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Le Monde: “hackers vermelhos” da China atacam os EUA

Eles têm por nome Red Hackers of China, China Eagle Union, Green Army Corps ou ainda, Honkers Union of China. Desde o final dos anos 1990, esses grupos de jovens hackers (piratas informáticos) chineses tornaram-se exímios praticantes da intrusão informáti

A virulência desses ataques vem preocupando há muito tempo os Estados
Unidos: em agosto de 2006, a revista “Government Computer News” (GCN), uma publicação americana especializada nas tecnologias da informação, dedica um extenso artigo aos ciberataques chineses que vêm sendo desfechados desde o início dos anos 2000 contra o departamento americano da defesa, descritos sob o codinome de Titan Rain. O fenômeno seria um reflexo da tomada de consciência pelo Exército Popular chinês, já faz uma dezena de anos, de que as tecnologias da informação são essenciais em caso de conflito.


 


Defensores da pátria chinesa


 


Os grupos de hackers chineses se apresentam como defensores “da
dignidade e da integridade da pátria chinesa” e fazem parte de um setor nacionalista, amigo do Partido Comunista que cada vez mais conquista nova legitimidade.


 


Para se diferenciar dos simples piratas, esses estudantes, pesquisadores ou jovens profissionais chineses designam a si mesmos pelo termo genérico de “hong-kers” (hong significa 'vermelho' em chinês).


 


“Diferentemente dos nossos homólogos ocidentais, que são individualistas ou anarquistas, os hackers chineses têm motivações políticas”, isso porque “este constitui um meio para eles de protestar em relação às questões internacionais” e que não existe “nenhum meio para fazê-lo de outro modo na China”, explicava numa entrevista concedida ao “South China Morning Post”, em 2005, Tao Wan, um criador da China Eagle Union, um grupo fundado em 2000 – em homenagem, dirá Wan, à sua música predileta, “Hotel Califórnia”, do grupo californiano Eagles.


 


Promoção da segurança informática


 


Em 2002, a iDefense, uma companhia americana especializada na inteligência tecnológica, publica um extenso relatório sobre a organização interna da China Eagle, e elabora uma série de questionamentos relativos aos laços privilegiados que este pode ter com organizações estatais oficiais – uma estratégia, aliás, comparável com aquela das agências americanas que cooptam os seus melhores programadores entre os hackers e os criadores de vírus de toda laia. A iDefense assinala também a existência de um misterioso programa, o Bright Shield (Escudo Brilhante), do qual participam os membros da China Eagle. A descrição bastante ingênua que o grupo faz dela no seu site parece sugerir que se trata de uma iniciativa bem mais estruturada do que ela supostamente deveria ser neste tipo de meio. O relatório da iDefense, que na origem era confidencial, está disponível no site da China Eagle.


 


Atualmente, Tao Wan coloca-se na posição de um veterano de guerra e diz que a organização se dedica essencialmente à “promoção da segurança informática” na China. “A China decretou leis relativas à Internet muito mais estritas em 2002, e nós prometemos então não mais desfechar ataques contra sites estrangeiros. A China ainda se encontra numa fase de aprendizagem, pois todas as tecnologias provêm do exterior no campo da Internet, e, portanto, nós devemos nos dedicar mais à pesquisa”, escreve Wan num e-mail enviado a esta reportagem. Segundo ele, os hackers chineses são pouco inclinados a trabalhar para o governo, uma vez que este “não oferece condições interessantes”, e que eles “têm muito apreço pela sua liberdade”.


 


Os sites dos “hackers vermelhos” permanecem muito ativos. Neles, a retórica nacionalista é sempre amplamente presente, mesmo se em suas páginas os seus autores deixaram de descrever as campanhas conduzidas contra alvos precisos, o que era o caso no início dos anos 2000.


 


Intrusos na Casa Branca


 


No fórum de discussão da China Eagle, pode-se ler até mesmo um documento da Marinha americana, publicado on-line recentemente e que havia sido desviado em 2001. Por sua vez, a Honkers Union of China que, segundo a imprensa oficial, havia encerrado as suas atividades em 2005, continua existindo e o seu fundador, conhecido sob o pseudônimo de Lion, nele postava mensagens ainda no mês de agosto. Já, no site da Red Hackers, pode ser encontrado ao menos um comentário, com data de maio, que comemora uma intrusão bem-sucedida, na véspera, de hackers no site da Casa Branca.


 


Por razões de natureza diplomática, os hackers vermelhos andam se mostrando mais discretos – o que talvez possa explicar por que os Estados Unidos passaram a atribuir diretamente ao Exército Popular da China as intrusões recentes nos servidores informáticos do Pentágono.


 


Tradução: Jean-Yves de Neufville


 


Intertítulos do Vermelho