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Corinthians: escutas da PF complicam dirigentes e jogadores

Um relatório de 72 páginas da Policia Federal, produzido ao longo dos últimos 12 meses com investigações e escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, revela com rigor de detalhes o submundo da parceria Corinthians-MSI. Nele, há diálogos estarrecedores

A Polícia Federal batizou o trabalho de ‘Operação Perestroika’. Os jornalistas Bob Fernandes, de Terra Magazine, e Juca Kfouri, colunista da Folha de S.Paulo, foram os primeiros a ter acesso ao documento.


 


Também não escapou dos grampos da PF acertos de jogadores, como do meia Ricardinho, hoje no Besiktas, da Turquia, com Kia de quantias pagas em contas fora do país — uma conduta de evasão de riquezas e sonegação fiscal. O trabalho da PF só corrobora a série de denúncias feitas pelos Ministérios Públicos Federal e Estadual aos dirigentes corintianos, em especial Alberto Dualib e seu vice Nesi Curi, assim como os investidores da MSI.


 


Num dos diálogos grampeados e revelados por Terra Magazine, Kia e Ricardinho acertam comissão no valor de US$ 1,144 milhão (R$ 2.173,6 milhões — cotação de hoje): “conforme combinaram, o dinheiro vai ser pago hoje, mas acho que só vai ser creditado amanhã, pois está pagando fora do país”. Ricardinho pergunta se será avisado do crédito, e Kia o manda procurar Alexandre Verri, advogado da MSI.


 


Da Turquia, neste sábado, o meia negou tudo ao Jornal da Tarde: “Mais uma vez gostaria de esclarecer que não recebi nenhum centavo da minha negociação com o Corinthians em bancos fora do país. Todos meus vencimentos foram depositados em bancos do Brasil e como não poderia ser diferente, paguei os impostos relativos a essas operações. Reafirmo que estou à disposição das autoridades para esclarecimentos.”


 


A PF relatou ainda que a MSI esteve à frente da contratação do técnico Emerson Leão, fato sempre negado por seus dirigentes, e que pagaria somente R$ 400 mil de salário mensal a ele. A escuta foi gravada dia 14 de agosto de 2006, às 12h16, da então noiva de Kia, a advogada Tatiana Alonso, com quem ele se casou na sexta-feira.


 


Dualib e Paulo Angioni, da MSI, dizem a Tatiana minutos depois que o clube se comprometeria a bancar os outros R$ 100 mil, totalizando R$ 500 mil que Leão queria ganhar no Parque. O técnico ainda pediria R$ 3 milhões de luvas na contratação e o mesmo valor após um ano, além de R$ 1 milhão se levasse o time à Libertadores — dinheiro que o clube foi emprestar na Federação Paulista de Futebol.


 


As escutas da PF também revelam crise conjugal, com veladas ameaças, entre o meia Carlos Alberto, hoje no Werder Bremen, da Alemanha, e sua ex-mulher, Gisele. Ela deixa mensagem no celular do jogador no dia 5 de setembro, às 11h10, dizendo que “vai abrir a boca sobre o depósito do salário que é feito metade aqui (no Brasil) e metade na Suíça”. Gisele diz ter como comprovar todos esses depósitos.


 


Em Londres, Renato Duprat, sem cargo na parceria e no clube, mas de confiança de Dualib, convence o presidente corintiano de que falta pouco para o governo legalizar a entrada no país do magnata russo Boris Berezovski — e com ele os US$ 2 bilhões (R$ 3,8 bilhões) que prometeu investir no Corinthians e no Brasil.


 


Também há revelações menos graves. Kia diz à noiva que Boris acha “Leão um idiota” e o clube, “uma bagunça política”. Tatiana pede a Kia que abandone o Corinthians logo. Já Dualib reclama dos custos de sua estada em Londres, gravação do dia 25 de setembro. Diz que a conta iria ser de “cem paus” — e “cem paus no cartão” o imposto de renda pega.


 


O líder da oposição Andrés Sanchez teve seu nome citado no relatório da PF, em conversa de Dualib e Duprat dia 8 de outubro, às 17h52: “ele (Andrés) está sabendo o que falar na (Polícia) Federal, porque, depois da nota da MSI que desmente a participação de Boris na parceria, ninguém mais pode falar em Boris, o Boris acabou”.


 


Sanchez, segundo o relatório, procura Dualib para saber o que ele e Nesi iriam falar na PF para que ele falasse igual. “Vou falar o que vocês falarem.” Sanchez não foi localizado por sua assessoria para ser ouvido pela Agência Estado, que também deixou recado em seu celular.


 


Duprat, de Londres, diz repetidas vezes a Dualib que o dinheiro vai chegar ao clube. Nunca chega. A turma entra em parafuso ao descobrir que Verri, o advogado da MSI, deu com a língua nos dentes. “Parece que Verri entregou tudo”, diz Duprat a um interlocutor.


 


O presidente do Conselho de Orientação do Corinthians, Antônio Roque Citadini, disse conhecer o trabalho da PF e lamentou pelo Corinthians. “Estabelece uma situação deprimente do clube.”


 


Da Redação, com Agência Estado