado, a expectativa era a de que o seu nome contaria com o apoio da cadeira dos EUA, que têm 17% dos votos. A expectativa se baseava, como se sabe, na regra não-escrita, que vigora há mais de 60 anos, de que a presidência do Banco Mundial está reservada a um americano e o comando do Fundo a um europeu.



É bem possível que se confirme a expectativa de apoio americano a Strauss-Kahn. Mas o lançamento de Tosovsky criou uma incerteza. Pela primeira vez desde 1986, há dois candidatos europeus ao cargo. Em 1986, os EUA se abstiveram. Se isso voltar a ocorrer, a UE não poderia, a rigor, queixar-se de que a regra não-escrita não foi respeitada.



Qual é a posição do Brasil e dos demais países representados pelo diretor-executivo brasileiro? O Haiti já indicou a sua preferência por Strauss-Kahn. Os demais aguardam que os candidatos definam as suas plataformas.



Para o Brasil, as questões mais importantes são as seguintes. Primeira: o abandono da regra anacrônica de partilha do comando do Banco Mundial e do FMI entre os EUA e a Europa. Os candidatos assumiriam o compromisso de usar o peso do cargo para lutar pelo abandono da regra não-escrita na sua sucessão?



Segunda: qual o compromisso dos candidatos com uma mudança efetiva na estrutura desigual de distribuição dos votos no Fundo? As cadeiras dos EUA e da União Européia controlam 50% do total. Considerando ainda as cadeiras comandadas por outros países desenvolvidos (Japão, Canadá, Suíça e Austrália), chega-se a um total de 67% dos votos. Uma das nossas prioridades é um aumento significativo do poder de voto do Brasil, do grupo de nove países que a nossa cadeira representa e dos países em desenvolvimento no seu conjunto.



Terceira: o que os candidatos propõem para rever os procedimentos do Fundo e permitir a conciliação dos seus programas de estabilização com o desenvolvimento econômico e social dos países-membros, especialmente os mais pobres?



Os candidatos se encontrarão com os diretores-executivos do Fundo em setembro. Vamos escutar com atenção as propostas e as respostas dos candidatos, consultar os países que representamos e definir o voto à luz dos interesses nacionais desses países.



* Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e diretor-executivo no FMI, cargo no qual representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).


Artigo originalmente publicado na edição desta quinta-feira (6/) da Folha de S.Paulo