Maia, Garotinho e Heloísa: do beijo da morte à quadrilha
Por André Cintra
Dance, Rio de Janeiro. Numa semana, o DEM de Cesar Maia e o PMDB do casal Garotinho dão as mãos e prometem bailar juntos nas eleições de 2008 e 2010. Agora, o prefeito do Rio também chama Heloísa Helena, do PSOL, ao salão. A troca de p
Publicado 15/09/2007 14:16
Como se revelou, o pacto PMDB-DEM tem objetivos eleitorais bem delineados. No pleito municipal do próximo ano, os Democratas despejam seus votos em candidatos peemedebistas em todo o estado, enquanto o PMDB apóia na capital um nome indicado por Cesar Maia. Em 2010, os dois partidos voltam a se coligar — Maia disputa uma vaga ao Senado com o aval do PMDB, que, em troca, tem o direito de definir o candidato a governador da dobrada.
A aliança põe na mesma nau dois inimigos. No segundo turno das eleições 2006, quando o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, posou para fotos com o casal Garotinho, ninguém estertorou mais que Cesar Maia. Em seu Ex-Blog (boletim eletrônico diário), o prefeito do Rio foi para o ataque: “Garotinho deu em Alckmin o beijo da morte”.
Convicto do desgaste que o peemedebista passava à época, Maia ainda desafiou o tucano a “aparecer no calçadão de Copacabana no domingo, ao lado de Garotinho. Recomenda-se capacete de aço”. Acusou os estrategistas da campanha Alckmin de fazer política “apenas com equações de primeiro grau”. Sobre as fotos do segundo turno, ironizou: “Só pode ter sido decisão tomada pela comissão das meninas do colégio de freiras de Pindamonhangaba”.
De qual colégio de freiras teria saído a decisão de aliar PMDB-DEM? Cabe também dar a Cesar (Maia) o que é de Cesar (Maia): seria ele capaz de andar por qualquer dos calçadões cariocas — nem precisa ser num domingo — de braços dados com Garotinho?
Ética
Com muita ira, Maia disse, no último segundo turno, que a atabalhoada foto de Alckmin com o casal Garotinho encerrava “a força do discurso ético da candidatura de Alckmin no cidade do Rio de Janeiro”. O Ex-Blog até lembrava os escândalos nos governos do casal: “propinoduto, ongoduto, máfia dos combustíveis, Loterj com Waldomiro Diniz, Fundo de Pensão da Cedae,… e por aí vai”.
Garotinho reagiu às declarações de Cesar Maia. Entrevistado pelo site Conversa Afiada, partiu para o revide: “Quem me acusa não consegue explicar como é que comprou o apartamento de cobertura onde ele mora. O prefeito do Rio de Janeiro mora numa cobertura avaliada em US$ 1 milhão, de frente para o mar, no bairro mais caro do Rio de Janeiro. Com salário de prefeito ele não conseguiria comprar. Isso é ética?”.
Na campanha de 2004 para a Prefeitura do Rio, “sem alma”, “sem coração” e “cara de pau” foram algumas das expressões usadas por Garotinho contra Maia. Três anos depois, as divergências histórias e a troca de farpas são minimizadas pelo prefeito do Rio — que defenestrou Alckmin e, mesmo assim, tem uma justificativa na ponta da língua para abraçar Garotinho: “Nós mantemos nossas diferenças, mas colocamos o interesse público à frente”. Ah, tá.
Heloísa Helena, apoiada por Garotinho e paparicada por Maia no primeiro turno das últimas eleições presidenciais, também está no páreo. Teve boa votação no Rio em 2006, chegando a aspirar posteriormente, a uma candidatura a prefeita carioca. Na sexta-feira, em nota para seu boletim eletrônico intitulada “Entre para o MNHHPM!”, Cesar Maia volta a seduzir a presidente do PSOL e anuncia uma pré-aliança — mas longe do Rio, claro: “Este Ex-Blog se soma ao Movimento Nacional Heloisa Helena Prefeita de Maceió!”.
No Congresso Nacional, a oposição desbragada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva já fundia os discursos de PSOL e DEM. Só faltava a música, um bailinho, para os dois partidos perderem a timidez e dançarem de rosto colado, beijando a morte. O convite está feito.