Sul-africanos lembram 30 anos do assassinato de Steve Biko
Várias cerimônias foram realizadas nesta quarta-feira (12) na África do Sul para lembrar o 30.º aniversário do assassinato do ativista anti-apartheid Steve Biko, que morreu em 12 de setembro de 1977 em conseqüência dos ferimentos causados por tortura prat
Publicado 12/09/2007 14:30
Bantu Steve Biko morreu em consequência de bárbaras torturas da polícia sul africana, do regime de apartheid. Biko, de 30 anos, era um ativista negro, lutador contra o apartheid, dirigente estudantil e fundador do Movimento Consciência Negra.
Biko, que dizia que “a arma mais poderosa nas mãos do opressor é a mente do oprimido”, foi um defensor dos negros e da sua independência, contra os liberais brancos, na luta contra o apartheid na África do Sul.
O ex-presidente do país, Nelson Mandela em 1997, no elogio a Steve Biko, afirmou: “Um dos grandes legados da luta que Biko travou — e pela qual morreu — foi a explosão do orgulho entre as vítimas do apartheid”.
A morte de Biko foi amplamente denunciada, elevando o combate ao regime do apartheid na África do Sul. Bantu Steve Biko nasceu na cidade de King William em 18 de dezembro de 1946.
Estudou medicina na Universidade de Natal e tornou-se um líder estudantil. Em 1968, com outros companheiros de luta fundou a SASO ( South African Students' Organisation – Organização dos Estudantes Sul Africanos) rompendo com a NUSAS (National Union of South African Students – União Nacional dos Estudantes Sul Africanos), defendendo uma intervenção mais radical e criticando o predomínio e orientação dos liberais brancos na NUSAS.
Biko, que foi o primeiro presidente da SASO, pretendia com esta organização desenvolver a participação dos negros, elevar o seu orgulho e atuar independentemente dos brancos. Para a SASO escreveu diversos documentos com o pseudônimo de Frank Talk.
Biko foi um dos fundadores do Movimento Consciência Negra, defendendo que a luta dos negros era a força principal na luta contra o apartheid, a sua organização e mobilização, combatendo a dependência dos negros em relação aos liberais brancos.
Em 1972 fundou a Convenção do Povo Negro (Black People's Convention) e foi eleito seu presidente honorário. Também em 72 foi expulso da Universidade e passou a trabalhar em programas para a comunidade negra (Black Community Programs – BCP), participando na construção de clínicas, creches e no apoio aos trabalhadores negros.
Em março de 1973 foi banido e proibido de sair da cidade de King William. Banido significava que não podia comunicar com mais de uma pessoa de cada vez, desde que não fosse da sua família, e não podia publicar nada, tal como os seus escritos anteriores não podiam ser divulgados ou citados. Apesar disso, dirigiu o BCP na sua cidade, sendo posteriormente proibido de ter quaisquer ligações com os programas da comunidade negra.
Mesmo com a repressão de que era vítima, Biko criou em 1975 um fundo de apoio aos presos políticos e às suas famílias. As organizações que criou e apoiou, nomeadamente as organizações estudantis, tiveram um papel decisivo nos levantes do bairro de Soweto, em 1976.
Biko foi perseguido e preso por diversas vezes. Em 18 de agosto de 1977 foi preso juntamente com o seu companheiro Peter Cyril Jones, acusados de desobediência às leis do apartheid. Biko foi barbaramente agredido e torturado numa prisão em Port Elizabeth, o que lhe provocou uma hemorragia cerebral. Em 11 de setembro foi transportado para a prisão central de Pretória, na qual veio a falecer em 12 de setembro.
O governo do apartheid primeiro alegou que Biko havia morrido devido a uma greve de fome, depois, diante da visível gravidade das lesões na cabeça, disseram que teria tentado o suicídio, batendo com a cabeça.
A Comissão de Verdade e Reconciliação criada após o fim do apartheid, não perdoou aos seus assassinos. Mas, em outubro de 2003, o Ministério Público da África do Sul anunciou que os cinco polícias acusados do crime não seriam processados por falta de provas, devido a não existência de testemunhas que provassem a acusação e considerando ainda que a possibilidade de acusação pelo crime de lesões corporais já tinha caducado.